Com os números de vacinação contra a Covid-19 no Brasil na casa dos 70%, a infectologista e epidemiologista Luana Araújo afirma que a cobertura vacinal no país parece ter “chegado em um platô”, em meio a uma alta de casos e mortes pela doença com a disseminação da variante Ômicron.
“A gente só consegue sair dessa história com o aumento da cobertura vacinal, que infelizmente parece ter chegado em um platô no país”, disse Araújo em entrevista à CNN neste domingo (6).
Segundo ela, apesar de uma cultura vacinal no Brasil, uma parcela da população que “merecia a maior atenção, que por desconhecimento, falta de informação adequada, questões que não são referentes nem à educação e à saúde pública, com outros interesses, essas que precisavam de uma ação coordenada mais ostensiva para que fossem educadas no sentido da importância da vacinação infelizmente não foram, e são essas que estão sucumbindo tanto à doença quanto às consequências nefastas dela”.
Nesse cenário, o aumento de óbitos, com o Brasil voltando a registrar mais de 1000 mortes por dia, é “esperado, uma vez que quanto mais esse vírus consegue se espalhar, principalmente na população não vacinada, maior o número de óbitos que ela vai causar nesse grupo, e é isso que a gente está vendo”.
Ao mesmo tempo em que a Ômicron se tornou a variante dominante no Brasil, já foram registrados casos de uma subvariante, a BA.2, e um estudo aponta que ela é transmissível. Araújo avalia, porém, que não é uma regra que uma nova variante será necessariamente menos letal.
“Existe uma falta noção de que é claro, óbvio, de que quanto mais tempo passar, quanto mais avançado no processo evolutivo, maior a transmissibilidade e menor a sua capacidade de causar doença grave. Essa é uma teoria, e isso não pode ser levado ao pé da letra.”
De acordo com ela, o problema com a nova subvariante é que ela “parece ser muito mais transmissível mas não parece causar doença mais grave, mas quanto mais transmissível é, mais chega em pessoas que não tem uma proteção adequada, seja porque não tomaram a vacina ou porque tem uma situação de risco maior, como transplantados, e isso faz com que tenham um risco maior”.
Não há uma garantia, porém, que essa subvariante pode ocupar o lugar da Ômicron como dominante. Para isso, explica a infectologista, é necessário que ela tenha mutações que ofereçam uma vantagem evolutiva. Do contrário, ela pode se perder com o tempo. Nesse cenário, o aumento da cobertura vacinal é importante para evitar mutações.
“Quanto mais vacinas, as condições de sofrer mutações são menores, e o vírus tem menos chances de mudar porque tem menos gente suscetível, é uma cercada na pandemia, no vírus, permitindo que ele não saia por aí causando o que mesmo dano que já causou”, diz.
Para Araújo, o cenário atual aponta que “a cobertura vacinal maior é mais importante que uma quarta dose. Não adianta eu ficar entupindo uma parte da população de doses se o resto não está vacinado. Se eu aumentar a cobertura de todo mundo, menos doses eu vou precisar para manter essa cobertura”.