O Ministério da Saúde publicou uma nota informativa, na última quarta-feira (15), pedindo a suspensão da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades. De acordo com a nova orientação do ministério, é que não seja feita a vacinação desse grupo.
No último dia 2, a pasta publicou outra nota que recomendava a vacinação para adolescentes a partir de ontem. Entretanto, em suas justificativas para deixar de imunizar os jovens, o Ministério da Saúde afirma que a “Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades”.
Com tom negacionista, o governo federal diz ainda que a “maioria dos adolescentes sem comorbidades” não sofre de casos graves da doença e que “os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos”.
Após a decisão do Ministério da Saúde, Natal e Salvador já suspenderam a vacinação de adolescentes sem comorbidades. Entretanto, a cidade de São Paulo manteve o calendário de imunização atual, que inclui os jovens no cronograma.
Saúde quer esconder fracasso
Durante a sessão da CPI da Covid desta quinta-feira (16), o senador Randolfe Rodrigues criticou a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação de adolescentes. O parlamentar rebateu o argumento da pasta, que se diz baseada em recomendação da OMS.
“A nota diz que a primeira razão de não necessidade é que a OMS não recomenda a imunização de adolescentes sem comorbidades. Uma rápida pesquisa no site da OMS mostra que a vacinação não é prioritária, mas recomenda que, se houver doses disponíveis, crianças e adolescentes devem se imunizar”, argumentou o senador.
O recuo do Ministério da Saúde, segundo o senador, é por falta de vacinas. O ministro Marcelo Queiroga disse, recentemente, que há “excesso de vacinas”, mas o governo voltou atrás e manteve o intervalo de 12 semanas para a segunda dose da vacina AstraZeneca. “Se o Ministério da Saúde quer admitir o fracasso de que não tem doses é melhor dizer, mas não emitir uma nota não recomendando a vacinação. Isso subtrai a responsabilidade do governo federal na vacinação de jovens”, criticou Rodrigues.
Vacinação de jovens é importante
O epidemiologista, professor da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, Pedro Hallal, classificou “100% errada” a decisão do Ministério da Saúde. “Até quando vão tratar a pandemia com uma abordagem clínica, e não coletiva? É verdade que a maioria dos adolescentes não terá caso grave, mas quanto mais gente vacinada, mais difícil pro vírus circular”, explicou o especialista, em sua conta no Twitter.
A epidemiologista e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Ethel Maciel lembra que o Brasil já tem mais mortes em adolescente que outros países, como Estados Unidos e Reino Unido. Ela afirma que a nota da pasta dá a entender que a suspensão de vacinação é por falta de segurança.
“O Plano Nacional de Imunização (PNI) está causando mais confusão. Os adolescentes sem comorbidades devem ser os últimos na prioridade de vacinação. Mas devem ser vacinados também, principalmente pensando no retorno presencial da educação. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) fez uma revisão das evidencias recomendando a vacinação desse grupo”, argumentou a especialista.
Já a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, lamenta a decisão da pasta e acredita que a população ficará confusa. “A Pfizer recebeu aprovação pelo FDA (agência de saúde americana) para adolescentes de 12 a 17 anos, em maio. Em junho, foi autorizada no Brasil“, explicou. “O ministério deveria ter deixado claro, desde o momento da aprovação da vacina pra essa faixa etária no Brasil, que adolescentes têm opção de vacina, é segura e eficaz, e recomendar para essa população também”, acrescentou.
Fonte: Rede Brasil Atual