Presidente Edna Alves e diretora Sofia Borges participam da segunda rodada do Curso de Formação Sindical: mais trabalho de base para politizar categoria e mostrar que luta de classes continua
O Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Jaú e Região está na sede da UGT, em São Paulo, marcando presença no Curso de Formação Política e Sindical promovido pela central sindical. A primeira etapa do curso ocorreu em agosto. Desta vez, são dois dias de debates – de hoje até quinta-feira. A comunicação sindical também será debatida.
O objetivo do encontro é que sindicalistas de todo o país apresentem casos de sucesso nas bases, cláusulas inclusivas nas convenções coletivas e troquem experiências que possam a ajudar o movimento a atrair de volta o trabalhador para as entidades.
O entendimento geral é que a conjuntura melhorou, por isso é preciso conquistar os trabalhadores que nos últimos tempos foram levados a crer que os sindicatos não são necessários. Apesar de um cenário melhor do que entre 2016 e 2022 (reforma trabalhista, previdenciária, fim de direitos, caçada aos sindicatos...), a condição é complicada, principalmente de um congresso que atua em benefício próprio e em prol da classe patronal.
PRESENCIAL E ON-LINE – A reunião conta com a presença in-loco da presidente Edna Alves e da diretora Sofia Borges. Pela UGT está conduzindo os trabalhos a vice-presidente Cleonice Caetano. A mesa foi composta pela própria Edna, pelo DIEESE (Fabiana). A primeira palestra foi do jornalista Miro Borges, que falou sobre a conjuntura.
CENÁRIO E CONJUNTURA
Na palestra no Curso de Formação Política e Sindical da UGT, o o jornalista, escritor e blogueiro Altamiro Borges (Miro), presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, deu ideias para os sindicalistas. Ele falou sobre conjuntura, que é a situação que estamos vivendo. A análise da conjuntura tem vários aspectos: econômico, ambiental e outras.
Para analisar, é preciso partir dos fatos atuais. Numa reunião do Banco Central que aumente os juros, isso impacta na vida do trabalhador e no movimento sindical. Fatos concretos impactam o que cada sindicato faz. A eleição em dezembro vai impactar. Imagine ganhar candidatos da extrema direita.
PLANEJAMENTO - Além dos fatos é preciso contextualizar, ver as tendências, a base de atuação. Quais seriam as tendências do cenário? Assim, é possível planejar estratégias e não ficar apenas correndo atrás para corrigir. O movimento sindical fica, geralmente, correndo atrás do umbigo, dos prejuízos. “Não analisa a conjuntura e não planeja”.
Do ponto de vista da luta dos trabalhadores, a conjuntura é mais favorável, comparando com 2016 com o golpe contra a presidente Dilma, com a Reforma Trabalhista de 2017 (deforma, aliás, atacando direitos, amordaçaram a justiça do trabalho e asfixiaram o movimento sindical).
De R$ 2 bilhões de arrecadação caiu para R$ 300 milhões. Um baque, um golpe contra tudo isso e contra as lutas sociais do país, que sempre ajudaram nas lutas de estudantes, de movimentos pela terra e outros. “Uma patifaria”.
“Desde então vivemos um período de trevas”, disse ele, incluindo o governo do Bolsonaro, que não conversava com o movimento sindical. Disse que não foi fácil, muitas campanhas contra o trabalho de base dos sindicatos, que passaram a ver o sindicato como algo ruim.
‘BOIADA’ NÃO PASSA - Hoje não temos um governo inimigo da luta sindical, pelo contrário, vem dos sindicatos, negocia com os sindicatos, criou comissões ministeriais para discutir trabalhos, salário mínimo, negociações coletivas. “Estamos respirando. É um governo que não deixa passar a boiada contra os direitos dos trabalhadores. Tem alguma resistência.”
´’É mais favorável ao movimento sindical para manter benefícios e evitar retrocessos”, mas as condições no mundo não são favoráveis, são complicadas. A situação no país é complicada ainda, mesmo com melhora da economia. Ações do governo, como valorização do salário mínimo e outras, mexem com a economia, o comércio, as indústrias, o emprego....
Projetos em prol do trabalhador quando vão para o Congresso não prosperam. Morrem. São poucos sindicalistas no Congresso. Entre 513 deputados temos 32 ligados aos trabalhadores. Realidade ruim num cenário melhor. O contexto é muito adverso, por isso precisa ter os pés no chão. São muitos os desafios no movimento sindical.
DESAFIOS - Sem receita, como construir saídas? Os grandes desafios seriam três. Um deles, no debate de ideias na sociedade, derrotar a ultradireita. Não pode se esconder do trabalhador e mostrar que não dá para um trabalhador votar em quem é da extrema direita. “Você não pode votar em quem vai te ferrar, em quem quer retirar direitos dos trabalhadores... “
Segundo grande desafio: torcer para o governo Lula tiver êxito. Se esse governo afundar, o que volta é a extrema direita que joga cadeira no trabalhador. Vai vir para negar as leis, negar direitos e tudo mais. O movimento sindical precisa pressionar para cobrar avanços. Em todas as áreas, nos conselhos, para que promessas sejam alcançadas.
O terceiro é como o sindicato vai aproveitar esse momento para retomar a luta dos trabalhadores – os ataques dos últimos tempos fizeram os sindicatos perderem muito: renda, sindicalizados, direitos... Há uma baixa sindicalização geral – 8% apenas. Tem de aumentar isso, ganhar fôlego, musculatura e fazer campanhas de sindicalização.
É preciso politizar a base, não partidarizar. Não basta discutir a questão econômica, índices de reajustes.... é preciso mudar a relação de forças entre as classes, fortalecer e se relacionar com os movimentos sociais. E aprender a situação do mercado de trabalho, muito feminino e jovem. Acolher essa característica do mercado de trabalho.
Tem de buscar renovação, saber falar com essa juventude que está no mercado, comunicar de forma adequada. Buscar a reciclagem dos diretores antigos, que não podem achar que sabem de tudo. “Essas são algumas pistas, mas quem vai ter de construir as estratégias são os próprios sindicatos.”