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Boletim de Conjuntura do DIEESE


16/03/2017
 
"Nenhuma das "pernas" da economia está com vigor para andar"
 
 
Esta publicação pretende apresentar uma fotografia do cenário econômico do país e das perspectivas para 2017.
 
Como temos dito, infelizmente as perspectivas não são boas. Conforme o IBGE divulgou recentemente, em 2016 o PIB brasileiro teve queda de 3,6%. Além disso, houve aumento do desemprego que chegou a 12% da População Economicamente Ativa, crescimento da Dívida Bruta do Governo que chegou a 69,5% do PIB e aumento da capacidade ociosa das empresas, que já se situa em 24% da capacidade instalada.
 
O que tudo isso significa?
 
Significa que a economia brasileira NÃO CRESCERÁ em 2017, simples assim. Se crescer, será muito próximo de zero e não significará melhoria alguma na vida real.
 
Estamos sendo pessimistas?
 
Não, apenas realistas! Nenhuma das "pernas" da economia está com vigor para andar. O desemprego, aliado ao endividamento das famílias e ao medo do desemprego, impede o Consumo de andar. A capacidade ociosa da empresas torna pouco factível que as mesmas façam investimentos. Porque investiriam se não conseguem utilizar a capacidade instalada que já têm? Por fim, o aumento da dívida bruta do Governo impede que o Estado atue como indutor do crescimento por meio de investimentos estatais e gastos sociais.
 
A economia, é bem verdade, tem um forte componente psicológico. Se os agentes econômicos "acreditarem" que as coisas vão melhorar começam a rodar a roda da economia, pautados nas expectativas de dias melhores e no crédito. O problema é que a complicada situação política do país, com a imprevisibilidade da Lava a Jato, impedem a formação de um clima positivo que possibilite a construção de uma saída. A classe política nacional, mais preocupada em salvar a si própria, também não ajuda, muito pelo contrário!
 
E o Governo, não faz nada?
 
O Governo aposta numa política ortodoxa de cortar despesas para liberar o Orçamento. O problema é que não mexe no principal componente do Orçamento que é a dívida pública. Em 2016, o déficit primário das contas públicas (sem contar despesas com juros) foi de 2,47%. Se considerarmos o déficit "total" (contando os juros), o resultado foi 8,93%. Isso mostra que a principal causa do crescimento da divida pública e da paralisia do Estado frente à crise são as despesas financeiras.
 
Dito isso, não precisa ser economista para entender que é nesse ponto que o governo deveria investir suas forças. Seria necessário uma "reforma da dívida pública", que revisse contratos, alongasse prazos e reduzisse custos de juros.
 
Ao invés disso, o Governo gasta suas fichas políticas para empreender reformas que prejudicam os trabalhadores e o povo, como a Reforma da Previdência que tornará praticamente impossível se aposentar nesse país. Além disso, também encaminha uma reforma trabalhista que provavelmente tornará mais precárias as condições de trabalho do brasileiro.
 
E sabe o que é pior? Mesmo se forem aprovadas, tais reformas não resolverão o problema do país. A reforma da previdência não resolverá o endividamento do Estado, que já virou uma bola de neve e a reforma trabalhista não reverterá as expectativas do empresariado. O empresário não investirá e não contratará se não tiver certeza que haverá demanda para o seu produto e consequentemente, lucro. Mesmo que uma reforma precarizante reduza as custos do trabalho, o empresariado permanecerá inerte até a inversão das expectativas econômicas. O corte de gastos públicos e a retirada de direitos trabalhistas e sociais são medidas pró-cíclicas que só aprofundarão a crise econômica. Reduzem renda e gastos sociais, enfraquecendo ainda mais a demanda. Ou seja, um grande tiro no pé!!!
 
Então não tem solução?
 
Mantidas as circunstâncias atuais, se não surgir nada de novo, creio que só as ruas salvam o país e sua economia. A economia é cíclica e mais cedo ou mais tarde (talvez BEM MAIS TARDE) as forças de mercado induzirão ao crescimento. Até lá, contudo, a barbárie já poderá ter se instalado. Se nada fizermos, ressurgiremos ao final da baixa do ciclo econômico como uma sociedade mais pobre e mais injusta!
 
Boa leitura!
Atenciosamente,
 
LUIZ FERNANDO ALVES ROSA
Economista DIEESE
Subseção Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo
 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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