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Mulheres dominam área da saúde e ganham espaço em outras


08/03/2022

Elas têm 69% das matrículas nos cursos da saúde e estão mais presentes em ramos onde os homens predominavam, como nas agrárias, engenharias e informática

Mulheres representam quase 69% nos cursos da área da saúde e bem-estar (Foto: Ector Gervasoni)

 

As mulheres ainda não são a maioria no mercado de trabalho, mas elas representam a maior parcela de profissionais graduados. Ou seja, elas buscam mais qualificação que os homens. Essa informação foi trazida no último Censo da Educação Superior divulgado pelo Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Realidade constatada há anos na Unoeste, universidade onde o público feminino ultrapassa os 60% das matrículas. Contudo, algumas áreas são mais escolhidas por elas, como é o caso da saúde e bem-estar com quase 69% de alunas. Por outro lado, cursos das ciências exatas, por exemplo, ainda são predominantemente masculinos, mas as meninas estão cada vez mais inseridas neles.

Conforme a pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no grupo de 25 a 34 anos, 25,1% das mulheres tinham nível superior, enquanto os homens representavam 18,3%. Já na faixa entre 35 e 44 anos, as taxas são de 24,4% e 17,3%, respectivamente. Já entre 55 e 64 anos, os índices se aproximam: 15,5% e 13%, respectivamente. Nesta última faixa etária a distância menor pode ser reflexo de uma situação bastante diferente do passado, quando os homens tinham maior acesso ao ensino superior.

Na Unoeste, as mulheres têm representatividade expressiva nas matrículas, bem como no corpo docente e administrativo. Para se ter ideia, a maioria dos cursos de graduação é coordenado por elas. Por sinal, a gestão feminina é uma marca da universidade desde o seu início, em 1972. A professora Ana Cardoso Maia de Oliveira Lima, uma das fundadoras da Unoeste, esteve à frente da instituição até 2015 em cargos importantes, o último de Reitora, hoje ocupado por sua filha Ana Cristina de Oliveira Lima. Por coincidência, na semana dedicada a elas, a matriarca da família comemora 92 anos, no dia 13 de março. Dona Ana tornou-se símbolo feminino de luta e dedicação à educação.

Preferências femininas

Quando o assunto é área do conhecimento, as matrículas por gênero mostram diferença. Saúde e bem-estar se destacam com quase 69% de mulheres, enquanto a Faculdade de Informática (Fipp) reúne um pouco mais do que 13%, e as engenharias quase 30%. Apesar de os números parecerem baixos, acredite, já tiveram uma grande evolução.  Então, nesta semana especial, a instituição apresenta diferentes histórias, mas que compartilham algo em comum: o amor pela escolha que fizeram e a certeza de que a mulher pode estar onde ela quiser!

Futura engenheira civil

“Obra não é lugar para mulher!”. Foi exatamente isso que a Maria Carolina Duarte Christofolli, de 20 anos, ouviu de um profissional em seu primeiro estágio. Mas a afirmação equivocada só a fortaleceu para encontrar o seu lugar: a obra. Aluna do 7º termo de Engenharia Civil, ela conta que desde pequena sempre gostou de desenhar casas e montar prédios com o brinquedo estilo Lego que ganhou do seu pai. Além disso, mandava bem em exatas na escola. A brincadeira de criança se tornou a escolha da profissão.

Ela conta que seu primeiro estágio foi em uma empresa de engenharia e ela era a única mulher do escritório. “Eu tinha muita vontade de acompanhar as obras, afinal, eu estudo para isso. Então teve um dia que o funcionário marcou de levar a equipe do escritório para conhecer uma grande construção da empresa. Até mesmo gente do jurídico estava indo. Então eu pedi que ele me levasse também. A resposta foi que lugar de mulher não é em obra. Então eu saí de lá”, lembra.

Logo surgiu a oportunidade de fazer uma entrevista na Constrix Engenharia, onde ela está hoje. Na conversa com o engenheiro responsável, a estudante percebeu que podia, sim, ser respeitada onde ela quer atuar. “Ele me disse que na obra eu tinha autoridade e autonomia, e qualquer coisa que me deixasse desconfortável era para avisá-lo. Isso me deu total segurança para ser quem eu sou. Sinto que os trabalhadores das obras têm muito respeito e carinho por mim, e também compartilham muitos conhecimentos comigo. Independentemente de eu ser mulher, eles entendem que sou estagiária e estou ali para também aprender”. Para um futuro próximo ela espera: “Que sejamos respeitadas onde estivermos, tenhamos voz e que nossos conhecimentos não sejam desmerecidos por sermos mulher”.

Médica do esporte, sim!

Uma coisa levou à outra nas escolhas de Ana Negri até chegar à Medicina. Com 17 anos e no 1º termo da graduação, a jovem já sabe onde quer atuar, no esporte. A paixão pelas duas áreas começou aos 5 anos, quando ela foi diagnosticada com desequilíbrios hormonais. Junto ao tratamento era essencial a prática de atividades físicas, por isso desde cedo foi muito incentivada pela mãe para o esporte e a cuidar da saúde. Aliás, cuidar também foi a escolha da sua principal incentivadora. Ana é filha da enfermeira Elaine Negri Santos, professora doutora da Unoeste.

“Com 17 anos trabalho para atingir minha melhor versão, ver do que o corpo humano é capaz de fazer! Meu amor por esportes juntamente com a importância que eles fizeram na minha vida, me faz querer ajudar mais pessoas nesse ramo: atletas, lutadores, fisiculturistas, entre outros. Sei que a medicina me ajudará a realizar essa meta de vida, conhecimento nunca é demais! Aprendi isso com minha mãe, que sempre estuda muito. Quero oferecer apoio para que as pessoas atinjam seus objetivos, assim como minha mãe fez por mim, sem ela, eu não teria descoberto essa paixão e teria desistido logo no começo”, relata.

Apesar da pouca idade, Ana sabe que ainda existe desigualdade no mercado de trabalho e que também encontrará obstáculos em sua escolha. “Sendo uma mulher médica enfrentarei muitos desafios, ainda mais na área do esporte. Um exemplo é a história de Ana Carolina Ramos que foi a primeira médica mulher a conquistar um espaço em um time da primeira divisão do futebol brasileiro, médica do esporte do Corinthians. Esse evento ocorreu apenas em 2019, ainda recente! Não só no futebol, mas em diversos esportes ainda falta representatividade feminina. Quero conquistar esses espaços e motivar cada vez mais mulheres a chegarem aonde quiserem, seja no esporte, na medicina e na vida!”, frisa.

Quanto à presença feminina na saúde, ela lembra grandes nomes que há anos fazem a diferença na área. “A história de Florence Nightingale e sua contribuição para enfermagem. A caminhada de Françoise Barré-Sinoussi que chegou até a ganhar prêmio Nobel da medicina e ser presidente na sociedade internacional de Aids. E Marie Curie que foi a única pessoa a ganhar duas vezes o prêmio Nobel. Essas e muitas outras mulheres incríveis fizeram história na área da saúde, foram responsáveis por salvar muitas vidas, revolucionar a área da saúde e quebraram inúmeros padrões impostos ao gênero feminino”, completa a jovem.

Tecnologia é para mulheres!

Por incrível que pareça, a área da Tecnologia da Informação (TI) na Unoeste já foi predominantemente feminina. Quem compartilha esse fato é a professora Aglaê Pereira Zaupa, formada na turma de 1996 no curso de Ciência da Computação da Faculdade de Informática (Fipp). Ela conta que mais de 60% dos formandos eram mulheres. Inclusive, na década de 1990 as turmas tinham muito mais meninas, o que foi gradativamente reduzindo a partir dos anos 2000. “Vivi essas duas realidades, primeiro enquanto aluna e depois como professora. Depois de 2005 tivemos turmas sem nenhuma mulher, ou com apenas uma. Mas isso vem mudando desde 2018 e cada vez mais as meninas retornam para a tecnologia”.

Aglaê diz que o fato de ser mulher não lhe trouxe dificuldades na profissão, inclusive ela trabalhou no departamento de TI da universidade. Mas ela também sabe que isso ocorreu porque ela é de uma época em que tinha muitas mulheres à sua volta, na mesma área, o que tornava mais fácil. “Ter mais mulheres fortalece a nossa participação, mas para as meninas que vieram depois, quando houve uma queda brusca da participação feminina nos cursos, acredito que tenha sido extremamente difícil. Para elas, os obstáculos já começaram na sala de aula”.

A mudança no cenário da tecnologia também é consequência de movimentos promovidos por empresas e pela Sociedade Brasileira de Computação para atrair mais mulheres na TI. “Existe esse esforço e estamos vendo o efeito agora. Além disso, tem a questão da demanda crescente por profissionais qualificados na área. Mas esses movimentos são interessantes porque quando temos mais mulheres na carreira, outras se inspiram. E temos carência de modelos femininos no setor”, pondera. 

A professora também é coordenadora dos cursos EAD em Engenharia de Software e Analise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS). Em ambos, ela se orgulha em dizer que a maioria do corpo docente é composto por mulheres. Mas isso não foi pensado. “É que temos muitas professoras na Fipp que também são da década de 1990”, explica. “Mas as mulheres estão retornando para a TI e tenho certeza que irá melhorar ainda mais”, encerra. 

 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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