Testes, monitoramento da capacidade hospitalar e dados regionalizados regerão a reabertura do estado de São Paulo a partir de 11 de maio, quando os 645 municípios entrarão em uma fase de "quarentena heterogênea" para conter a pandemia do novo coronavírus, anunciou o governador João Doria (PSDB) nesta quarta-feira (22).
A reabertura de escolas não é ainda prevista.
Apesar de ter divulgado os parâmetros para o encerramento gradual do isolamento social, o governo não deixou claro, contudo, com que metas trabalhará dentro de cada um deles no chamado Plano São Paulo, apresentado como uma confluência de sugestões das equipes de economia e de saúde.
A gestão Doria estima que o estado contará com um saldo de 3.200 mortos na primeira semana de maio (quase o triplo dos atuais 1.134) e avalia, no momento, haver indícios de que o estado esteja "achatando a curva" de infectados pela Covid-19, o que significa desacelerar o avanço da doença para que os hospitais possam lidar com a demanda.
Lembra, entretanto, que o quadro da pandemia é fluido, e protocolos sanitários e conclusões científicas mudam constantemente neste caso.
Assim, o estado fará o acompanhamento da disseminação, comparando cenários possíveis da evolução do vírus, e os novos protocolos serão definidos conforme a situação de cada região do estado e cada setor da economia.
"Os critérios da nova quarentena, a partir do dia 11, serão diferenciados e de acordo com dados científicos apurados por cidades e regiões do estado", disse Doria.
A abertura visa sobretudo retomar a atividade econômica, abalada pela restrição à circulação ainda que Doria afirme que 74% da economia paulista esteja operante.
Segundo a secretária do Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, o comércio, a economia criativa e cultura e o turismo são as três áreas mais vulneráveis no estado, sendo o microempreendedorismo a prioridade do governo neste primeiro momento.
Dentro desses setores, os diferentes ramos terão protocolos específicos.
O governo afirma que, para o plano, se espelhou na experiência de outros países e recomendações de órgãos internacionais e da ciência.
Entre elas, estaria a testagem em massa, algo distante da capacidade do estado, que processo hoje 5.000 testes por dia e pretende chegar a 8.000 por dia em duas semanas.
Esse número sucinto de exames, atualmente restrito a profissionais da saúde e da segurança e a doentes graves, impõe um desafio para o monitoramento da situação real da pandemia no estado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dois dos requisitos para um país afrouxar sua quarentena são a capacidade de testar todos os casos suspeitos e de isolar todos os confirmados.
O Ministério da Saúde deixou de divulgar o total de casos suspeitos no Brasil a partir do dia 19 de março. O número de casos confirmados em São Paulo, até agora, está em quase 16 mil, mas um estudo feito com base no Rio Grande do Sul estima que o número real possa ser sete vezes maior.
Com uma população de 83 milhões de habitantes (pouco menos que o dobro do estado de São Paulo), a Alemanha iniciou o plano de reabertura da sua economia nesta segunda-feira (20) e citada na apresentação da equipe de Doria.
O país tem capacidade de fazer 100 mil testes por dia, e realiza cerca de metade disso efetivamente. O estado de Nova York, nos EUA, já realizou mais de 649 mil de testes em uma população de pouco menos de 20 milhões.
O governo também divulgou que a taxa de ocupação dos leitos de UTI destinados a Covid-19 no estado é de 55,3%, e de 40,5% para leitos de enfermaria (considerando a rede pública e a privada). O índice é considerado satisfatório, embora na capital o sinal amarelo esteja aceso, com mais de 73% dos leitos de UTI públicos e privados ocupados.
Segundo a secretaria de saúde, existem no estado 4.300 leitos de tratamento intensivo exclusivos para pacientes com o vírus e, somados leitos de enfermagem, atualmente são 6.162 pessoas internadas.
O Instituto de Métricas de Saúde da Universidade de Washington projeta que na Alemanha, país que não chegou perto de saturar seu sistema, atualmente são necessários pouco mais de 7.000 leitos para atendimento da Covid, enquanto o país oferece um total de mais de 130 mil.
Outro ponto de atenção da OMS e que São Paulo também colocou entre suas diretrizes para a reabertura é a "transmissão controlada" --que a taxa de transmissão não supere um por paciente, e que, portanto, a curva de infecção se estabilize.
O estado tem atualmente 1.134 mortes por coronavírus e projeta dois cenários: chegar a 2,9 mil ou 3,2 mil mortes até o início de maio.
Por fim, resta aferir os dados de cada município, região e de cada setor da economia. A doença tem se dispersado de forma desigual no estado, mas nos últimos dias cidades pequenas já assistem a um avanço da infecção, e dada a limitação de testagem a subnotificação é alta, sobretudo em casos leves.
"Ninguém aqui disse abertura de escolas e comércio, isso não foi mencionado. Não há essa deliberação. Esse planejamento é feito com muito cuidado e com muito zelo. Os detalhes só serão anunciados no dia 8 de maio se todas as circunstâncias permitirem", disse o governador.
Ele afirmou também que vai dialogar com os municípios para que eles cumpram as determinações, mas que, caso seja necessário, não descarta tomar medidas legais.
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O anúncio foi feito ao lado de David Uip, que lidera o comitê especial da crise de coronavírus, e dos secretários José Henrique Germann (Saúde), Henrique Meirelles (Fazenda) e secretária Célia Parnes (Desenvolvimento Social), entre outras autoridades.
Segundo Ellen, a retomada será amparada por critérios de saúde e econômicos.
O estado promete acompanhar os parâmetros que estabeleceu e comparar diferentes cenários de evolução do vírus para tomar as medidas.
As novas medidas atenderão a cinco focos: distanciamento entre pessoas, protocolos de higiene, sanitização de ambientes, comunicação e monitoramento da situação.
A equipe do governo já tem detalhado por município os dados de novos casos e mortes, porém, o levantamento quanto à situação dos leitos em cada cidade ainda está sendo finalizado.
Em entrevista à Folha na terça (21), Doria adiantou que os detalhes aprofundados sobre o processo de afrouxamento do isolamento social serão anunciados no dia 8 de maio.
Fonte: Folha de SP