Em tentativa de desqualificar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, citou nesta terça-feira (4) artigo de um veículo científico da Grã Bretanha. “Você leu o estudo que saiu publicado no New England Journal of Medicine sobre a vacina de 5 a 11 anos? Então, tem que ver”, disse ele em resposta a uma jornalista que quis saber se a vacina não garantiria maior segurança às crianças. A resposta, porém, deu a impressão que ele próprio não leu o estudo que recomenda, que trata do imunizante da Pfizer/BioNTech para essa faixa etária (acesse a publicação).
O estudo citado afirma o contrário do que Queiroga tenta dizer. “Um regime de vacinação da covid-19 que consiste em duas doses com 21 dias de intervalo foi considerado seguro, imunogênico e eficaz em crianças de 5 a 11 anos de idade”, afirma expressamente a pesquisa científica.
Segundo a publicação, “crianças de 5 a 11 anos apresentaram uma resposta de anticorpos neutralizantes em concentrações similares às observadas em adolescentes e adultos de 16 a 25 anos”.
“Leia o documento que está lá”, recomendou Queiroga, apesar disso. “(Precisa saber) Se a gente vai tomar as decisões baseado em estudos randomizados, em ciência de melhor qualidade, ou se toma só baseado em opinião de especialista. Às vezes são especialistas que não são tão especialistas assim”, continuou. Para minimizar a importância da imunização para a faixa etária, argumentou ainda que “vacinação não tem relação com aula, e inclusive o Unicef já apontou isso, a ONU, a OMS”. Em tom professoral, o quarto ministro da Saúde de Bolsonaro acrescentou que é preciso “parar de criar espuma em relação a questões que são secundárias em relação ao enfrentamento da pandemia da covid-19”.
Contra a Anvisa
A fala negacionista de Queiroga contraria a posição da Anvisa, que aprovou em dezembro a vacinação de crianças de 5 a 11 anos com o imunizante da Pfizer. A agência informou hoje ao Ministério da Saúde que não participaria da audiência pública convocada pelo governo de Jair Bolsonaro sobre a vacinação de crianças, realizada hoje. A iniciativa pode ser encarada como uma provocação claramente negacionista.
“Esta agência já emitiu seu posicionamento em relação ao tema ‘vacinação contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos’, o qual se encontra público e disponibilizado às diversas autoridades médicas, sociedade e a este Douto Ministério da Saúde”, justificou a Anvisa, em documento enviado ao ministério.
“Por fim, a Anvisa, por seu caráter técnico, visualiza que sua participação na audiência pública não agregaria novos elementos à temática”, completou.
Fonte: Rede Brasil Atual