Em documento enviado às autoridades do estado de São Paulo e em nível federal, a Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo (Federação Paulista da Saúde) alerta para o total esgotamento físico e mental dos profissionais da saúde para continuar a exercer o trabalho de combate a Covid-19. “O impacto da pandemia é sério e muito grave, além do risco que os profissionais correm de sofrer processos por falta de atendimento adequado aos pacientes”, frisa o presidente da entidade, Édison Laércio de Oliveira.
Edison lembra que diariamente acontecem casos de pedidos de demissão por parte de profissionais que depois de um ano do início da pandemia, não suportaram as pressões que sofrem no dia a dia. Assustados com o alto risco de contágio, o medo de levar a doença para suas famílias devido a precariedade dos EPIs, falta de insumos básicos para um atendimento digno, muitos optam por se afastar da profissão. Os que continuam trabalhando são pressionados a manter rotinas estafantes, muitas vezes obrigados a fazer horas extras ou dobrar turnos para garantir o atendimento dos pacientes. “Passado um ano, esses trabalhadores estão extenuados e sem motivação para continuar. A continuar assim, os hospitais não vão encontrar substitutos para os que vão embora”, alerta Edison.
Em reunião realizada pela Federação Paulista da Saúde com os 13 sindicatos filiados que representam o estado de São Paulo, os sindicalistas foram unânimes em relatar o desespero dos trabalhadores e casos de demissão que se somam a cada dia. Exemplos disso não faltam. Na quarta, dia 24 de março, na Santa Casa de São Carlos aconteceu o primeiro caso de demissão em massa, quando 24 Enfermeiros e Técnicos de Enfermagem pediram demissão. Para Édison de Oliveira, a situação é crítica e exige uma posição das autoridades em saúde do país. Em função do quadro preocupante e visando eximir os trabalhadores de responsabilidade, a diretoria da Federação decidiu elaborar um ofício de alerta às autoridades.
O documento foi enviado para as seguintes autoridades:
1. MPT/Campinas - 15a. Região - Dr. Dimas Moreira da Silva (Procurador-Chefe)
2. MPT - São Paulo - 2a. Região - Dr. José Eduardo de Amorim (Procurador-Chefe)
3. MPSP - Dr. Mario Luiz Sarrubbo (Procurador-Geral)
4. Governador de SP - João Agripino Doria
5. Comitê Contingencia Covid-19/SP - Dr. Paulo Menezes (Coordenador)
6. Ministro da Saúde - Dr. Marcelo Quiroga
7. Senador Rodrigo Pacheco - Comissão Temporária Covid-19
Nele, a entidade alerta ainda que os hospitais já vêm sentindo dificuldade para contratação de profissionais como médicos, em especial intensivistas, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, o que tem sobrecarregado aqueles que estão em atividades. “O trabalhador é aplaudido pela população, mas não é reconhecido pelos empregadores e governo em todas as esferas”, afirma Edison. Para ele, as autoridades brasileiras precisam tomar providências, antes que situação se agrave ainda mais. Os profissionais da saúde reclamam de baixos salários e da falta de reconhecimento dos dirigentes hospitalares. Na opinião dos dirigentes sindicais os trabalhadores merecem receber o adicional de insalubridade em grau máximo (40%), além do adicional de penosidade. “Não existe reconhecimento do trabalho que é prestado com muito sacrifício.
O alerta feito pela entidade dos trabalhadores encontra respaldo na pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 realizada pela Fiocruz em todo o território nacional. De acordo com os resultados da pesquisa, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% dos trabalhadores da saúde. Os dados revelam, ainda, que quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo desta crise mundial de saúde, com jornadas para além das 40 horas semanais, e um elevado percentual (45%) deles necessita de mais de um emprego para sobreviver, o que sobrecarrega sobremaneira os profissionais.
“A garantia de salários dignos e adicionais condizentes com a função que exercem, certamente levaria os profissionais a optar por apenas uma jornada de trabalho, tendo mais tempo inclusive para dedicação ao aperfeiçoamento profissional que é muito importante para o setor de saúde. ” Isso, no entanto, depende de medidas que possam contribuir com o setor como a regulamentação do adicional de penosidade e a aprovação de projetos de lei que estão engavetados há muito tempo no Congresso Nacional como o piso nacional para a enfermagem (PL 1876/2019 de autoria do deputado Mauro Nazif (PSB-RO)) e a aprovação das 30 horas semanais (PL 2295/2000 do então senador da república Lúcio Alcântara do PSDB/CE”, finaliza Édison Laércio de Oliveira.