As três maiores centrais sindicais do País reagiram com indignação às propostas de reforma trabalhista divulgadas hoje pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. Representantes dos trabalhadores também questionaram a "legitimidade" do governo do presidente Michel Temer para propor modificações tão "radicais" nas condições de trabalho.
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Cayres, desafiou o ministro a apresentar essas mudanças em uma assembleia de trabalhadores no chão da fábrica. "Ele vai ouvir a mesma coisa que o Michel Temer ouviu na abertura da Paralímpiada", ironizou.
Segundo o sindicalista, essas modificações sugeridas por Nogueira - como a flexibilização da jornada diária para até 12 horas - representam "total desconhecimento" da situação atual do mercado de trabalho.
"Qualquer governo que afronta os direitos dos trabalhadores, somos contrários, mesmo quando eleitos. Imagina um governo que não foi eleito. Eles acham que vão conseguir aprovar esse absurdo?", questionou Cayres.
Para João Carlos Gonçalves, o Jurana, secretário-geral da Força Sindical, essa informações sobre detalhes de uma provável reforma trabalhista estão sendo divulgadas aos poucos, a conta gotas, para servir de "balão de ensaio" para o governo. "A experiência internacional aponta que a retirada dos direitos dos trabalhadores não melhora a situação do mercado de trabalho. Veja o exemplo da Espanha", criticou.
Jurana disse que a equipe de Temer não está cumprindo com o acordo de discutir as alterações nas relações de emprego em um grupo com representantes dos empregadores, dos trabalhadores e do governo.
Ele lembrou que o ministro do Trabalho havia prometido às centrais que o governo só mandaria uma proposta de reforma trabalhista depois de um consenso nesse grupo, que nem chegou a se reunir. O sindicalista defendeu mudanças na condução da política econômica para aumentar a geração de empregos. "O resto é conversinha para boi dormir. Isso não passa no Congresso", sentenciou.
O presidente da UGR, Ricardo Patah, disse que o momento de recessão econômica não pode ser usado como pretexto para retirar direitos adquiridos há muito tempo pelos trabalhadores. Sobre a proposta de incluir contratos por produtividade e por horas trabalhadas, além da opção atual, por jornada de trabalho, Patah afirmou que são medidas que precarizam as condições de emprego e colocam em risco a saúde do trabalhador.
"Parece que o governo Temer é composto por empresários. Parece que o empresariado tomou o poder e quer colocar tudo na conta dos trabalhadores", afirmou. Segundo Patah, antes de mexer em direitos dos trabalhadores, o governo deveria fazer a lição de casa e levar a cabo uma reforma da administração públicas, com vistas à economia dos gastos. "Olha o salário médio de um trabalhador e compara com o de um parlamentar, um ministro e um juiz. A corda não pode arrebentar do lado mais fraco", disse.