O estado de São Paulo pode chegar ao colapso de seu sistema de saúde em 25 dias, caso o atual ritmo de avanço da pandemia permaneça. Todos os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis para Covid-19 nas redes pública e privada do estado devem acabar nesse prazo, se o ritmo atual de internações pela doença e de abertura de novos leitos se mantiver o mesmo do mês de março.
O cálculo, feito por uma matemática a pedido do G1, considera a média de criação de novos leitos pelo governo e também por hospitais particulares, além do crescimento na ocupação desses equipamentos, ao longo deste mês. Isto significa que, em 25 dias, o total de leitos de UTI ocupados superaria o número de leitos criados.
Segundo a matemática Simone Batista, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e doutora em engenharia de sistemas pela Poli-USP, o esgotamento pode ocorrer em menos tempo caso o ritmo seja o mesmo que foi verificado nos últimos três dias, e não a média de todo o mês de março. Se a velocidade dos últimos dias permanecer, o colapso poderia ocorrer já nos primeiros dias de abril, ou seja, em pouco mais de 20 dias.
Para o físico Rafael Lopes Paixão da Silva, pesquisador do Observatório Covid-BR, o ritmo de abertura de leitos de UTI pode ser ampliado pelo governo estadual, mas deve esbarrar na dificuldade para encontrar profissionais de saúde para operá-los.
“Eu acho que a principal variável é a política, porque o governo do estado é capaz de abrir leitos, a cidade de São Paulo chegou a ter três hospitais de campanha, mas daí teria que avaliar em termos de profissionais disponíveis”, disse.
Segundo o médico Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Hospital Universitário da USP, o colapso do sistema de saúde pode ocorrer antes que o total de leitos ocupados supere o total de leitos criados no estado.
"Na verdade, a gente já está meio em colapso, porque já tem muito lugar que tá sem leito, já tem muita fila de espera para leito, já tem muita gente que não tá sendo adequadamente atendido. A situação já é muito complicada, independe do número", disse.
"O colapso para mim se dá quando você não consegue dar uma assistência adequada para as pessoas, e a gente já está fazendo isso", completou.
Nesta quarta-feira (10), o secretário da Saúde de São Paulo reconheceu que a abertura de novos leitos de UTI não é uma medida capaz de, sozinha, conter o avanço da pandemia no estado.
"Ampliamos leitos e continuaremos a ampliar leitos, mas nós não daremos conta de abrir mais. Eu vou repetir: nós não daremos mais conta de abrir mais leitos. Precisamos da ajuda de todos. Precisamos que todos fiquem em casa e só saiam em condições de absoluta necessidade, que usem máscaras, que evitem as aglomerações. Nos ajudem para que, dessa maneira, possamos ajudar a todos", disse Jean Gorinchteyn.
Desde o começo de março o estado de São Paulo registra consecutivos recordes nos indicadores de saúde da Covid-19. Nesta quarta (10), a média diária de mortes por Covid-19 no estado foi de 313 óbitos, recorde pelo terceiro dia seguido. A taxa média de ocupação de UTIs em todo o estado, com 83%, também foi a maior de toda a pandemia, e o número de pacientes internados em UTI e enfermaria chegou a 20,8 mil, outro recorde.
Mortes na fila de espera
Ao menos 38 pacientes com coronavírus morreram na fila de espera por leitos de (UTI) no estado de São Paulo nestes primeiros nove dias de março, de acordo com levantamento feito pelo G1.
As mortes de pacientes que aguardavam liberação de leitos intensivos ocorreram em cidades localizadas na Grande São Paulo e no interior do estado.
Em praticamente todos os casos de mortes na fila de espera, as prefeituras ou os hospitais responsáveis pelos pacientes disseram que vagas de UTI haviam sido solicitadas por meio do sistema estadual de regulação de leitos, o Cross, mas que os pedidos não foram atendidos – seja por indisponibilidade de vagas, seja por impossibilidade de fazer a transferência de pacientes em estado grave.
A Secretaria da Saúde disse que não negou leitos e que as transferências não ocorreram porque os pacientes não puderem ser removidos com segurança devido ao quadro de saúde instável.
Fonte: G1