“Não haverá saúde para alguns se não houver saúde para todos”, afirma a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em boletim divulgado no sábado (2). A entidade reitera a necessidade de um passaporte da vacina para ambientes fechados e com aglomerações, mas o país tem uma política errática neste sentido. A cidade mais afetada do Brasil, São Paulo, não adota nenhum tipo de necessidade de comprovar a vacinação contra a covid-19. Hoje (4) o Ministério da Saúde negou a emissão de certificado para aqueles que tomaram vacinas diferentes entre a primeira e a segunda dose.
“Da série mais uma ação que não faz o menor sentido”, critica a biomédica e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra. Conforme apontam diferentes estudos conduzidos em todo o mundo, a intercambialidade vacinal, ou esquema heterólogo, é segura e eficaz. Muitos dos que tomaram vacinas diferentes, assim fizeram em razão da falta de vacinas da AstraZeneca nos postos. Para garantir o esquema vacinal completo, que é necessário para garantir proteção contra o coronavírus, a vacina da Pfizer foi adotada na segunda dose.
Mellanie afirma ainda que “existe uma escassez de doses da AstraZeneca para a segunda dose de algumas pessoas, e tem-se recomendado a Pfizer, numa combinação AstraZeneca na primeira dose e Pfizer na segunda dose. “É seguro? Gera resposta? Sim e sim”, diz.
Necessário
A variante delta do coronavírus é dominante no Brasil. Mais contagiosa, a cepa viral também possui maior escape vacinal, além de reduzir a eficácia das primeiras doses das vacinas. Diante deste cenário, cientistas alertam para a necessidade de políticas públicas para completar a vacinação dos atrasados da segunda dose, que são mais de 11%. Hoje, o país tem 46,72% da população imunizada com duas doses e 75,72% com a primeira. A Fiocruz indica como necessário percentual acima de 70% de pessoas totalmente vacinadas para o controle do surto.
Além disso, as pessoas que rejeitam as vacinas tornam-se vetores virais perigosos. Diante disso, torna-se importante a adoção do passaporte da vacina, assim como já faz a cidade do Rio de Janeiro. “Reforçamos, portanto, que esta estratégia é central na tentativa de controle de circulação de pessoas não vacinadas em espaços fechados e com maior concentração de pessoas, para reduzir a transmissão da covid-19, principalmente entre indivíduos que não possuem sintomas”, afirma a Fiocruz ao defender a adoção nacional do modelo carioca.
Balanço
Hoje (4) o Brasil registrou 204 vítimas da covid-19 em 24 horas, totalizando 598.152. Também foram notificados 10.425 novos casos. Desde o início da pandemia, em março de 2020, ao menos 21.478.546 pessoas foram infectadas. Os dados são do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Entretanto, estes números são amplamente subnotificados, conforme apontam cientistas.
Embora exista subnotificação, a vacinação apresenta bons resultados no país. Desde o dia 10 de setembro, a queda nas médias móveis de mortes e casos diários, calculadas em sete dias, foi interrompida. Hoje, como não ocorria desde o dia 14 de setembro, uma nova queda foi registrada e a média de mortes caiu, pela primeira vez em duas semanas para abaixo de 500. O indicador está em 499,9. Já a média de novos casos diários está em 16.022. “O fato é que apesar da queda dos indicadores, o momento ainda exige cuidado“, destaca a Fiocruz.
“A análise observa que mesmo com a redução de incidência nas semanas anteriores, a grande maioria dos estados encontra-se ainda em níveis altos ou muito altos, acima de um caso por 100 mil habitantes”, prossegue a entidade. De acordo com os cientistas, os patamares elevados de transmissão e mesmo de mortes “evidenciam a necessidade de atenção, com ações de vigilância em saúde para evitar estes casos graves, com sintomas que levam a hospitalização ou a óbito”. A exigência do passaporte da vacina para se frequentar locais públicos fechados é uma dessas ações de vigilância.
Fonte: Rede Brasil Atual