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Pandemia em SP está mais grave que em março, quando Doria decretou a fase vermelha


12/05/2021
 

Passadas três semanas do início da fase de transição da quarentena, que libera o funcionamento de todo o comércio e os serviços, além de academias, teatros, cinemas e escolas, a situação da pandemia no estado de São Paulo está mais grave do que quando o governador João Doria (PSDB) anunciou o início da fase vermelha, em 3 de março. Naquele momento, o discurso tucano era de que havia uma situação iminente de colapso na saúde e que as restrições eram necessárias para conter o avanço da pandemia. Hoje porém, com todos os setores funcionando quase normalmente, o número de pacientes internados com covid-19 é 23% maior e a média diária de mortes cresceu 99%, em relação àquele momento. 

Após ser pressionado por um grupo de empresários, que disse que não vai aceitar novas restrições, o governo Doria tem reiterado o discurso de que a situação da pandemia está melhorando continuamente. Porém, a comparação é sempre feita com o pior momento da pandemia, entre o final de março e o início de abril. E o principal dado utilizado para assegurar isso é a taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva. Naquele período, São Paulo chegou a registrar média diária de 3.399 internações por covid-19, mais de mil mortes e ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) acima de 90% em todas as regiões do estado.
 
Melhora artificial
No entanto, o número de leitos de UTI para pacientes com covid-19 cresceu muito desde o início do ano. E chegou a 14 mil no pior momento da pandemia, após várias expansões. Hoje, são aproximadamente 12.800 leitos de UTI covid-19, ou seja, 37% a mais do que havia quando Doria decretou a fase vermelha. Para o infectologista do Hospital Universitário da USP, Gerson Salvador, usar a disponibilidade de leitos para internação como um parâmetro de controle da pandemia, é um equívoco.
 
“Está errado. Até porque, é possível mexer no denominador, o número total de leitos, fazendo a taxa de ocupação cair artificialmente. Foi necessário aumentar a quantidade de leitos, de fato, só que esse aumento de quantidade não veio acompanhada necessariamente de aumento de qualidade, de atenção, tanto é que nós temos taxas altas de letalidade entre os pacientes que estão internados”, explicou Salvador.
 
Dados do projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), que acompanham a situação de 21.994 leitos de UTI para pacientes com covid-19, mostram que ter uma grande quantidade de leitos não é uma garantia de sobrevivência que permita deixar a contaminação descontrolada. Segundo a Amib, a mortalidade de pacientes com covid-19 em UTI é de 55,7% na rede pública e 31,5% na rede privada. Entre pacientes intubados, as taxas pioram: 74,6%, na rede pública, e 63,7%, na rede privada.
 
Internações
Além disso, embora a taxa de ocupação de UTI tenha caído nas últimas semanas, o número de pacientes internados com covid-19 hoje, em São Paulo, é 23,33% maior do que o que havia quando Doria decretou a fase vermelha, no início de março. Considerando apenas pacientes que estão em UTI, a diferença é ainda maior: 29,69%.
 
Também está maior hoje a média de pacientes com covid-19 que são internados por dia. Eram 2.006 por dia, em 3 de março. São 2.276 hoje, sendo esse o pior número em 19 dias, já indicando uma nova escalada no número de internações diárias.
 
Transição para pior
Embora seja uma alternância entre a fase vermelha e a laranja, a fase de transição libera todos os setores de comércio e serviços, no período das 6h às 21h, sem limite de horas por dia e sem controle efetivo do limite de lotação. O limite de 30% é apenas uma recomendação e não existe qualquer punição prevista, no decreto 65.635/2021, a quem desrespeitar esse limite.
 
Na prática, essa fase é tão branda quanto as fases amarela e verde do Plano São Paulo, por meio do qual Doria propõe uma convivência com a pandemia. Além disso, como a RBA já registrou, o aumento de funcionamento do comércio leva a superlotação dos transportes coletivos, aumentando o risco de contaminação de maior parte da população.
 
Os demais dados também mostram que a situação é pior hoje, com tudo funcionando quase normalmente, do que há dois meses, quando Doria decretou a fase vermelha. Em 3 de março, a média diária de novos casos de covid-19 era de 9.425. Hoje são 11.391 casos confirmados por dia, um aumento de 20,86%.
 
Pandemia extrema
Além disso, os parâmetros internacionais de controle da pandemia, que o governo Doria diz seguir, consideram que, a partir do registro de 100 novos casos por 100 mil habitantes, a situação é de pandemia descontrolada. Em São Paulo esse índice hoje é de 374 novos casos por 100 mil habitantes.
 
Já o número de mortes por covid-19 praticamente dobrou em relação a 3 de março. Naquela data, a média diária era de 264 óbitos. Hoje são 526. Para Salvador, o que o governo Doria faz não é controle da pandemia e não há surpresa que vai haver uma terceira onda em breve.
 
“Os locais que conseguiram, de fato, controlar a pandemia, fizeram medidas mais rígidas por um tempo mais longo. São Paulo faz medidas sempre parciais e sempre por pouco tempo. E aí, tem usado, principalmente, a disponibilidade de leitos como parâmetro de reabertura de atividades. Quando se faz essa abertura de atividades com a pandemia tão descontrolada como estava, a gente sabe que vai acontecer o aumento de novos casos, em seguida de novas internações, em seguida de novas mortes. Foi isso que aconteceu diversas vezes, é absolutamente previsível”, disse Salvador.
 
Fonte: Rede Brasil Atual
 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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