Representantes dos cerca de 1 milhão de trabalhadores da saúde do Estado de São Paulo, das áreas de enfermagem, administração e apoio, lotaram as galerias do plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para prestigiar as homenagens ao Dia Estadual do Trabalhador da Saúde, comemorado em 12 de maio.
A sessão solene aconteceu na última sexta-feira, dia 17 de maio, mas foi além das homenagens e destacou as maldades que o governo tem feito contra o trabalhador simples. Doze trabalhadores, representantes dos sindicatos filiados à Federação Paulista da Saúde receberam premiações em nome da categoria. Entre os homenageados esteve Silvana Gibin, profissional da saúde e sócia do Sindicato da Saúde de Jaú há 40 anos (abaixo, depoimento dela)
O Dia Estadual do Trabalhador da Saúde foi instituindo em lei em 2004pelo então governador Geraldo Alkmin, após umprojeto de lei de autoria do deputado estadual Rafael Silva, que desde então coordena a sessão de homenagem no plenário da Alesp, a casa dos deputados paulistas. O trabalho pela valorização da categoria vem de longa data, segundo a Federação, que já em 1990 chegou a conquistar o benefício do feriado da categoria.
Além de Rafael Silva, a sessão contou com Edison Laércio de Oliveira, presidente da Federação dos Trabalhadores da Saúde;Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT);Canindé Pegado, secretário-geral da UGT, além do deputado tenente Manoel Nascimento e do vereador por Franca Claudinei da Rocha. Destaque, porém, para os cerca de 500 profissionais da saúde presentes na cerimônia.
A delegação de Jaú contou com a homenageada, Silvana, que foi acompanhada de convidadas pessoais, entre elas a filha Lara, que é psicóloga que atende na sede do sindicato. A diretoria do sindicato se fez representar pela presidente, Edna Alves, e pelas diretoras Maria Ivanilde de Araújo Almeida (tesoureira), Cleusa de Fátima Jacintho (Conselho Fiscal) e Marta Regina Ramos Diório.
No discurso de todos estavam a reconhecimento ao trabalhador da saúde, quase nunca valorizado em seu ambiente de trabalho. E ainda as críticas à proposta de reforma da Previdência Social, que traz uma série de maldades contra o trabalhador, incluindo aposentadoria só aos 65 anos de idade e o fim da aposentadoria especial aos 25 para quem trabalha na saúde em local insalubre.
Para Rafael Silva, a saúde não é só importante, é primordial. “Precisamos realmente desse carinho para com o pessoal da saúde. Já passei por atendimentos em hospitais e, olha, esse povo, está lá trabalhando. Desempenham um verdadeiro sacerdócio."
Na opinião dele, quem trabalha na saúde faz mais do que apenas trabalhar. "É uma dedicação de vida, de amor, de carinho. As pessoas, quando estão fragilizadas pela saúde, encontram na enfermagem esse carinho." A homenagem da Alesp, segundo ele, é um pouco do reconhecimento que a categoria merece pelo exercício que desempenha.
De forma geral, disse que no Brasil o trabalhador é valorizado, diferentemente do empresário e dos banqueiros. Apontou que o caminho para o trabalhador é buscar se informar para não ser alvo das enganações políticas. "Sem informação nós não formamos consciência."
Sobre a reforma da Previdência, diz que todos sabem ser necessária, mas qual a mudança a ser feita? "Será que o problema deste País é o trabalhador da saúde, o trabalhador simples? Ou será que o problema está numa esfera mais alta, onde pouca gente ganha mais do que quem realmente merece?"
Ele espera que o Congresso Nacional faça mudanças para garantir a cidadania de quem precisa. "Espero que o Congresso não se venda por cargos, por posições ou por verbas: tem de prevalecer a dignidade."
Ele diz que o trabalhador da saúde não vai suportar uma longa jornada até os 65 anos e pior ainda se ficarem desempregado aos 55, 60 anos. "Quando vão conseguir se aposentar?" "Qual a condição que terão aos 65 anos aqueles que limpam o hospital, que atendem na enfermaria, de noite, nos plantões?".
Por fim, lembrou que o País governa para transferir riquezas a banqueiros e especuladores. Falou dos mais de R$ 250 bilhões repassados aos bancos a título de juros da dívida pública. "Em dez anos, nossos governantes querem economizar R$1 trilhão com a mudança da Previdência, mas em dez anos o Brasil vai pagar mais de R$3 trilhões de juros da dívida para especuladores nacionais e internacionais." Ou seja, vai tirar do trabalhador para dar aos banqueiros.
O tenente Nascimento, deputado estadual, falou àplateia: "Vocês usam muitas vezes o seu tempo com pessoas que não são seus familiares, porque vocês têm compromisso com a vida." Lembrou-se de quando aos 8 anos foi curado de febre reumática e contou com uma enfermeira, que chegou a oferecer a casa dela para que ficasse perto do hospital na fase de tratamento.
"O que seria da sociedade sem vocês, o que seria de nós? Vocês não têm o reconhecimento salarial, não tem o incentivo, mas nem por isso abandonam o que é melhor da sociedade, que é cuidar da vida", completou Nascimento.
Para Ricardo Patah, presidente da UGT, é preciso uma reforma da Previdência que preze a igualdade entre os cidadãos. Para ele, não é possível uma categoria se aposentar com R$ 1.200,00. "Cuidam da saúde e quando conseguem se aposentar não tem uma aposentadoria digna."
Falou também que o Brasil não trata adequadamente a saúde, a educação e nem a cidadania de seu povo. Lembrou a reforma trabalhista, que tenta minar os sindicatos e a luta das entidades. O movimento sindical, garantePatah, ajudou a acabar com a ditadura, com a inflação e a criar a política de valorização do salário mínimo.
Edison Laércio de Oliveira, presidente da Federação Paulista da Saúde, lembrou que há 15 anos era criada a data que celebra o trabalhador da saúde e agradeceu ao deputado Rafael Silva pela presteza em propor a lei.
Destacou que mesmo com as tentativas do governo de acabar com o movimento sindical, a luta permanece. A prova disso seria o grande número de trabalhadores que lotaram o plenário para prestigiar a homenagem. "São 400 pessoas, no mínimo, vindas dos mais longínquos lugares para buscar o reconhecimento do povo de São Paulo."
O sindicalista destacou que vê no dia a dia a falta de reconhecimento à categoria. "Ganhamos muito pouco pelo que fazemos, mas não deixamos de atender ninguém. Muitas vezes vamos ao local de trabalho doente ou com alguém de nossa família doente, mas a dedicação é sempre a mesma."
Cumprimentou a todos que estiveram na Alesp para a sessão, representando o sindicato de cada região do Estado. "Sindicato hoje é uma palavra amaldiçoada na grande imprensa e por parte dos políticos. O sindicato deixa sua marca reivindicatória, de busca de direitos, de manutenção de direitos. Este é o movimento sindical brasileiro. E é este movimento que políticos, empresários, grande mídiaquerem acabar."
Edison Oliveira disse que tem alguma coisa errada nesse País e "não é o movimento sindical".É por isso que o novo governo age com maldade e tenta dar mais um tiro no sindicalismo: não deixando descontar mensalidade sindical na folha de pagamento. "Impede issodando dinheiro para banqueiros, porque boletos chegam a custar R$ 8,00. O movimento sindical vai resistir."
Ele foi mais duro ainda na proposta da reforma da Previdência do governo. "É outra enganação. Devemos defender a reforma da igualdade e esta que o governo quer não tem igualdade. Nós, trabalhadores da saúde, estamos perdendo de novoTodos aqueles que trabalham na estrutura da saúde têm o direito de buscar a aposentadoria especial. Labutam por 25 anos, mas este morre na reforma da Previdência."
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Homenageados 2019 na Alesp dão o seu recado
Mais de 400 trabalhadores da saúde de várias regiões do Estado de São Paulo ocuparam as galerias da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para acompanhar a sessão solene realizada em homenagem ao Dia Estadual do Trabalhador da Saúde, comemorado em 12 de maio.O evento aconteceu na última sexta-feira, 17 de maio.
Doze trabalhadores de diversas regiões do Estado paulista foram escolhidos para representar os colegas de profissão. Veja seus depoimentos
JAÚ
Silvana Gibin está há 42 anos na área da saúde. Hoje trabalha na Clínica Hemato Oncologia (transplante de medula) como técnica de enfermagem, mas sua carreira na área começou aos 17 anos no centro cirúrgico do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, como atendente. “A paixão pela área fez com que eu me aprofundasse e fiz o curso de técnica de enfermagem para poder melhor atender o próximo”, diz ela.
Ela ressalta que os trabalhadores da saúde precisam ser mais valorizados e com salários dignos. “Estou aposentada há 10 anos, mas ainda continuo trabalhando, porque gosto do que faço.” Ela destaca a filha, Lara, 23 anos, que seguiu na área. Ela é psicóloga no Sindicato da Saúde de Jaú.
ARAÇATUBA
Márcia Gomes Zaramello de Freitas, recepcionista na Santa Casa de Birigui há 30 anos, destaca o quanto é gratificante ser homenageada na Alesp. “Primeiramente, fiquei nervosa, mas depois do susto, muito agradecida por estar representando os colegas da minha região.” A profissional fala com convicção do prazer que é o ambiente hospitalar. “Somos uma família!”, diz, mesmo vendo o caos que está a saúde no País, ainda acredita que se “os governantes olharem para uma área tão essencial, ainda teremos uma chance de dias melhores”.
FRANCA
A técnica de enfermagem da Santa Casa de Franca, Irani de Fátima Caetano, que está na área da saúde há 27 anos, recebeu a notícia da homenagem emocionada. “Sempre participei dessa homenagem e agora chegou a minha vez. Isto me deixou muito grata e honrada”. Irani é uma dos muitos profissionais que, para garantir uma renda melhor, têm dois empregos. Há 10 anos também assumiu os trabalhos no Lar de Ofélia.
“A saúde é uma classe muito sofrida. É necessário mais investimento na área, inclusive mão de obra para que possamos trabalhar com mais tranquilidade. Os profissionais trabalham no seu limite, mas mesmo diante da sobrecarga de trabalho, o atendimento e a dedicação para com as pessoas são grandes, porque a categoria ama o que faz e faz com dignidade”, finaliza.
PRESIDENTE PRUDENTE
Valdir Marcondes de Oliveira, que trabalha na manutenção da Santa Casa de Presidente Prudente há 20 anos e também é diretor do Sindicato da Saúde daquela cidade, destaca a gratidão por ser o escolhido para representar seus colegas na Alesp. “É uma hora estar aqui representando aqueles que, por anos, fazem parte da minha família.” Ele destaca que a saúde precisa de mais investimentos para poder dar melhor atendimento. “É necessário mais valorização e humanidade com o povo mais carente.” Também ressalta a falta de união da categoria para empenhar a luta pela valorização.
SANTOS
O enfermeiro, Welington Alves de Brito, que está há 27 anos na área da saúde, deixou a profissão no Hospital São José depois de 14 anos dedicados a vários estabelecimentos hospitalares para assumir a de professor de Enfermagem na Escola Congonhas há sete anos.
Realizado com as escolhas, o profissional da saúde se sente gratificado por ser um dos que estão recebendo as horarias do Estado. Ele destaca que sempre participou e lutou para a valorização da categoria, “mas tem que haver mais união e participação dos trabalhadores da área para conquistarmos um futuro melhor para a saúde”.
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
A técnica de enfermagem, Denise Cristina Ferreira, do Hospital Pio XII, sente-se gratificada por ser uma das homenageadas. Segundo ela, a saúde não tem reconhecimento e destaca a falta de união da categoria. “Somos uma casta enorme, somos muito cobrados e trabalhamos em locais insalubres, mas não vemos melhoria, por isto, a categoria precisa ser mais unida se quiser vencer”, destaca a profissional.
CAMPINAS
Há 18 anos na área da saúde, Vanessa Aparecida Cunha, que trabalha no Hospital Augusto de Oliveira Camargo, em Indaiatuba, como técnica de enfermagem, destaca a alegria de fazer parte de uma homenagem tão importante e ser uma das representantes da categoria. “Fiquei lisonjeada em ser escolhida para representar a classe e os colegas da região.”
Ela destaca a falta de recursos, de mão de obra especializada, da valorização do profissional que não mede esforços para salvar vidas. Destaca também a falta de união da categoria. “A classe precisa se unir mais e se fortalecer para superar os problemas que ainda estão por vir. Se não houver união, não haverá conquistas”, diz.
SOROCABA
Benedito Arão dos Santos, do Hospital Santa Lucinda (PUC), auxiliar de enfermagem, é um apaixonado pela função que desempenhou por 33 anos e ficou surpreso quando chegou naAlesp e soube que era um dos homenageados. “É uma bondade dos amigos e trabalhadores e uma honra estar aqui representando os colegas.” Sua visão para melhorar a saúde está no reconhecimento dos políticos. “Eles devem olhar e investir mais em nós e ver os trabalhadores da saúde como solução e não entrave” e observa que para melhorar a saúde, tem que haver mais união dos trabalhadores. “Só com união maciça da categoria é que conseguiremos alcançar nos objetivos”, conclui.
RIBEIRÃO PRETO
A técnica de enfermagem do Hospital Beneficente Santo Antonio, de Orlândia, Rosana Aparecida FachiniPizzolato, há 28 anos na área, diz que “é gratificante o reconhecimento da base por ter me escolhido para representar os colegas”. Ela destaca a falta de união da categoria. “Os trabalhadores têm que se unir e lutar se quiser o reconhecimento dos governantes e deixar de olhar só para si e voltar os olhos para um todo”, diz.