Os vírus são microrganismos com estruturas relativamente simples, compostos basicamente de proteínas e de informações genéticas. Essa característica faz com que eles tenham uma alta capacidade de mutação.
É o que acontece com o SARS-CoV-2, que já se desdobrou em centenas de linhagens diferentes. Uma delas é a variante Ômicron, identificada em novembro de 2021, e que se espalhou rapidamente pelo mundo.
Desde então, laboratórios e farmacêuticas se mobilizaram para avaliar como desenvolver vacinas capazes de reduzir o alto contágio da variante. Nenhuma das atualizações dos imunizantes ainda está pronta, mas a cada dia parecemos estar mais pertos delas.
Veja como está a atualização das vacinas dos principais laboratórios que trabalham em imunizantes conta a Ômicron:
Pfizer
A farmacêutica Pfizer e a BioNTech deram início ao estudo clínico de uma candidata a vacina específica para a variante Ômicron no dia 25 de janeiro.
No ensaio, são avaliadas características como eficácia, segurança e capacidade de indução da resposta imunológica em voluntários adultos de 18 a 55 anos. A previsão é de que os estudos sejam concluídos em março.
Os pesquisadores avaliam diferentes esquemas tanto da vacina atual como da vacina específica para a Ômicron. Para isso, 1.420 voluntários foram divididos em três grupos:
615 pessoas vacinadas com duas doses da vacina atual, há pelo menos 90 dias, que receberão uma ou duas doses da nova formulação
600 pessoas vacinadas com três doses da vacina atual, há pelo 90 dias, que receberão uma dose da nova vacina
200 pessoas não vacinadas, que vão receber três doses da vacina específica para Ômicron
Três doses da atual vacina da Pfizer são capazes de induzir a formação de anticorpos neutralizantes contra a Ômicron. A informação, divulgada pela Pfizer em dezembro, vai ao encontro dos achados de dois estudos recentes.
Dados publicados na revista Science incluem leituras de dados de amostras de soro de 51 indivíduos vacinados que receberam duas ou três doses da vacina, bem como um estudo que avalia o potencial de neutralização de anticorpos de indivíduos vacinados contra o vírus.
Um outro estudo, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, ampliou as evidências da neutralização da Pfizer contra a Ômicron. As amostras de soro colhidas um mês após a terceira dose mostraram um aumento de 22 vezes nos anticorpos neutralizantes contra a Ômicron, em comparação com os níveis identificados antes da terceira dose.
Os achados sugerem que uma proteção mais robusta contra a nova variante pode ser alcançada com o atual esquema primário da vacina (duas doses) mais uma dose de reforço.
Moderna
No dia 26 de janeiro, a farmacêutica Moderna deu início à fase 2 do estudo de uma vacina específica para a Ômicron. Com o objetivo de avaliar os mesmos critérios de segurança, eficácia e resposta imunológica, o ensaio contará com a participação de cerca de 600 voluntários, divididos em dois grupos.
Uma parte reúne indivíduos que receberam anteriormente o esquema primário de duas doses, sendo a segunda dose há pelo menos seis meses. No outro grupo, estão pessoas que receberam o esquema primário de duas doses e uma dose de reforço, sendo a última aplicação há pelo menos três meses.
No dia 4 de fevereiro, foram publicados resultados preliminares de um estudo pré-clínico, com a participação de animais, com as duas formulações de vacinas da Moderna.
Na ensaio, oito macacos rhesus receberam duas doses da vacina. Em um segundo momento, os animais foram divididos em dois grupos. Enquanto o primeiro foi vacinado com a terceira dose do imunizante atual, o segundo recebeu a vacina específica para a variante.
Para comparação, os cientistas então avaliaram a quantidade de anticorpos neutralizantes presentes nas amostras do soro dos dois grupos. A análise revelou que os primatas imunizados com a dose atual da Moderna apresentaram uma maior quantidade de anticorpos em comparação com os vacinados com a nova formulação.
Duas semanas após o reforço, os títulos de anticorpos contra a uma linhagem do vírus circulante no início da pandemia aumentaram para 5.360, com a dose atual, e para 2.980 com a nova vacina. Em relação à variante Ômicron, os títulos identificados no mesmo período tiveram aumentos de 2.670, para a dose comum, e de 1.930, para a vacina específica para a Ômicron.
Apesar dos achados, evidências científicas sugerem que, assim como a Pfizer, a atual vacina da Moderna contra a Covid-19 também é capaz de neutralizar a Ômicron.
Um estudo publicado no periódico científico New England Journal of Medicine avaliou a produção de anticorpos neutralizantes seis meses após a aplicação de uma dose de reforço. Embora a neutralização da Ômicron tenha reduzido 6,3 vezes em relação ao pico de anticorpos identificado no 29º dia após o reforço, os níveis permaneceram detectáveis ??em todos os participantes.
Para comparação, quando os anticorpos foram expostos à linhagem circulante no início da pandemia, que não apresentava tantas mutações, a redução foi um pouco menor, de 2,3 vezes no mesmo período.
AstraZeneca
A AstraZeneca divulgou no dia 21 de dezembro que atua no desenvolvimento da vacina específica para a Ômicron em parceria com a Universidade de Oxford. No entanto, desde o anúncio, não foram divulgados detalhes sobre o número de participantes, o perfil do estudo clínico e o prazo para a conclusão dos testes.
A CNN entrou em contato com a AstraZeneca, que respondeu em nota que a vacina atual desempenha um papel importante no enfrentamento da pandemia.
“Temos uma vacina eficaz que aumenta as respostas imunológicas contra todas as variantes, incluindo a Ômicron”, informou a empresa. “Nossa prioridade atual é trabalhar com as autoridades de saúde para compartilhar o corpo substancial de evidências sobre a vacina AstraZeneca Covid-19 como um reforço de terceira dose”, completa a nota.
Resultados preliminares de um outro estudo, publicados em dezembro, apontaram que a terceira dose da atual vacina AstraZeneca aumenta significativamente os níveis de anticorpos neutralizantes contra a variante Ômicron.
Amostras do soro de indivíduos coletadas um mês após a aplicação da dose de reforço neutralizaram a variante em níveis semelhantes aos observados para a neutralização das variantes Alfa e Delta depois da segunda dose.
No estudo, foram analisadas amostras de sangue de pessoas infectadas com a Covid-19 com dois perfis: vacinados com duas doses mais uma de reforço e quem teve infecção prévia com outras variantes de preocupação. A pesquisa avaliou amostras de 41 indivíduos que receberam três doses da AstraZeneca.
Coronavac
A Sinovac, produtora da vacina Coronavac na China, também estuda uma nova versão do imunizante contra a Ômicron.
O primeiro passo para a atualização da vacina é isolar a variante do coronavírus e fazer um teste de anticorpos neutralizantes. Depois, serão feitas avaliações e estudos clínicos em diferentes faixas etárias. A previsão é que a pesquisa, iniciada em dezembro, seja concluída em três meses.
Um estudo publicado na revista científica Nature mostrou que a dose de reforço da vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan induz resposta imune contra a Ômicron em 95% dos vacinados. O reforço também aumentou a capacidade de neutralização da variante por meio da ativação de células de memória que produzem anticorpos.
Na pesquisa, realizada na China, foram coletadas amostras de sangue de 60 voluntários que receberam as três doses da vacina. Os cientistas avaliaram a quantidade de anticorpos neutralizantes contra as variantes Ômicron e Delta.
Para avaliar os efeitos das três doses da vacina, os pesquisadores isolaram em laboratório diferentes tipos de anticorpos presentes nas amostras coletadas. As proteínas foram capazes de reconhecer o vírus e de neutralizar a Ômicron.
Janssen
Em dezembro, a farmacêutica Janssen afirmou que “a empresa está buscando uma vacina específica contra a variante Ômicron e a progredirá conforme necessário”.
Resultados de um estudo realizado na África do Sul apontaram que a aplicação de uma dose de reforço da vacina da Janssen, originalmente adotada como esquema de dose única, reduz os riscos de hospitalização em pacientes infectados pela variante Ômicron.
Na pesquisa, os cientistas avaliaram a efetividade da dose de reforço em mais de 227 mil profissionais de saúde do país africano. O reforço foi oferecido de seis a nove meses após a primeira imunização.
A eficácia foi estimada a partir da comparação de dados de pouco mais de 69 mil profissionais com informações de indivíduos não vacinados. A eficácia na prevenção de hospitalizações apresentou aumentos ao longo do tempo: de 63% (de 0 a 13 dias), para 84% (de 14 a 27 dias), chegando a 85% (de 1 a 2 meses) após a aplicação.
Fonte: CNN