Em relatório sobre a desigualdade de renda divulgado neste mês (4), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que 10% da mão de obra empregada no mundo concentra salários que equivalem a 48,9% de todos os pagamentos. No Brasil, o índice foi estimado em 41,3%, segundo números de 2017. Levantamento revela estagnação na redução da concentração de renda entre os brasileiros.
Segundo os números reunidos pela OIT, no triênio 2004-2006, os 10% mais ricos entre os trabalhadores brasileiros tinham rendimentos que, somados, representavam 47% dos valores pagos em salários no país. A partir de 2007, começa um movimento decrescente — a taxa cai para 45% e chega a 41% em 2012. Daí em diante, o índice sofre alterações menores. Em 2016, cai para 40,9%, mas volta a subir para 41,3% no ano seguinte.
Em nível global, a agência da ONU aponta que em torno de 300 milhões de trabalhadores ganham uma média de 7.500 dólares por mês. Mas metade de todos os empregados — em torno de 1,6 bilhão de pessoas — ganham apenas 200 dólares por mês, e os rendimentos mensais dos 10% mais pobres somam apenas 22 dólares.
“Os 10% mais pobres precisariam trabalhar mais de três séculos para ganhar o mesmo que os 10% mais ricos ganham em um ano”, afirma Roger Gomis, economista do Departamento de Estatísticas da OIT.
Se os trabalhadores fossem divididos em duas metades — uma com os maiores salários, outra com os menores —, a parcela de menor renda responderia por apenas 6,4% dos valores pagos em rendimentos aos trabalhadores. Na África Subsaariana, essa proporção é ainda menor (3,3%). Mas na União Europeia, o índice sobe para 22,9%.
“A maioria da força de trabalho global aguenta pagamentos chocantemente baixos e, para muitos, ter um emprego não significa ter o suficiente para viver”, aponta Gomis.
De acordo com o especialista, um aumento de 1% nos rendimentos dos mais bem assalariados do mundo provoca uma diminuição substancial na renda de todos os outros trabalhadores, em particular dos que ganham menos — que podem ver reduções de 1,6% em seus salários.
A OIT aponta que, inversamente, crescimentos nos salários dos indivíduos de renda média tendem a gerar aumentos em todas as outras faixas de renda, mesmo as menores.
Segundo Gomis, isso mostra que existe uma complementaridade entre os diferentes níveis de salário que estão fora da parcela mais rica.
“Ganhos para os 80% (dos trabalhadores de salários) inferiores tendem a ser amplamente compartilhados. Em contraste, aumentos para os de cima são compartilhados de forma muito estreita, favorecendo apenas os rendimentos no topo.”
A pesquisa da OIT também calcula a proporção do Produto Interno Bruto (PIB) que é, de fato, distribuída para os trabalhadores sob a forma de renda salarial. Em nível global, esse índice caiu de 53,7% em 2004 para 51,4% em 2017. No Brasil, a taxa subiu de 56,1% para 60,4% — com picos de mais de 61,5% em 2016 e 2015.
Fonte: ONU Brasil