Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, ano marcado por medidas de isolamento social e restrição na circulação de pessoas, o Brasil contabilizou 82 casos de trabalho escravo, de Norte a Sul do país. Em diferentes atividades econômicas, 809 trabalhadores foram escravizados. O que sucedeu no pós-pandemia? A pesquisa do Escravo, nem pensar!, programa educacional da Repórter Brasil, apresenta dados inéditos que revelam o cenário crítico dos últimos três anos1. A quantidade de casos aumentou significativamente. A partir de 2021, o número de registros de trabalho escravo quebra recordes anuais. Foram 800 propriedades flagradas em todo o Brasil entre aquele ano e 2023, o que representa 24% dos casos de toda a série histórica, iniciada em 1995. 7.983 trabalhadores foram vítimas dessa grave violação no período. Isso corresponde a 13% do total dos mais de 63 mil trabalhadores resgatados de toda série histórica.
Esse cenário se deve a dois motivos. Por um lado, a população em situação de vulnerabilidade socioeconômica cresceu. O aumento da fome e da pobreza forçou muitos trabalhadores e trabalhadoras a se submeterem a condições cada vez mais precarizadas de trabalho. Por outro, houve também o aumento das ações de fiscalização por agentes em nível local em todo o Brasil, o que deu mais capilaridade à política de resgate de trabalhadores. Isso vem sendo observado desde o fim da década de 2010. Estados como Minas Gerais, São Paulo e Bahia lideram os registros após a pandemia (2021-2023). O cenário é parcialmente distinto da série histórica (1995-2023), em que Pará, Minas Gerais e Maranhão, respectivamente, encabeçam a lista de casos de trabalho escravo no Brasil. A pecuária se mantém como a principal atividade empregadora de trabalho escravo e o trabalho doméstico passa a figurar como a segunda principal atividade econômica a partir do período pós-pandemia