Está no ar o primeiro episódio do programa Vozes da Saúde, produzido pela Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo e pelo Sinsaúde Campinas. A entrevista de estreia é com o presidente da Federação, Edison Láercio de Oliveira.
Dirigente máximo de uma entidade que representa cerca de 700 mil trabalhadores no Estado, ele aborda questões como depressão, suicídio, formas de tratar e de combater os males da saúde mental, que tanto afetam à categoria. Pode ser assistido pelo You Tube (link abaixo).
O programa é apresentado pelo jornalista Sirlene Nogueira, e se propões a ser um espaço de entrevistas para o setor da saúde e para quem precisa estar informado sobre o assunto. “... é dedicado a dar voz aos trabalhadores da saúde, abordando temas essenciais sobre a vida profissional, desafios do setor, e conquistas sindicais”.
Edison escreveu recentemente um artigo sobre o tema (https://www.sindsaudejau.com.br/manchete_ver.php?id=6494 ). O sindicalista explica que o dia a dia no contato com a categoria o levou a escolher o assunto, uma vez que recebe com frequência relatos sobre suicídio de profissionais da saúde.
Sobrecarga e estresse
Edison Oliveira fala na entrevista o motivo de a categoria ser tão vulnerável: sobrecarga de trabalho, falta de incentivo financeiro e profissional, condições de trabalho ruins... “Isso leva o trabalhador ao desespero, porque não consegue assistir a todos os pacientes, muitas vezes nãoo consegue fazer isso. Isso vai somatizando e chega uma hora em que a gente não aguenta mais, chegando ao ápice, que é se suicidar.”
Setembro Amarelo
Em relação ao mês Setembro Amarelo, quando se fala muito em conscientizar-se sobre depressão e dizer não ao suicídio, o presidente da Federação entende ser correto falar sobre isso o ano todo. “Deveria ser um assunto corriqueiro”, segundo ele, tanto do poder público como dos sindicatos.
Para Edison, quando se fala em criar políticas públicas para o trabalhador quase sempre vem a desculpa de que faltam recursos financeiros. Por isso, defende que os grandes grupos da saúde deveriam reservar parte do lucro para reverter no tratamento dos profissionais da saúde.
Medo pós-pandemia
Acostumado a ir às bases e ouvir o trabalhador, Edison Oliveira disse que a pandemia afetou e piorou a saúde mental da categoria. “Não teve mudanças positivas. O que ocorreu é que aumentou o medo, por estar dentro de uma instituição e a qualquer momento passar por nova pandemia oiu ter a continuidade dessa da covid.”
Outras doenças também trazem medo à categoria, algumas até então erradicadas estão de volta. Isso atrai menos pessoas para a categoria. Diz que o déficit de profissionais é de 22%. “Falta mão de obra no setor... Vamos ter de trabalhar por um por um , por dois ou por três sem ter reconhecimento”.
Medo de pedir ajuda
Ele falou sobre a falta de suporte nos hospitais ao trabalhador, mas mesmo onde ocorre algum apoio psicológico o profissional tem medo de buscar ajuda. “É o medo da exposição.” Infelizmente, diz o dirigente, o trabalhador pensa que não pode fraquejar, não pode dizer que está doente, tem de cuidar de outras pessoas que têm doenças visíveis.. A dele não é visível. Só ele sente. Apesar de ser achar infalível, o trabalhador tem uma fragilidade e medo de ser demitido.
Tudo isso causa muita pressão, essa cobrança vai para casa, que tem outros problemas... Tudo isso somado impede o trabalhador de se tratar. “Isso é ruim. Temos de dizer sempre aos nossos profissionais que se cuidem. Estando bem cuidados podem cuidar melhor dos pacientes.”
Longe da luta sindical
Muitos aspectos pesam sobre o trabalhador da saúde e, quando ocorre a somatória de tudo e o pouco suporte para lidar com isso, o trabalhador não se envolve com a luta sindical, não participa das discussões, fica preocupado em trabalhar num lugar ou no outro e não encontra tempo nem para si mesmo e nem para lutar por melhorias na profissão.
O presidente da Federação lembra que a jornada de trabalho atual, de 36 horas semanais na maioria dos estabelecimentos, não veio por acaso. Veio no passado, quando se lutava para acabar com jornadas diárias de 15, 18 horas. Era para dar mais qualidade de vida ao trabalhador. “Hoje, estamos trabalhando de novo 18 horas por dia, só que em dois ou três empregos. Não é possível isso, mas por que fazemos? Para poder ter mais renda para manter nossa família”
Juventude depressiva
A juventude da saúde, hoje, “encontrou tudo pronto”, não luta pela categoria, não se envolve, mas é quem mais tem depressão e comete suicídio. As causas seriam essa falta do convívio com colegas, da conversa com o sindicato sobre o que ocorre nos hospitais, a jornada em dois ou três lugares diferentes.
Suporte presencial ou on-line – “Estamos buscando entender o momento e dizer que estamos aqui, queremos ajudar, somos parte dessa situação”, explica o presidente da Federação.
O projeto do Instituto de Saúde Integrado está à disposição da categoria, dando suportes psicológico e sobre questões do trabalho tanto de forma presencial como on-line. “Queremos que o trabalhador da saúde se cuide e busque a entidade sindical para ampará--lo.”
VOZES DA SAÚDE
https://youtu.be/-yG-lbar4fc?si=vaZ_qO-loMNYybBt