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Técnicos e enfermeiras de hospital em SP relatam dia a dia de medo, esperança e saudade das mães


11/05/2020

 

 

 O trabalho de auxiliares, técnicos e enfermeiros tem sido fundamental para o enfrentamento da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

 
Eles são os responsáveis por cuidar diretamente da medicação, da alimentação, do banho e dos equipamentos que mantêm os sinais vitais dos internados nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com a doença.
 
Cinco profissionais do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na Bela Vista, região central da cidade de São Paulo, conversaram com a Folha após o plantão.
 
Com as marcas deixadas no rosto pelo uso contínuo de máscaras, o grupo falou sobre o medo que sente, a alegria gerada pela recuperação dos pacientes e como será o Dia das Mães nesta pandemia.
 
 
‘O MAIOR PRESENTE É VER UM PACIENTE FALAR NA UTI’
Myrcea Maria de Carvalho Suzuki, 43, enfermeira
 
Trabalho há 22 anos em hospital. Lidero uma pequena equipe de enfermeiros e técnicos. Sim, nós temos medos e apreensões todos os dias, mas quando a equipe é boa, a situação fica mais tranquila.
 
Antes de eu começar meu plantão, eu peço a Deus proteção para que ele oriente toda a minha equipe no que for necessário. Inicialmente, a gente recebeu pacientes muito graves com Covid-19.
 
Então, eu sei que eles precisavam muito mais dos nossos cuidados mesmo eu sabendo da chance real de contaminação.
 
A gente uniu conhecimento com assistência, e conseguimos suprir o que eles estavam precisando na primeira fase da crise, que me marcou muito.
 
A coisa que mais me emociona é ver o paciente que entrou em estado grave começar a falar e a entender os nossos comandos na UTI.
 
Quando você ouve o seu paciente falando e entendendo tudo não existe presente melhor para uma enfermeira.
 
Eu sou mãe —tenho um filho pequeno. Meu dia será diferente. Minha mãe mora no interior do Paraná e a gente não se vê há três meses. O meu carinho vai chegar até ela pelas redes sociais. Mas onde uma enfermeira vai comemorar o Dia das Mães mesmo? No hospital, claro. 
 
 
 
‘EU ME VI FAZENDO PARTE DE UM FILME DE TERROR’
Simone Caroline Maluf, 29, enfermeira
 
Eu trabalho na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] faz sete anos. O momento mais difícil foi no início da pandemia. Parecia que eu estava dentro de um filme de terror pela quantidade de gente que chegava ao mesmo tempo no hospital.
 
Eu não esqueço quando o hospital separou um leito de UTI para receber o primeiro paciente contaminado pelo novo coronavírus. Só não imaginei que, desse primeiro caso, fosse aumentar tanto.
 
Também foi um pouco assustador ver esses pacientes todos sendo intubados e ficando em um estado muito grave. Um momento que me marcou muito foi quando eu caminhei pelo corredor do hospital, olhei para cada paciente e vi todos eles com muita dificuldade para respirar.
 
O início, de fato, foi muito desgastante, principalmente, na parte psicológica porque aquelas cenas me deixaram muito cansada. Eu só quero que as pessoas se conscientizem sobre essa doença.
 
Eu, que trabalho num hospital, tenho a noção do estrago que ela faz. O vírus não atinge só os idosos, mas vários tipos de pessoas e faixas etárias.
 
Faz dois meses que não vejo os meus pais, e hoje é o Dia das Mães. Quando eu vou poder ir para Barretos [interior de SP] para dar um abraço neles? Não sei e isso me deixa chateada. O meu abraço para a minha mãe, como o de todo mundo, será virtual.
 
 
 
‘ME EMOCIONO MUITO NO DIA DAS MÃES’
José Heliton Santos, 30, técnico de enfermagem
 
Eu trabalho todos os dias cuidando de pacientes que chegam em estado muito grave por causa da Covid-19.
 
Por ser uma doença nova, eu estou aprendendo a lidar com ela todos os dias. Quando a UTI foi enchendo, eu pensei: será que vai ser sempre assim? Daí veio a primeira sensação de medo.
 
Mas com o passar do tempo e com o entrosamento da equipe, eu estou conseguindo lidar melhor com tudo o que está acontecendo. Os casos de cura e recuperação ainda são difíceis.
 
A gente se alegra muito quando vê um paciente deixando a UTI. Eu tenho controlado o medo seguindo à risca todas as barreiras de proteção já recomendadas pelas entidades de saúde.
 
Quando eu penso que neste domingo (10) será o Dia das Mães, eu me emociono porque é uma data muito importante. Já são três meses sem ver a minha mãe e o meu pai. A gente mora bem perto, mas não conseguirei dar o abraço e o beijo principalmente nela.
 
Preciso ficar longe deles. Mas, mãe, fique tranquila que o seu presente já foi comprado e vai chegar na sua casa pelos Correios. Te amo!
 
 
 
‘TENHO MAIS CONTROLE HOJE PORQUE SEI COMO PROCEDER’
Jéssica Tenório, 30, técnica de enfermagem
 
Eu tenho um medo mais controlado, agora, porque sei como proceder no ambiente hospitalar. Lidar com o desconhecido é que foi o mais assustador.
 
Não sabia o que tinha pela frente e nem como encarar tudo aquilo. O medo só ainda persiste porque não quero me contaminar para não levar o vírus para os meus pais, que são idosos.
 
Como uma típica enfermeira, passarei o Dia das Mães longe da minha. Estarei de plantão. Mas mesmo se estivesse em casa, não teria mais aquela confraternização que a gente já estava acostumada a fazer.
 
Ela vai receber o meu carinho também de forma virtual.
 
 
 
‘LIDAR COM O DESCONHECIDO É A PIOR COISA DA PANDEMIA’
Silvânia Venâncio da Silva, 40, técnica de enfermagem
 
Agora as coisas estão um pouco mais no eixo, mas nem queiram imaginar o que eu passei no início da pandemia.
 
O mais difícil foi lidar com o desconhecido. Na hora de cuidar do paciente, não havia protocolo, o como fazer. Eu fazia essa pergunta: como fazer o melhor trabalho e de maneira segura para mim e para o meu paciente?
 
Tenho 15 anos de enfermagem, e foi duro ver as pessoas internadas ali sozinhas, sem poder contar com o apoio das famílias delas. O afeto faz toda a diferença nessa hora.
 
Não sou mãe, mas tenho a minha. Então, o meu domingo vai ser assim: vou trabalhar no período da manhã no hospital e, depois, ficarei em casa com ela. Mas sempre a distância, né.
 
Minha mãe vive acamada. Sei de todos os cuidados que preciso tomar para não levar nenhuma contaminação para dentro de casa.
 
Eu sempre usei máscara por causa da minha profissão e da minha mãe. Mas muita gente tem achado ruim. Mas é o melhor a se fazer.
 
Toda vez que chego ao trabalho, passo o meu crachá e recebo essa mensagem na catraca: tudo vai ficar bem. Que assim seja!
 
Fonte: Folha deSP
Foto: Zanone Fraissat
 
 
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