A Sessão Solene da ALESP deste ano em homenagem aos trabalhadores da saúde foi realizada num momento em que a categoria celebra a Lei do Piso Nacional da enfermagem ao mesmo tempo em que teme pelo não recebimento dos valores previstos. Foi realizada no dia 19 de maio no plenário principal da Assembleia Legislativa, em São Paulo, e contou com centenas de profissionais da categoria. Quinze foram homenageados, um deles morto em 2021 vítima da covid.
Discursos de valorização da enfermagem foram feitos pelos deputados presentes – Rafael Silva (estadual) e Ricardo Silva (federal) – e pelos dirigentes de centrais. Ricardo Patah falou pela UTG Brasil e Amauri Mortágua pela UGT-SP. No plenário e na plateia estiveram dirigentes sindicais e trabalhadores da saúde – os 15 homenageados em nome de todos estão no fim da reportagem.
O discurso mais incisivo na Sessão Solene, no entanto, foi do presidente da Federação Paulista da Saúde, Edison Laércio de Oliveira, que alertou sobre a decisão do STF que coloca em risco o pagamento do Piso Nacional. Ele também rendeu homenagem ao trabalhador da saúde morto em plena campanha salarial de 2021, vítima da covid: Paulo Sérgio Pereira da Silva. A esposa dele também morreu. Na sessão solene estiveram os filhos do casal
MORTO NA LUTA – O sindicalista Paulo Sérgio Pereira da Silva era dirigente do Sinsaúde Campinas e morreu em 2021 depois de ser infectado pelo coronavirus quando tentava mobilizar a categoria na campanha salarial. O presidente Edison Oliveira disse que Paulo foi um entre os centenas de profissionais da saúde que morreram na pandemia sem a devida proteção.
Como os demais integrantes da saúde, ele também cuidava dos outros, mas acabou não se cuidando de si mesmo. Continuou na luta até morrer. Infelizmente também perdeu a esposa, vítima da mesma doença. Deixaram os filhos que, neste dia 19 de maio, receberam a homenagem em nome do pai. “São todos vítimas da pandemia, quem se foi e quem ficou”, lamentou o presidente da Federação.
TRABALHADOR MERECE PISO - Fazendo menção às “palmas” da sociedade aos trabalhadores da saúde durante a pandemia, Edison Oliveira conclamou a sociedade para não aplaudir mais ninguém. “Isso não nos leva a nada, não traz o nosso sustento, não nos garante saúde, lazer... leva sim a doença, como levou ao Paulo e as centenas de trabalhadores que morreram e deixaram seus lares desguarnecidos.”
A tônica do discurso foi de que “palma não enche barriga” e que o trabalhador da saúde precisa de remuneração justa, coisa que a classe patronal se nega. “Se esperar esse reconhecimento da classe patronal não vamos ter jamais. Temos uma divisão muito clara entre capital e trabalho”, comentou Edison Oliveira, condenando o discurso patronal de falar em filantropia para se opor ao piso.
“Quem fez o voto de filantropo não foram os trabalhadores, foram estes que estão à frente da gestão de santas casas falidas. O setor privado, por sua vez, ganancioso e que busca lucros absurdos sem reverter para os trabalhadores, reclama que está tendo prejuízo”, aponta Edison Oliveira ao comentar decisão do STF que retirou por meio de um despacho aquilo que o trabalhador conquistou no Congresso.
GANHAMOS MAS NÃO LEVAMOS - “O Congresso nos deu aquilo que há muito tempo devia à classe trabalhadora: o piso envolvendo a enfermagem. Tivemos esse piso talvez por causa da pandemia e pelo medo do Congresso e dos demais membros da sociedade de não terem alguém para socorrrê-los, de não ter alguém na sua cabeceira para cuidar na hora da doença.”
O sindicalista condenou a interferência do STF na lei aprovada pelos eleitos pelo povo. Interferência essa para dizer que os empregadores não têm como pagar o piso e cumprir a lei. “Até quando vamos aguentar essa interferência dos poderes?”
Ele questiona ainda ao argumento do STF de que será preciso negociar com o setor privado para garantir o piso nacional e evitar demissões. “No ano de 2022, dados do DIEESE, pediram demissão dos hospitais 45% dos trabalhadores. Foram demitidos 16%. Então estamos indo embora dos hospitais.”
TRABALHADORES HOMENAGEADOS - Benedita Aparecida Felix Dourado, auxiliar de enfermagem (Espírito Santo do Pinhal); Graziele Maia Munhoz, auxiliar de enfermagem (Tupã); Angela Maria dos Santos Santi, setor de apoio Hospital São Francisco (Americana); Paulo Sérgio Pereira da Silva (in memoriam), diretor Sinsaúde (Campinas), faleceu por Covid em 2021; Sofia Borges, atendente de enfermagem aposentada (Jaú); Herbert Caetano de Souza, assistente contábil (Araçatuba); Silvia Aparecida da Silva Ferreira, auxiliar de enfermagem (Franca); Debora Cristina Trevizan, auxiliar e técnica de enfermagem (Vargem Grande do Sul); Ana Lucia Barbosa Nogueira de Sá, auxiliar de enfermagem (Presidente Venceslau); Inês dos Santos, telefonista (Descalvado); Janete Elias, técnica de enfermagem (Santos); Antonio Carlos de Oliveira, coordenador administrativo (Fernandópolis); Adenilson Medeiros, atendente administrativo (Sorocaba); Sergio Cleto, enfermeiro (São Paulo); Marly Alves Coelho, auxiliar de enfermagem aposentada e diretora do Sinsaúde (Piracicaba).