Somos o único país com mais de 100 milhões de habitantes que tem o desafio de oferecer acesso gratuito e universal de saúde através do SUS. Para que um estudante de Medicina possa exercer o preceito fundamental da profissão, que é a defesa da vida, ele passa pela experiência de atendimento nos serviços públicos de saúde. Todos, independente se estudaram em faculdade pública ou privada, se trabalham no setor público ou consultório privado, só se tornaram médicos porque um dia aprenderam no SUS.
Quando entrei na faculdade de Medicina, em 1989, primeiro ano pós-Constituição de 1988, repetíamos uma frase nos nossos encontros: “Chega de aprender nos pobres para depois só cuidar dos ricos”. Essa frase segue comigo e a repeti nos embates acirrados do processo de implementação do programa Mais Médicos instituído no governo Dilma Rousseff, quando fui ministro da Saúde.
Trago essa lembrança, pois veio à tona um vídeo do atual presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), que circula nas redes sociais, onde ele afirma que eu e a presidenta Dilma “popularizamos a medicina” no Brasil com a abertura de novas faculdades de medicina. Ora, para mim essa afirmação é um elogio às políticas que implantamos.
O presidente do CFM se refere ao Programa Mais Médicos, implementado em 2013 e que buscou reduzir a carência de profissionais médicos nos rincões do Brasil e também apresentar melhor estrutura para resolver os problemas do futuro do país. Um dos seus eixos era abrir mais oportunidades para jovens brasileiros, sobretudo negros, de bairros periféricos e de cidades do interior para que pudessem se formar médicos e fazer suas especialidades médicas no Brasil.
O Mais Médicos abriu, de 2013 a 2017, 10.861 novas vagas para medicina. Ampla maioria no interior do país, 65,4%.
O programa abriu também novas oportunidades de especialização, aprovando nova orientação dos currículos exigindo que os alunos tivessem mais experiência no SUS na sua formação e criou uma prova nacional de avaliação dos alunos e das escolas, infelizmente interrompida já no governo Temer.
Quando entrei na Unicamp, em 1989, dos quase 100 alunos da minha turma, apenas dois eram negros. Hoje frequento a instituição, assistindo e ministrando aulas, e temos turmas com mais de 30% negros. Muito ainda precisa ser feito para tornar a universidade menos desigual, mas é inegável o avanço nos governos petistas.
Vamos falar de outros significados deste esforço: a zona leste de São Paulo, região mais populosa da nossa capital, não contava com faculdade de Medicina e passou a ter depois da implantação do programa. Outras cidades do estado – como Araçatuba, Araras, Bauru, Cubatão, Guarulhos, Guarujá, Limeira, Jaú, Rio Claro, São José dos Campos, Piracicaba, Osasco, Mauá, São Bernardo, entre outras – passaram a contar com novas oportunidades para a realização do sonho dos nossos jovens de se tornarem médicos.
Outro eixo do programa foi levar médicos e mais estrutura de saúde onde não existia. Foram mais de 60 milhões de brasileiros que passaram a ser atendidos perto de suas casas. Estudos independentes mostraram que esses profissionais colaboraram na redução de internações, mortalidade infantil e foram bem avaliados pela população. Os médicos foram elogiados por se dedicarem a conhecer, ouvir e cuidar da realidade do nosso povo.
Será que é essa popularização da medicina que tanto assusta o atual presidente do CFM?
O Mais Médicos foi um passo corajoso para levar para mais próximo dos jovens as faculdades de medicina e mais médicos para os brasileiros, especialmente jovens pobres. Temos orgulho do que fizemos. Há ainda muita caminhada pela frente, sabemos disso, mas seguimos acompanhando de perto e dando oportunidade para o nosso povo.
*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi ministro da Coordenação Política de Lula, ministro da Saúde de Dilma e secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de São Paulo.
Fonte: Rede Brasil Atual