Profissional, acostumado a manusear instrumentos hospitalares, assumiu controle do rolo de tinta e pintou quarto no setor de enfermaria
Um médico de Pederneiras (26 quilômetros de Bauru), acostumado a manusear instrumentos hospitalares, decidiu dedicar seus dias de folga ao uso de material um pouco diferente. Com ajuda de funcionários da Santa Casa da cidade, ele assumiu o controle de um rolo de tinta e iniciou a pintura das paredes de um dos quartos do setor de enfermaria. A ideia é estender a pintura para outros quartos da unidade, desta vez sob o comando de pintor profissional.
A iniciativa do clínico geral Gabriel Carvalho Tremiliosi repercutiu nas redes sociais e foi bastante elogiada. De acordo com a administradora da Santa Casa, Maria Cristina Romano, a ideia de remodelar o quarto, que estava com pintura bem gasta, partiu do próprio profissional, que é o responsável pelas internações no hospital.
Com a autorização dela, o médico comprou o material necessário e, no último dia 3, colocou a mão na massa, ou melhor, na tinta. “Ele começou a pintar com ajuda dos nossos funcionários da manutenção”, conta. Romano revela que até mesmo a esposa do clínico participou da ação voluntária, lixando as paredes antes da pintura.
Tremiliosi explica que, como acompanha de perto as dificuldades da entidade, decidiu fazer algo para ajudar a melhorar as condições físicas no local. Ele diz que, nesta primeira etapa, contou com o auxílio financeiro de outros dois médicos para comprar a tinta e os materiais para pintura. “Eu obriguei eles a me ajudarem”, brinca.
Como a ala da enfermaria está sendo reformada, o grupo decidiu investir no setor que está abrigando provisoriamente as pessoas internadas. “A gente começou com quarto pequeno para ter noção do quanto seria gasto aproximadamente e o que precisaria fazer em cada quarto para poder ampliar esse serviço”, explica o médico.
“Por mais que seja provisório, a gente quer deixar algo diferenciado aqui, independente de ser particular ou SUS. O padrão vai ser o mesmo. E para dar uma condição melhor para os pacientes ficarem aqui também”. Numa próxima etapa, além de outros quartos da enfermaria, ele anuncia que pretende melhorar as condições do Pronto-Socorro (PS).
Os projetos futuros deverão contar com a ajuda financeira dos médicos para a compra de materiais. Porém, eles buscam o apoio de voluntários, como pintores e pedreiros, para a execução dos serviços. Quem tiver interesse em ajudar, pode entrar em contato com a Santa Casa de Pederneiras pelo telefone (14) 3283-8380.
O clínico-geral revela que, quando começou a pintar o quarto, achou que o serviço seria fácil, mas acabou encontrando algumas dificuldades. “Nós passamos uma mão de tinta e percebemos que, por conta do material de limpeza que era usado antes, apareceram algumas bolhas e prejudicou um pouco a pintura. Nós precisamos tirar e lixar de novo”, conta. Após buscar consultoria de pintor profissional, ele decidiu “terceirizar” o serviço. “Como agora está um pouco corrido, acabei chamando um pintor da cidade para ajudar”, diz.
Médico ressalta a importância de sair da zona de conforto e ir além
Na avaliação do clínico-geral Gabriel Carvalho Tremiliosi, as mudanças só ocorrem de verdade quando as pessoas deixam o comodismo de lado e se movimentam em prol do bem-estar comum. “Eu acho que, a partir do momento em que você trabalha numa instituição, independente de qual for, seja uma empresa, seja um hospital ou o próprio negócio, se você quer ver o andamento de modo geral, você tem que abraçar a causa”, avalia.
“É questão de sair um pouco da zona de conforto e do comodismo e fazer a diferença onde você estiver porque o que motiva a gente todo o santo dia, apesar das dificuldades que nós temos por conta de que nosso país passa por uma grande recessão econômica, são os pacientes, que são o foco principal de um hospital”.
A administradora da Santa Casa concorda que atitudes como a do médico fazem grande diferença, sobretudo na área da saúde. Ela explica que o prédio do hospital é antigo e que, apesar da entidade receber verbas federais e municipais, atender alguns convênios e receber doações da comunidade, recursos para reforma e manutenção são escassos.
“Quando você encontra um profissional que não está vendo só o ganho dele aqui dentro, mas está se preocupando com o local de trabalho, é muito bom”, declara. “Acaba favorecendo ele também porque você trabalhar num ambiente arrumado, é diferente. E, para o paciente, acaba ajudando na recuperação porque ele se sente em um lugar acolhido”.