O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) apresentou à Polícia Civil ontem à tarde o nome dos manifestantes bolsonaristas que agrediram tanto fisicamente como verbalmente três enfermeiras durante ato pacífico dos profissionais da saúde que aconteceu na Praça dos Três Poderes, no Dia do Trabalho (1). “São dois nomes suspeitos e um terceiro que a gente sugeriu que fosse investigado também. Dois homens e uma mulher”, informou Marcos Wesley, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF).
O Coren-DF e o Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal vão prestar auxílio individual às vítimas. Além disso, Marcos Wesley afirma que foi feito uma representação judicial junto ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) hoje pela manhã. “Nós estamos apoiando a todos neste momento, porque apesar de terem sido três vítimas de agressão física, todos os 55 enfermeiros que estavam presentes no ato foram agredidos verbalmente, então também estamos acolhendo esses profissionais e dando orientações para caso eles tenham interesse de entrar de forma individual na justiça”, complementou Marcos Wesley.
A denúncia é relativa às agressões que ocorreram na última sexta-feira (01). Um grupo de enfermeiros e enfermeiras foram atacados tanto verbalmente como fisicamente por manifestantes pró-Bolsonaro enquanto realizavam um ato silencioso em homenagem aos profissionais de saúde que morreram em decorrência da covid-19. Além disso, também foram defendidas as medidas de isolamento social durante o ato.
A enfermeira Ana Catarine Carneiro, de 31 anos, afirma que não havia expectativa alguma de briga ou revolta durante a manifestação. “Era para ser um ato pacífico em homenagem aos profissionais, principalmente aos que faleceram. (…) A gente achou que nada poderia ser motivo de conflito”. A agressão começou depois de alguns minutos, de forma inesperada.
“A gente chegou em um local da Praça dos Três Poderes que não tinha ninguém. Iniciamos o nosso ato com todo o cuidado, mantendo o distanciamento adequado, usando máscaras e tudo mais. (…) Estávamos na manifestação e chegou uma mulher de vestido longo filmando e perguntando ‘vocês são contra o Bolsonaro? Vocês são muito covardes em fazer isso’. (…) Infelizmente foi chegando mais gente, inclusive alguns homens com faixas de apoio ao Bolsonaro e que começaram a gritar, e começaram a xingar muito a gente. (…) Ficaram várias pessoas passando por nós e nos xingando”, relatou Ana Catarine.
Agressor é servidor
A agressão, inicialmente apenas verbal, se tornou física quando um homem identificado como Renan da Silva Sena, servidor terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, se aproximou do grupo enquanto gritava com as pessoas. “Ele começou a ameaçar uma enfermeira, falando que ia quebrar o dedo dela. Foi quando eu adotei a postura de ficar na frente dela para mostrar que ela não estava sozinha. Nesse momento, ele bateu o braço na minha cabeça e me empurrou”, conta a enfermeira. “O medo de sofrer uma agressão era menor do que a minha angústia de não fazer nada”, declarou.
Uma das enfermeiras que foi inicialmente abordada por Renan e que prefere não ser identificada afirma ter ficado profundamente abalada pelos insultos e pela agressividade dos manifestantes bolsonaristas diante de um ato pacífico. “Mas o que me marcou mais ainda foi que eu não conhecia a maioria das pessoas que estavam no ato. Eu não conhecia a enfermeira Ana Catarine e, no momento em que eu mais precisei, ela se jogou na minha frente para me proteger. Eu acho que a enfermagem saiu fortalecida depois disso tudo”, disse.
Após refletir sobre tudo que aconteceu no último sábado, ela questiona a motivação dos agressores. “O que acontece com essas pessoas? O que motivou elas? O que levou elas a pensar que a gente estava ali no intuito de prejudicar alguém? Por que chamaram a gente de genocida, sendo que só estávamos ali para ajudar as pessoas? Estávamos ali para homenagear aqueles que se foram, para pedir o isolamento social à população. A gente só estava ali querendo o bem e logo a gente foi hostilizada”, desabafou.
Uma das organizadoras do ato que não quis se identificar por medo dos agressores chegou a manifestar o desejo de deixar um recado a eles. “Voltem para casa, acreditem na ciência. Não é hora de ficar na rua. Não tem presidente que valha sua vida, não tem causa que valha o risco de morrer”, afirmou, revoltada, a mulher.
Saiba Mais
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requisitou à Polícia Civil do DF (PCDF) a apuração de agressões sofridas também por jornalistas durante manifestações recentes. Os resultados das investigações devem ser remetidos em 30 dias ao Ministério Público para as providências cabíveis. O documento foi assinado pelo Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (Ncap).
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o fotógrafo Dida Sampaio foi agredido enquanto registrava imagens em frente à rampa do Palácio do Planalto, em área restrita à imprensa. O motorista do jornal, Marcos Pereira, integrante da equipe de reportagem, também foi agredido fisicamente. Outros repórteres do jornal e de outros veículos de imprensa ainda relataram ameaças e agressões verbais. O fato foi amplamente noticiado pela imprensa. Na sexta-feira, 1º de maio, profissionais de enfermagem também foram ofendidos enquanto promoviam manifestação pacífica na Praça dos Três Poderes, em homenagem aos colegas de profissão que morreram por Covid-19.
Nesta segunda-feira, 4 de maio, o procurador-geral da República, Augusto Aras, enviou ofício à Procuradoria de Justiça do DF, em que solicita a apuração dos fatos.
Fonte: Jornal de Brasilia
Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters