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Bolsonaro adota 'Plano Vacina' para tentar estancar perda de popularidade


09/03/2021
 

Com a adoção de uma retórica pró-vacina, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu início a uma ofensiva política para tentar estancar perda de popularidade causada pela aumento do número de mortes e pela tímida evolução na imunização da população contra o coronavírus.

A tentativa de reação do presidente a um desgaste de imagem foi apelidado no Palácio do Planalto de Plano Vacina. Ela envolve tanto publicações nas redes sociais para mostrar o esforço da gestão federal na compra de imunizantes quanto a gravação de vídeos sobre investimentos feitos no setor da saúde.
 
Segundo relatos feitos à Folha, o Ministério da Saúde repassou ao Palácio do Planalto uma prestação de contas do que foi feito até o momento no combate à doença. A proposta é que as medidas sejam exploradas na tentativa de rebater a crítica de que o presidente tem falhado no combate à doença.
 
O plano prevê ainda que Bolsonaro reduza as frentes de tensão criadas por ele desde o início da pandemia, o que, na avaliação de assessores presidenciais, diminuiu o apoio a ele nas redes sociais e impactou em sua aprovação em pesquisas de opinião.
 
Apesar de não ter abandonado a defesa de medicamentos sem eficácia e as críticas a prefeitos e governadores pelas medidas restritivas, o presidente incorporou um personagem que tem a vacina como prioridade, deixando para trás a campanha anti-imunização que protagonizava até recentemente.
 
A estratégia, que começou a ser delineada na semana passada, foi explicitada nesta segunda-feira (8). Na tentativa de rebater desgaste causado pela recusa no ano passado de vacinas da Pfizer pela gestão federal, o Palácio do Planalto entrou em contato com a farmacêutica.
 
Segundo assessores presidenciais, integrantes da Casa Civil procuraram executivos da empresa na última sexta-feira (5) e pediram uma videoconferência com o presidente, que foi realizada nesta segunda com a participação do CEO mundial da farmacêutica, Albert Bourla.
 
"Quero apenas agradecer a gentileza deste encontro. Reconhecemos a Pfizer como uma grande empresa mundial, com grande espaço no Brasil também", disse Bolsonaro.
 
"E em havendo, repito, possibilidades, nós gostaríamos de fechar contratos com os senhores até pela agressividade que o vírus tem se apresentado no Brasil", concluiu, em gravação divulgada em suas redes sociais.
 
Aos jornalistas coube ao ministro da Economia, Paulo Guedes, inaugurar o novo posicionamento pró-vacina do governo. "Acho que a vacinação em massa agora é a primeira prioridade do governo", afirmou após reunião com a Pfizer.?
 
A mudança de postura ocorre após o bunker digital do Palácio do Planalto ter identificado uma diminuição de engajamento de internautas bolsonaristas em defesa da postura anti-vacina do presidente. Segundo relato feito à Folha, a diminuição se acentuou na semana passada.
 
O receio se potencializou após pesquisas de opinião, promovidas por instituições financeiras, apontarem queda nos índices de popularidade do presidente por causa da piora da pandemia do coronavírus. Uma delas inclusive, segundo relato feito à Folha, foi entregue na semana passada a assessores palacianos.
 
O cenário negativo levou o Palácio do Planalto a montar uma estratégia de reação que, na avaliação de aliados do presidente, se tornou ainda mais necessária com a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin que permite ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato em 2022.
 
A postura pró-vacina do presidente, no entanto, não tem convencido nem mesmo deputados da base aliada. Eles lembram que Bolsonaro já moderou o discurso em outras ocasiões, mas, na sequência, voltou a adotar retórica agressiva, recorrente em sua trajetória política.
 
"Não é possível saber se é uma mudança que vai durar ou se é apenas conjuntural. Mas não há como negar a importância de o presidente ter promovido uma reunião com a Pfizer", disse o governador do Piauí, Welligton Dias (PT), representante do Fórum dos Governadores do Brasil.
 
Para fazer um contraponto a Bolsonaro, os presidentes da Câmara e do Senado têm sido pressionados por governadores e parlamentares a criarem uma espécie de frente paralela de enfrentamento à pandemia do coronavírus.
 
A ideia é que eles atuem como intermediadores na relação entre os governos federal e estaduais. Um dos formatos discutidos seria a criação de um gabinete de crise, sob a liderança do Congresso, mas com a participação de membros do Ministério da Saúde e do próprio ministro, Eduardo Pazuello.
 
Em reunião de líderes de bancadas nesta segunda, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, foi duramente cobrado para aderir ao pacto nacional proposto pelos governadores. A cobrança partiu de senadores da oposição e também mais próximos do governo.
 
O líder da maioria, Renan Calheiros (MDB-AL), foi um dos parlamentares que trouxe a questão à tona durante a reunião. Afirmou que o Senado deveria atuar em duas frentes, com a instalação da CPI da Covid-19 e também com a adesão ao pacto proposto pelos governadores.
 
"O Senado Federal não pode se omitir no momento mais grave da nação. Não pode faltar aos cidadãos. É imperiosa e inadiável a abertura da CPI da Covid, sob uma ótica técnica e despolitizada. Todos os critérios exigidos estão sendo atendidos. Não instalar a CPI é enfraquecer o Senado", afirmou.
 
Pacheco e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, se reuniram na tarde desta segunda e discutiram o pacto propostos pelos governadores. Lira manteve diálogo com os chefes dos Executivos estaduais ao longo do fim de semana.
 
"Nós estamos alinhando ações efetivas para poder acompanhar o trabalho necessário ao enfrentamento da pandemia. Além das proposições legislativas, estamos discutindo ações efetivas para contribuir com o Executivo", informou por meio de nota.
 
Para não criar mais zonas de tensão, o presidente desistiu, pelo menos no curto prazo, de fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, o que era aguardado desde o início da semana passada. A ideia era que ele criticasse as medidas restritivas na gravação.
 
Para não deixar de falar com seu eleitorado mais radical, no entanto, o presidente manteve discurso populista na interação com seus apoiadores na porta do Palácio da Alvorada. Ele disse que não usará o que chamou de "meu Exército" para executar lockdowns ou outras medidas restritivas.
 
"Vou só dar um recado aqui: ?alguns querem que eu decrete lockdown. Não vou decretar. E pode ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. O meu Exército, que é o Exército de vocês. Então, fiquem tranquilos no tocante a isso daí", disse.
 
Mais cedo, em suas redes sociais, o presidente publicou um vídeo em que um homem discute com policiais militares que o abordaram para que cumprisse decreto de restrição de circulação em um município que não é identificado na postagem.?
 
De acordo com auxiliares, não está na programação do presidente nenhuma viagem como as que ele tem feito semanalmente provocando aglomerações de pessoas sem máscaras em localidades que, muitas vezes, não têm estrutura de saúde adequada para atendimentos de pacientes graves de Covid-19.
 
Porém, para celebrar o Dia Internacional da Mulher, Bolsonaro reuniu cerca de 20 funcionárias do Palácio do Planalto para um almoço.
 
Fonte: Folha de SP
 
 
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