Quando o trabalhador se esconde, não se sindicaliza ou age para acabar com seu sindicato (opondo-se às contribuições), o sindicato fica mais frágil e a luta para manter benefícios se torna mais difícil
Em meados de dezembro, quando o pagamento de novembro estava atrasado e somente 20% do décimo terceiro salário tinha sido pago o Sindicato da Saúde de Jaú e Região foi chamado para entrar em cena no Hospital Thereza Perlatti. A partir daí o hospital virou notícia e o problema da falta de dinheiro veio à tona.
A paralisação momentânea de algumas funcionárias da lavanderia era o prenúncio de uma greve que já caminha para quase um mês e que teve imensa repercussão na mídia, com coberturas de TVs, jornais impressos e emissoras de rádio.
Ao longo dos últimos dias, desde 18 de dezembro, quando a greve teve início, os trabalhadores do hospital que aderiram à greve descobriram a importância de ter um sindicato forte ao seu lado. Diretores do Sindicato da Saúde estão ao lado dos companheiros, dormindo na tenda e se revezando dia após dia para manter a greve forte. A luta é para receber salários em atraso (novembro, dezembro, décimo terceiro...)
"Essa greve foi boa para o povo ver o que representa o Sindicato da Saúde. A maior parte dos funcionários do Perlatti, assim como eu, não faz ou não fazia parte do sindicato. Agora vemos a importância dele. Nas madrugadas tem diretor que descansa deitado nos paletes lá na tenda. Outra passa a noite numa cadeira. Todos sem reclamar. Cada diretor faz seu papel", comenta a funcionária Didi.
Fraco? - Ela lembra que antes da greve a direção do Hospital Thereza Perlatti chamava o sindicato de "fraco". Agora já viram que de fraco não tem nada. "Hoje vejo que fraco é o próprio povo que não aderiu à greve e aceita tudo calado, vivendo de migalhas." Para Irineu, "o sindicato não é fraco. Fraco é quem não tem coragem de se juntar a nós."
Ela tem razão. Apenas cerca de 30% ou menos dos trabalhadores do hospital entraram em greve. Mesmo assim, o movimento é notícia todos os dias na TV Tem, Record, SBT, TV Local, jornais Comércio do Jahu e Jornal da Cidade Bauru, além de portais de notícia e emissoras de rádio.
"É uma pena que as marionetes trabalham como robôs. programados e que não têm raciocínio próprio", comenta o funcionário Valter, citando os "fura-greves" e que entraram para trabalhar e ainda criticam quem está na luta na defesa pelos direitos de todos.
Sindicato garante benefícios - A presidente do Sindicato da Saúde, Edna Alves, diz que a força do sindicato depende da força da categoria. Uma categoria unida aumenta o poder de negociação do sindicato e permite negociar os benefícios cara a cara.
Quando o trabalhador se esconde, não se sindicaliza ou age para acabar com seu sindicato (opondo-se às contribuições), o sindicato fica mais frágil e a luta para manter benefícios fica mais difícil.
Edna lembra o sindicato patronal de hospitais filantrópicos e Santas Casas quer aumentar jornada do pessoal do apoio, quer diminuir o valor do adicional da insalubridade e até mesmo a cesta básica corre o risco de se perder. Segundo ela, dia 30 de janeiro tem uma audiência em Campinas para tentar fechar a Convenção Coletiva de julho de 2017.
Convenção na justiça - "Não vamos assinar a convenção se for para o trabalhador perder seus benefícios. A categoria vai ser chamada para se manifestar e, se for o caso, entrar em greve para defender seus direitos", comenta Edna, alertando que a Reforma Trabalhista deu todas as vantagens para os patrões. O trabalhador ficou com o prejuízo.
A greve, segundo ela, está sendo importante para mostrar que o Sindicato da Saúde é atuante e defende de fato o trabalhador. Edna lembra que nem 5% dos funcionários do Perlatti eram sindicalizados. Agora, após a greve, já são quase 20%.
"Quem sabe desses grevistas não saiam alguns dirigentes sindicais para fazer parte da nossa diretoria em um futuro próximo. A hora que nossa vitória chegar vamos comemorar como os escravos em sua libertação", a diz a sindicalista.
Edna passou Natal e Ano Novo ou na tenda ou na delegacia de polícia registrando boletins de ocorrências para preservar o direito dos grevistas, que tiveram de entrar para os setores para cobrir as faltas dos não-grevistas que faltaram sem avisar.
Vereador veste a camisa - Ao longo da greve, o Sindicato da Saúde pediu apoio a vários vereadores para ajudarem perante as autoridades do Estado na liberação dos recursos em prol do hospital - e assim, os funcionários poderiam receber seus salários. Alguns passaram por lá, fizeram oba-oba, tiraram foto e postaram nas redes sociais, mas só um entrou de verdade na batalha e ajudou: João Pacheco do Amaral.
João Pacheco arrumou cestas básicas para os grevistas que passavam fome e esteve na mesa redonda convocada pelo sindicato para tentar resolver o impasse. Foi o vereador que ligou para a Secretaria de Saúde do Estado para pressionar e pedir liberação de recursos. Enquanto a diretoria do hospital dizia não ter previsão de quando ocorreria o repasse, o vereador arrancou a promessa de em dois dias o dinheiro estar na conta do hospital.
"Parabéns a todos os grevistas, ao sindicato e ao vereador João Pacheco. E ao povo jauense que reconheceu nossa greve ajudando com muitos alimentos .E obrigado à mídia pelas reportagens", comenta o trabalhador Osvaldo. "João Pacheco e Edna são os nossos braços-direitos", completa Geni.
"Por representar a todos, independente se é eleitor de Jaú ou região, ele agiu como cidadão e nem tanto como vereador . Vestiu a camisa da greve e brigou por todos nós. Merece o respeito e reconhecimento de todos", falou Didi. Edna finalizou, dizendo que o vereador "fez seu papel defendendo o trabalhador".