O delegado Wanderlei Benedito Vendramini fala sobre operação realizada em clínica de reabilitação BEATRIZ ZAMBONATO SANTOS
A unidade feminina de Jaú da Associação Projeto Gratidão – Comunidade Terapêutica, localizada no Distrito de Potunduva, foi fechada ontem. O espaço foi alvo de inquérito civil público instaurado pelo Ministério Público que apurava a legalidade de seu funcionamento, além da parte documental. Paralelamente, a Polícia Civil também investigava a clínica após receber denúncias de maus-tratos contra as internas.
O delegado assistente da Delegacia Seccional de Jaú, Wanderlei Benedito Vendramini, que responde temporariamente pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), afirma que inquéritos foram instaurados na Polícia Civil para apurar, além dos maus-tratos, possíveis abusos sexuais, agressões, tentativa de suicídio e até um óbito, ocorrido em novembro de 2013 no distrito. Na ocasião, uma ex-interna da clínica foi encontrada morta após colheitadeira de cana passar sobre seu corpo. “Não foi possível na época fazer o exame necroscópico para verificar a causa da morte. Ela pode ter sofrido um mal súbito, mas também podem ter matado e jogado o corpo dela no local”, afirma o delegado.
A juíza da 3ª Vara Civil de Jaú, Daniela Almeida Prado Ninno, oficializou à DDM sobre a realização de diligência, que ocorreu ontem. Em reunião promovida na última segunda-feira, foi traçada a operação e os fatos que já existiam na esfera criminal foram relatados à juíza.
A diligência contou com a participação de funcionários da 3ª Vara Civil de Jaú, do promotor Francisco Ferrari, da Defensoria Pública, Defesa Civil, Vigilância Sanitária e das Secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social e da Saúde de Jaú. No total, 40 pessoas participaram da ação - um micro-ônibus foi usado para retirar as 26 internas que estavam na clínica, que foi lacrada.
As mulheres foram conduzidas à Central de Polícia Judiciária (CPJ), onde foram ouvidas sem a influência de profissionais da comunidade terapêutica. “Junto à assistência social, nós entrevistamos as internas que começaram a relatar casos que constituíam crimes. Nós fizemos um único boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial (DP) sobre maus-tratos e também ouvimos as que se diziam vítimas de abusos”, ressalta o delegado.
Das 26 pacientes, dez disseram que foram vítimas de maus-tratos e três relataram crimes graves, que não foram divulgados por Vendramini, pois demandam apuração para checar a veracidade.
Castigo
O espaço funcionava em propriedade rural e as internas eram obrigadas a cuidar e manter a horta e criação dos animais, entre outras tarefas. Caso não correspondessem às expectativas, elas recebiam castigos, que iam desde agressões até privação de sair da clínica.
Durante a diligência de ontem ninguém foi preso e o suposto proprietário da comunidade terapêutica será ouvido pela Polícia Civil nos próximos dias. As pacientes foram liberadas à Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, que está fazendo contato com as famílias. Caso os familiares não tenham condições de buscá-las em até dois dias, a Prefeitura irá providenciar translado. Por enquanto, elas permanecem em instituição da cidade.