A vacinação contra a covid-19 no Brasil segue lentamente ou até mesmo paralisada. Desse modo, a cobertura vacinal – porcentagem estimada de pessoas que receberam as doses recomendadas – é insuficiente na maioria dos grupos prioritários. Além disso, segue com dificuldades a distribuição de doses das vacinas CoronaVac e Covishield, da AstraZeneca Oxford.
Até a última terça-feira (18), foram aplicadas 51,7 milhões de doses em todo o país, das quais 68% da vacina CoronaVac. Entre a população de 60 a 69 anos, 75% tinha recebido a primeira dose e apenas 20% a segunda. Já na faixa entre 70 e 79 anos, 91% receberam apenas uma dose e 70% completaram a segunda dose. Entre aqueles com 80 anos ou mais, 91% receberam apenas a primeira dose e 55% completaram a imunização.
Os dados da vacinação contra a covid-19 no Brasil são de um levantamento de pesquisadores do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Cobertura da vacinação
Os dados analisados são dos registros de Vacinação Covid-19, disponíveis no site do OpenDataSUS em 18 de maio e correspondem à última atualização, do dia anterior. A atualização da base depende das informações registradas por diferentes sistemas de cada unidade da Federação. O banco de dados traz informações sobre cada indivíduo que foi vacinado com a primeira e/ou com a segunda dose das vacinas Covishield (AstraZeneca/ Oxford) e Coronavac (Sinovac).
Ao analisar a cobertura vacinal nos primeiros grupos prioritários definidos pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), os pesquisadores observaram que, após quase quatro meses do início da vacinação, a cobertura vacinal com duas doses é ainda abaixo de 80% para praticamente todos os grupos, quando deveriam ser atingidas metas acima de 90%. A exceção é o grupo de pessoas com mais de 60 anos.
Entre os indígenas que vivem em seus territórios – parcela restrita de toda a população indígena nacional – apenas 73% receberam a primeira dose. O dado é preocupante quando se leva em conta que esse grupo se encontra em territórios delimitados.
Imunização contra covid
Entre a população estimada de trabalhadores da saúde, 3% ainda não tiveram acesso à imunização inicial e 36% ainda não foram vacinados com duas doses. Das pessoas com comorbidades com menos de 60 anos, apenas 6,5% havia recebido a primeira dose até 18 de maio. Mas o IBGE estima em 31 milhões as pessoas com uma ou mais comorbidades nessa faixa etária. O número de vacinados com uma dose neste grupo passou de 230.742 pessoas, em 4 de maio, para 1.962.871 pessoas, em 18 de maio. Já os vacinados com duas doses, de 32.556 pessoas para 74.224 pessoas no período.
Além da falta de vacinas, não há metas claras no plano de imunização, com critério adequados de priorização. Para os autores do levantamento, isso significa que falta também o cumprimento de metas de coberturas da vacinação contra a covid-19 para a obtenção de níveis de imunidade suficientes para reduzir a mortalidade.
A situação é preocupante porque, em um contexto de insuficiência de vacinas, a maioria dos países prioriza os grupos vulneráveis. Isso justamente para diminuir a mortalidade e a pressão sobre o sistema de saúde. Por isso têm sido priorizados os trabalhadores da saúde mais expostos ao contágio pelo coronavírus, para preservar a força de trabalho e o funcionamento de hospitais.
Os pesquisadores defendem urgência do Ministério da Saúde na ampliação da oferta de vacinas. E além disso, que adote medidas de busca ativa, convocação e garantia do acesso dos grupos prioritários à imunização completa, com duas doses.
Fonte: Rede Brasil Atual