A greve de 17 dias no Hospital Thereza Perlatti, em Jaú, chegou perto do fim nesta quarta-feira (3/01), mas a diretoria do hospital adotou o método da represália aos grevistas e não teve acordo na reunião entre sindicato e os administradores do hospital, com intermediação do vereador João Pacheco do Amaral (PMDB-Jaú).
"Levamos uma proposta à administração do hospital para tentar encerrar a greve. Os trabalhadores aceitaram adiar o recebimento do décimo terceiro salário em atraso, desde que o pagamento de dezembro seja feito no quinto dia útil de janeiro, como também os dias parados não tenham descontos e os grevistas tenham estabilidade por 90 dias. A negociação caminhava bem, mas o jurídico do Perlatti anunciou que vai descontar os dias parados", lamentou a presidente do Sindicato da Saúde, Edna Alves, apontando que o hospital optou pelo caminho da represália em vez da conciliação.
O advogado do sindicato, Nilton Agostini Volpato, informou que desconto de dias parados numa greve depende de a Justiça decretar a greve ilegal. O que não é o caso, já que o sindicato adotou todos os procedimentos previstos em lei, inclusive mantendo o efetivo mínimo de 30% em todos os setores.
Volpato e Edna argumentaram que os trabalhadores aceitaram encerrar a greve mesmo sem receber o décimo terceiro, mas nem assim o hospital quis rever os descontos. Para o hospital, essa revisão na postura teria de ter o aval de todo o Conselho Deliberativo. Antes, porém, o presidente do Conselho, Paulo Luiz Capelotto, disse que os conselheiros renunciaram ao mandato e que só sobrou ele: "O Conselho soy jo", falou na reunião com o sindicato.
Contato com o Estado - No início da reunião ocorrida no meio da tarde a direção do hospital avisou que não tem dinheiro e nem como prever o pagamento do salário que vence no quinto dia útil de janeiro. O vereador João Pacheco ligou para a Secretaria de Saúde do Estado e, após muita insistência, conseguiu a informação de que o repasse de R$ 350 mil será feito no dia 5 de janeiro. E que outro repasse semelhante vai ocorrer até o fim do mês.
Diante dessa previsão obtida pelo vereador, tudo indica que o salário seja pago em dia, uma das condições do Sindicato da Saúde para encaminhar o fim da greve. Sobre o décimo terceiro, o hospital alega não ter recurso e que depende da antecipação do aluguel do prédio à faculdade Unoeste (que não se manifestou se topa pagar três anos de aluguel antecipadamente).
O passo seguinte foi apresentar as exigências de não-desconto dos dias parados e a estabilidade de 90 dias aos grevistas. Enquanto a administração do hospital analisava entre quatro paredes, a proposta foi levada à tenda dos trabalhadores em greve, que aprovaram a suspensão temporária da paralisação no caso de as demandas serem atendidas.
Desconto sem critério - "Mas infelizmente o hospital não concorda em pagar os dias parados dos grevistas. Na verdade nem todos os grevistas ficaram sem trabalhar, já que muitos entraram para cobrir a falta de funcionários não grevistas... estavam de greve e entraram nos setores para trabalhar para manter o efetivo mínimo", argumenta a sindicalista. E pergunta: "Qual critério usaram para fazer os descontos?"
"Eu mesmo só consegui ficar dois dias na tenda. Tive de voltar ao setor para cobrir a falta de funcionários que estavam escalados", comentou um dos grevistas, questionando a decisão do hospital de descontar todos os dias de quem aderiu ao movimento em defesa de todos os colegas.
"Registramos muitos boletins de ocorrência por falta de funcionários não grevistas", completa Edna, garantindo que nesse caso grevistas entravam para dar atendimento aos pacientes.
"Como pode o hospital começar com essa barbaridade de descontar os dias, mesmo sem ter uma decisão da justiça? O hospital não questiona a legalidade da greve na justiça porque sabe que o movimento é legítimo, dentro das regras e seguindo a Constituição", desabafou Edna Alves.
Fuga dos conselheiros - Sobre a renúncia geral dos conselheiros, anunciada pelo presidente Paulo Capelotto (único que sobrou), Edna falou que se eles próprios "abandonaram o barco", não tem como exigir dos funcionários que continuem trabalhando sem receber seus direitos. "Temos de ver o lado dos funcionários. Muitos estão depressivos, outros sem alimentação, apreensivos com a situação e ainda por cima sem saber quando vão receber salário."