A Oxfam Brasil traz aqui os resultados de sua segunda pesquisa de opinião realizada em conjunto com o Insti- tuto Datafolha. Trata-se de uma contribuição ao debate sobre a redução das desigualdades brasileiras a partir da percepção da população.
O Brasil segue como um dos países mais desiguais do mundo. Os desafios são profundos. As desigualdades que enfrentamos vão para além da renda, das crises econômicas ou fiscais. Construímos uma sociedade que normalizou a existência de cidadãos e cidadãs de primei- ra e de segunda categorias, daqueles que têm direitos e dos que não têm. Um país onde morar em periferias ou ser negro e negra já define, de antemão, a qual categoria você pertence.
É preciso enfrentar essa triste realidade com políticas sociais inclusivas, com direitos sociais garantidos, res- peitando os diretos humanos no seu conceito amplo e aprofundando a democracia.
Ouvir o que a população brasileira tem a dizer sobre esse tema é importante. Em que pese os imensos desafios na percepção pública sobre a distribuição de renda, ao me- nos 8 em cada 10 brasileiros acreditam que não é pos- sível progresso sem redução de desigualdades. Além disso, a confiança da população na responsabilidade do Estado para enfrentar as desigualdades é maioria.
Há apoio para uma tributação justa, que aumente a car- ga no topo da pirâmide. Existe um anseio por políticas públicas universais e de correção de desigualdades sociais e regionais. O papel da cor da pele na definição da renda, na contratação por empresas, na abordagem policial e no tratamento dado pela justiça aparece com força. A discriminação de gênero segue presente na per- cepção de brasileiras e brasileiros. De 2017 para cá, data da primeira pesquisa que fizemos com o Datafolha, há um crescimento na percepção do racismo e machismo na sociedade, ainda que isso não possa significar uma tendência.
Existem várias políticas e ajustes que necessitam ser discutidos no país. Porém só avançaremos se os temas do racismo, da discriminação de gênero e do respeito à diversidade, da discriminação pelo endereço de moradia, do assassinato de jovens de periferia tiverem a mes- ma urgência que os temas econômicos e fiscais. Ainda assim, é fundamental que nas soluções econômicas e fiscais exista um processo democrático e de discussão com a sociedade.
Esperamos, que esta pesquisa sirva para abrir discus- sões sobre a importância do papel do Estado no enfren- tamento das desigualdades. Esperamos ainda, contribuir para, a partir da percepção da sociedade, aprofundar o diálogo sobre a urgência em se construir um Brasil mais justo, solidário e humano.
Nós e as desigualdades: aos números!