A agente de organização escolar, Rosana Aparecida da Silva, de 56 anos, completa uma trajetória de 28 anos de sindicalismo em 2022.
Como secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP e dirigente do Sindicato dos Funcionários e Servidores da Educação de São Paulo (Afuse), sua primeira greve foi em 1994.
“Foi a primeira vez que participei ativamente da campanha salarial e conseguimos unificar toda a categoria. Era um mar de pessoas marchando do vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo) até a República”, lembra, ao falar dos protestos na capital paulista.
Pouco antes de ingressar no sindicalismo, no entanto, iniciou sua militância no movimento negro, em 1992, por ocasião das atividades do dia 8 de março, na cidade de Santo André (SP), onde nasceu e mora até hoje.
Rosana se recorda com precisão dessa data. “A mulheres se reuniam em uma sala temática sobre a questão de gênero e raça. Sentiram a necessidade da continuidade das reuniões formativas”, relata.
Isso resultou na criação da “Negra Sim - Movimento de Mulheres Negras de Santo André”, entidade que mantém sua trajetória de luta até os dias atuais. Entre os objetivos da organização está o empoderamento das mulheres negras, que sofrem variadas formas de agressão no Brasil.
Como sindicalista e militante de organizações ligadas aos movimentos negro e de mulheres, Rosana carrega vasta bagagem na defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Confira a entrevista feita com a dirigente para o portal da CUT-SP.
CUT-SP: Quais desafios, como mulher negra, você enfrentou dentro do mundo do trabalho e no sindicalismo?
Existe uma pirâmide de desigualdades em todos os setores da sociedade e as mulheres negras são as mais atingidas. O mundo do trabalho é um desses setores, onde temos que provar o tempo todo que somos capazes de receber uma promoção de cargos. No sindicalismo, enfrentei e enfrento o machismo e a falta de muitos entenderem que a paixão antirracista não é só dos negros e negras e que a pauta racial tem que ser ação permanente e transversal.
Como você avalia os anos de governo Bolsonaro?
Os últimos quatro anos desse governo trouxe à tona toda forma de racismo e de preconceito. A violência aumentou principalmente contra a população negra. O caso do assassinato da vereadora Marielle Franco, morta junto com seu motorista, é emblemático. E tantas outras mortes nas periferias, um genocídio diário de nosso povo.
Inclusive a morte do menino Miguel Otávio, filho de uma empregada doméstica, que morreu ao cair de um prédio de luxo no Recife, enquanto estava aos cuidados da patroa, branca, expressa muitas coisas sobre o nosso país. A precarização do trabalho é uma delas, já que são inúmeros os episódios de dificuldade das mulheres negras. O garoto só tinha 5 anos de idade e estava acompanhado a sua mãe, Mirtes Renata de Souza, no apartamento dos patrões, porque as creches em Recife estavam fechadas por conta da pandemia de covid-19.
Cadê o apoio do governo federal no momento de crise, onde estão as políticas públicas? O governo federal não fez nada para a classe trabalhadora, além de ser negacionista da vacina e do uso de máscaras. Sem falar dos pronunciamentos racistas que Bolsonaro fez contra os negros e negras sem o menor pudor.
Existe esperança no governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva?
Temos a certeza de um governo voltado para o povo brasileiro diverso. Que se compromete com o fortalecimento de políticas educacionais e de saúde e com a retomada da economia e de políticas públicas voltadas ao povo preto e periférico. Teremos ainda a representação de negros e negras nesse governo, além do fato de termos um presidente preocupado com as nossas pautas e que não persegue sindicatos e sindicalistas que lutam por democracia e direitos trabalhistas e sociais.
Quais caminhos possíveis para superação do racismo no Brasil?
Sonhamos com um mundo sem racismo, justo e igualitário, mas sabemos que essa realidade está distante. Precisamos garantir políticas públicas mais efetivas e permanentes de combate ao racismo, ampliar o ensino da história e cultura afro-brasileira e ter mais negros e negras nos cargos de chefias, nos meios de comunicação. É urgente a promoção de ações afirmativas de inclusão dos jovens da periferia nos locais de trabalho com a garantia de planos de carreira, salários e condições dignas.
Fonte: Vanessa Ramos, da CUT-SP / Foto: Dino Santos/ CUT-SP - 23/11/2022