Vargas Netto, Rogério Magri e Canindé Pegado chamam os sindicatos a resgatarem lutas nos locais de trabalho
O consultor sindical João Guilherme Vargas Netto, o secretário-geral da UGT Nacional, Canindé Pegado, e o assessor e ex-ministro do Trabalho, Antônio Rogério Magri, encerraram os trabalhos do Seminário da UGT-SP, na quarta, 1º de agosto, no Centro de Lazer da Fecomerciários em Praia Grande. O evento começou na segunda, 30 de julho, com mais de 300 dirigentes, para discutir três temas centrais: sindicalismo na conjuntura nacional, negociações coletivas pós-reforma trabalhista, e custeio das entidades sindicais, assunto do último dia do seminário.
Os três palestrantes falaram sobre “O Movimento Sindical no Contexto da Crise e o Futuro do Sindicalismo”. O primeiro painel foi de Vargas Netto, que elogiou o presidente em exercício da Central Estadual, Amauri Mortágua, e diretoria. “Faço esse registro porque nós do movimento sindical temos que valorizar iniciativas como essa feitas no momento certo e num curto espaço de tempo”. Em seguida, falou que o movimento atravessa uma grave crise, decorrente da recessão prolongada, do desemprego provocado pela lei da “deforma” trabalhista, e também de outros problemas que os sindicatos atravessam.
Três perguntas
Em seguida, citou dados do IBGE que mostra a realidade do nosso mundo do trabalho: dos 130 milhões de brasileiros aptos a trabalhar, mais de 60 milhões estão fora do mercado de trabalho. Esse contingente de 60 milhões inclui desempregos e desalentados, que são as pessoas que desistiram de procurar emprego. “Essa é a fonte principal das dificuldades que passa a nossa sociedade. Façam uma lista dos problemas do que isso significa, como o aumento da criminalidade”, diz Vargas Netto, que completou: “A crise do movimento sindical é grave. Mas, essa atual geração de dirigentes acredita que esta crise não seja de morte. Porém, de milagre, como aconteceu com o avião da Embraer que caiu dia 31 no México – em que todos os 101 passageiros e tripulantes se salvaram. Os dirigentes ainda não perceberam que o avião caiu, e que para sobreviver é preciso sair da aeronave. É procurar caminhos, alternativas, para se salvar e salvar suas categorias”.
Vargas fez três perguntas aos dirigentes sindicais, para que pensassem e não respondessem durante o Seminário:
1) Qual foi a última vez o dirigente esteve na base? 2) Qual a última vez que um trabalhador da categoria foi ao sindicato com um problema, qual foi o comportamento em relação ao problema apresentado e o que o dirigente fez para ajudar o companheiro? 3) Qual foi a última vez que o dirigente pegou o jornal do sindicato e distribuiu na base?
Vargas sublinhou: “Aposto que a maioria está sendo incompetente nessas questões. Os dirigentes têm que compreender que o avião caiu e que sair dele e defender seus companheiros é a única alternativa”, provocou o palestrante.
Vargas Netto disse ainda que é suicídio defender a tese de que benefícios da convenção só valem para associados. Apontou que a sindicalização só terá longevidade e fidelidade se os sindicatos mantiverem contato direto com a categoria, e que é tolice achar que o movimento sindical não tem acesso à grande mídia. Citou como exemplo o sucesso do Mutirão do Emprego da UGT e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, com fila de dez mil pessoas e mais de dois mil contratados, em que a mídia deu grande destaque. “Temos que fazer o que a sociedade espera. Fazendo isso, a mídia não pode nos ofuscar”, finalizou.
Encantar o trabalhador
O ex-ministro Magri começou sua palestra batendo firme nos três poderes da República. “Temos um Congresso Nacional envelhecido, um Judiciário apodrecido, um Governo corruto, e precisamos mudar essa situação. Um Brasil com mais de 13 milhões de desempregados, 20 milhões de aposentados, 25 milhões vendendo capinhas de celular nas ruas, e 40 milhões cuja média salarial é de pouco mais de R$ 900,00. Esse, com certeza, não é o País que queremos”.
Magri disse que está irritado com o movimento sindical, pois muitos dirigentes estão fora de sintonia com sua base, com os problemas provocados pela nova lei trabalhista, com outras reformas neoliberais do governo e Congresso, e ainda estendem tapete vermelho para os patrões, para suas entidades de classe para políticos descomprometidos com o movimento sindical, com os trabalhadores.
Para o ex-ministro, “hoje não basta agradar o trabalhador, tem que encantá-lo”. Esse é o grande desafio para os dirigentes sindicais, segundo Magri. “Se for para a base e não convencer o trabalhador, não adianta nada. É preciso ser simples, falar a linguagem do trabalhador. Do contrário, é perda de tempo”.
Pesadelo não acabou
Já Canindé Pegado, o último a falar à plateia, começou alertando os dirigentes: “Quem acha que o pesadelo no mundo do trabalho terminou com a celerada reforma trabalhista, está totalmente enganado. Quem acha que a reforma está concluída, também está engado. O governo, os congressistas e os patrões ainda não estão satisfeitos. Eles acham que a dose de maldade ainda não foi suficiente para sufocar o movimento sindical, as entidades, os trabalhadores”.
Segundo o sindicalista da UGT Nacional, a reforma trabalhista, e outras que ainda virão na rabeira, foram idealizadas há muito tempo. “Começou com o fim da representação classista junto à Justiça do Trabalho, seguiu com a aprovação da terceirização irrestrita da mão de obra; com dificuldades de barrar as práticas antissindicais e demissões imotivadas; com a desoneração brutal da folha de pagamento, em que o governo gastou R$ 340 bilhões com a promessa de criação de empregos. O que se viu, em contrapartida, foi o aumento do desemprego, ou seja, os empregadores apenas encheram a pança com o dinheiro dos impostos; e culminou com a Lei 13.467, da reforma trabalhista, que mudou tudo, para pior, no mundo do trabalho”.
“As entidades sindicais e suas categoriais perderam muitas coisas com essa reforma. Os trabalhadores perderam direitos essenciais, parte da garantia salarial, as relações de trabalho estão precarizadas, a ultratividade das convenções acabou, o acordo individual prevalece sobre o coletivo, enquanto os sindicatos tiveram as mãos amarradas para lutar por seus representados por conta das restrições ao custeio. E o quadro tende a piorar ainda mais”, garante Canindé Pegado.
Ao finalizar, o palestrante disse ser importante realizar eventos como o da UGT-SP para dar continuidade à luta do movimento sindical contra as maldades das reformas neoliberais. “Estamos feridos, mas não de morte. Sei que muitos sindicatos estão fechando sedes e subsedes, demitindo e reduzindo o fornecimento de serviços e benefícios para seus trabalhadores. Mas a UGT, tanto a Nacional como as Estaduais, estão unidas na defesa dos seus filiados, de suas categorias”.
Ousadia
Para encerrar o evento, Amauri, presidente em exercício da UGT-SP, disse que tem visto no movimento sindical exemplos de luta e de trabalho de resistência de entidades e dirigentes. “Por isso, é possível pensar num trabalho de protagonismo, pois é nas dificuldades que aparecem as oportunidades. Saio daqui feliz porque apresentamos possibilidades, e agora dependerá de cada um de nós colocarmos em prática os conhecimentos aqui adquiridos. Ousarmos ao fazer esse seminário. Portanto, podemos ousar ainda mais. Parabéns a todos pelo sucesso do seminário”.
fonte: ugt