Um grupo de 16 pesquisadores de diversas áreas —da ciência política à economia comportamental— produziu uma avaliação do estado da arte das notícias falsas. Em “The Science of Fake News”, publicado na revista Science (2018), os autores concluem que não existem evidências robustas sobre o efeito da exposição às fake news no comportamento político (por exemplo, comparecimento às urnas ou como se vota). A afirmação vale para fake news, não para campanhas políticas.
A análise mais rigorosa sobre a influência das fake news nas eleições americanas de 2016 —quando a questão adquiriu centralidade na agenda pública— foi levada a cabo por Matthew Gentzkow (Universidade Stanford) e colaboradores.
Os pesquisadores utilizaram várias técnicas para estimar o efeito das fake news sobre o voto e fizeram testes de robustez. É complexa a tarefa de identificar este efeito: uma grande proporção de notícias falsas pró-Trump foi vista por eleitores que já iriam votar nele.
Por outro lado, saber quantas pessoas se depararam ou compartilharam as notícias não é a mesma coisa que saber quantas efetivamente as leram ou foram de fato afetadas.
Embora considerem ainda preliminares os achados da pesquisa, os autores concluíram que o efeito não é estatisticamente significante: “É da ordem de centésimos de um ponto percentual, o que é muito menor que a margem de erro da vitória de Trump nos estados pivotais, dos quais o resultado dependeu”.
Em “Falando a Verdade Sobre Acreditar em Mentiras", o cientista político Adam Berinsky (MIT) relata um experimento buscando resposta para a seguinte questão: Quando as pessoas circulam fake news, estão revelando crenças arraigadas, ou trata-se apenas de “respostas expressivas”, voltadas para demonstrar sua rejeição a políticos e políticas, e não crença genuína em informação falsa?
Sua conclusão é que ao receber e compartilhar fake news nas sua redes, elas estão refletindo crenças arraigadas. Notícias falsas produzem polarização, mas não alteram o voto de forma significativa.
Esta conclusão sugere que as notícias só “pegam” quando ancoradas em uma estrutura de crenças estabelecida.
As pessoas preferem informação que confirme as atitudes pré-existentes (exposição seletiva), consideram informação consistente com suas crenças como mais persuasiva que informação dissonante (viés confirmatório), e são mais propensas a aceitar informação que lhes agrade (viés de desejabilidade).