A quantidade de testes em pessoas com suspeita da Covid-19 ainda é insuficiente no Brasil. Por esse motivo, muitos especialistas acham que as taxas de contaminação e de mortalidade podem ser maiores do que os números oficiais.
A empresária Maristela Duarte Andreoli vive o luto pela perda do marido. Carlos Eduardo, de 59 anos, morreu na última sexta (27) depois de apresentar tosse, cansaço e comprometimento dos pulmões. O resultado do exame de Covid-19, feito há uma semana, ainda não saiu.
“Eu fiz o enterro dele no sábado e eu já me senti mal. Eu não tenho o resultado, só tenho o resultado que eu e ele não tivemos a influenza. H1N1 saiu na hora, mas o do corona, não”, contou.
Existem dois tipos principais de testes para o novo coronavírus. O mais preciso é o RT-PCR: amostras de secreção do nariz e garganta são coletadas com uma haste flexível.
A análise demora pelo menos 12 horas e detecta, com 90% de certeza, se o vírus está ativo, mesmo em pacientes que começaram a apresentar sintomas há apenas um dia.
“Esse é principal teste, o teste ouro. É um teste de difícil execução, precisa de profissional treinado, precisa de máquina específica, precisa de um kit específico, precisa desenvolver o método. Só que o teste não está muito disponível. Teve uma alta demanda e a maioria dos laboratórios não estão conseguindo entregar o teste”, explicou Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, médico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica.
Só em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz, o único que atende a rede pública do estado, tem 14 mil exames como esse esperando resultado.
O infectologista Jean Gorinchteyn diz que além da falta de estrutura nos laboratórios do país, faltam insumos.
“Exatamente produtos, reagentes que são utilizados na testagem, como também a limitação do número de pessoas, de técnicos que façam realmente a interpretação desses exames, fazendo com que haja um retardo no fornecimento dos resultados para as instituições hospitalares”, disse o infectologista do Hospital Emílio Ribas.
Governos do mundo inteiro também estão recorrendo a um outro tipo de teste: os testes rápidos: 500 mil kits chegaram na segunda-feira (30) da China. Eles serão analisados pela Fiocruz antes de serem distribuídos aos estados.
O teste rápido é feito com uma amostra de sangue, uma picada no dedo. Em dez minutos, ele detecta os anticorpos que o organismo produz para se defender do novo coronavírus. Mas, como esse tempo varia de pessoa para pessoa, o teste é indicado apenas a partir de sete dias depois do início dos sintomas. IgM indica que a pessoa está doente. IgG, que já teve a doença.
“Isso é uma ferramenta para o sistema de saúde saber como administrar dinâmica populacional intensa em movimento”, explicou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Atualmente o Ministério da Saúde recomenda que sejam testados apenas pacientes internados e profissionais da saúde. O ministro disse que o governo pretende fazer o exame PCR, mais preciso, num esquema de drive-thru.
“Nós fechamos o contrato com um pool de laboratórios privados. Vamos fazer os ‘check points’, que as pessoas chamam de drive-thru. A gente faz a logística e centraliza isso tudo em São Paulo e no Rio. Em 24 horas a gente devolve no aplicativo para a pessoa e para o sistema de saúde. Esse teste sim, esse é o que nós vamos levar quase como um mantra nosso, pra gente saber a velocidade de propagação. E o outro, nós vamos usar muito pra saber em qual velocidade de percentual da população que tem anticorpo”, explicou Mandetta.
Vendo os casos aumentarem e sem saber exatamente o número total de pessoas com o novo coronavírus, municípios de várias partes do país resolveram comprar kits por conta própria. No estado de São Paulo, as sete cidades do ABC anunciaram que vão adquirir um milhão de testes rápidos, o suficiente para realizar testes em 36% da população. Já Niterói, no Rio de Janeiro, quer ser o primeiro município do país a fazer testes em massa.
A cidade com quase 20% da população acima de 60 anos, vai receber esta semana 40 mil testes importados dos EUA. A ideia é identificar as pessoas contaminadas, isolar os infectados e minimizar a propagação do vírus.
“Quando eu exerço esse poder dos testes de ajudar, de apoiar as autoridades de saúde a criar estratégias de bloqueios, muitas vezes até mais efetivos, eu também permito aquele achatamento, uma progressão mais lenta do número de casos, bem como o número de casos graves que acabam impactando nos hospitais”, defendeu Jean Gorinchteyn.
Fonte: G1