*Édison Laércio de Oliveira
Falar do sofrimento humano não é uma tarefa fácil. Mas é uma tarefa importante que não pode ser relegada a um segundo plano. Tanto o suicídio como a depressão são doenças complexas que trazem muita dor para as pessoas acometidas e também para familiares e amigos, principalmente por não saberem como lidar com estas manifestações. O Setembro Amarelo traz à luz a problemática da depressão e do suicídio e a falta de políticas públicas que contribuam para a diminuição desse fenômeno no Brasil.
Representamos uma categoria com um dos índices mais altos de depressão e suicídio, os trabalhadores da saúde. Infelizmente devo reconhecer que na minha vasta experiência no mundo sindical, poucas foram as ações efetivas que vi em favor da prevenção a este mal que, além das dores causadas ao próprio indivíduo, traz grandes prejuízos ao sistema produtivo, fato que deveria ser estimulador de boas práticas empresariais visando a saúde mental dos trabalhadores.
O certo é que as notícias que circulam sobre o fato são cada vez mais recorrentes e podemos afirmar que houve grande crescimento desde o início da pandemia por COVID-19, em 11 de março de 2020. Mas faltam dados concretos.
Em estudo publicado pelo SindSaúde Brasília, a terapeuta familiar hospitalar com especialização em terapia cognitivo-comportamental, Sheyla Matos, aponta que os profissionais de saúde, particularmente os da enfermagem, estão em maior risco de desenvolver transtornos psicológicos e enfrentar o perigo do suicídio. Em sua opinião, isso ocorre porque “eles lidam diariamente com o sofrimento humano, dor, tristeza e morte, enquanto também prestam auxílio aos necessitados. Os altos índices de depressão contrastam com o papel de cuidadores esperado desses profissionais, que, no entanto, também precisam de apoio”.
São poucas as unidades hospitalares que oferecem apoio psicológico para seus colaboradores. Por outro lado, o baixo índice de procura pelo serviço leva a conclusão que a vergonha pela exposição, aliada a necessidade de trabalhar para sustento familiar calam os profissionais necessitados de ajuda. Trabalhadores da saúde de todos os níveis precisam de preparo e suporte para trabalhar com o sofrimento humano, sofrimento esse que muitas vezes se conecta com a história individual de cada um.
Sabe-se que o suicídio é resultado de muitos fatores. Na esfera profissional vemos a grande insatisfação com as condições salariais, a sobrecarga de trabalho, além do peso da responsabilidade. Na vida pessoal, eles somatizam sensações como de abandono, medo, solidão, culpa, instabilidade emocional e disfunções familiares.
É preciso iniciativas urgentes para fazer frente a essa triste realidade. A diretoria da Federação Paulista da Saúde tem buscado fazer sua parte. Em parceria com o ISI – Instituto de Saúde Integrada e a Faculdade Sofia (ISI-Sofia), oferece atendimentos psicológico e psicanalítico para funcionários, associados e dependentes dos sindicatos filiados no estado de São Paulo. O atendimento pode ser feito de forma presencial ou on-line pela Clínica de Atendimento do Trabalhador da Saúde, cuja sede fica em Campinas.
Mas esse é só um paliativo, pois devemos cobrar das autoridades públicas e do setor empresarial medidas mais efetivas que possam senão acabar, ao menos minimizar esse paradoxo e também a dor daqueles que dedicam as suas vidas e contribuem para a saúde da população.
*Édison Laércio de Oliveira é presidente da Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo, a Federação Paulista da Saúde