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Grávida é a 1.ª infectada com zika vírus em Bauru


27/01/2016

Também é a primeira contaminação autóctone em gestante no Estado

FONTE; JC BAURU


Bauru divulgou nessa terça-feira (26) seu primeiro caso de zika vírus, que é também o primeiro autóctone confirmado em mulheres gestantes em todo o Estado de São Paulo. Há ainda outras duas situações suspeitas na cidade, também referentes a grávidas. A mulher de 32 anos passa bem e é moradora da Pousada da Esperança 2, mas trabalha no Higienópolis. Ela foi comunicada sobre o diagnóstico na última segunda-feira (25), e preferiu não ter a identidade revelada. Por enquanto, não há notícias a respeito de possíveis sequelas para o bebê.

A preocupação se dá por conta da associação, já evidenciada por cientistas brasileiros, entre o vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (o mesmo vetor da dengue, febre chikungunya e febre amarela) com a microcefalia, quando o crânio do feto ou do recém-nascido é menor do que a medida que se espera para aquela idade gestacional.

A paciente infectada pelo zika vírus já fazia o acompanhamento pré-natal em uma unidade da rede básica de saúde e havia sido submetida a dois ultrassons, em novembro e no começo de dezembro. Nesta quarta-feira (27), será feito o primeiro exame do tipo depois da doença.

Ela está no quinto mês de gestação (vigésima primeira semana), mas começou a sentir os sintomas no dia 25 de dezembro. Dois dias depois, procurou a UPA Mary Dota, apresentando fundamentalmente manchas avermelhadas (exantema) no rosto e nos braços, sem febre.

Inicialmente, foi solicitado o teste para dengue. Com a negativa, a equipe médica requereu os diagnósticos para chinkungunya e zika. Os exames foram feitos pelo Instituto Adolf Lutz, em São Paulo.

Com a divulgação dos resultados da última segunda-feira (25), por questões éticas e humanitárias, a Secretaria de Saúde optou por dar ciência primeiramente à paciente antes do anúncio público da confirmação, que se deu em entrevista coletiva a veículos de comunicação na tarde dessa terça (26), no auditório da Prefeitura de Bauru.

ACOMPANHAMENTO

O secretário de Saúde, Fernando Monti, revelou que a grávida passa bem. Os sintomas do zika vírus persistiram por pouco mais de uma semana. Com o diagnóstico, além do pré-natal no posto de saúde, ela será assistida por dois serviços especializados do município: o Ambulatório de Gestações de Alto Risco e pelo Centro de Referência em Moléstias Infecciosas.

IMPORTADOS?

O caso já confirmado é considerado autóctone (contraído no próprio município), pois a paciente em questão não viajou. As duas grávidas que ainda aguardam os resultados dos testes, porém, saíram da cidade.

O secretário de Saúde estima que o tempo de incubação do vírus (entre a picada do mosquito até o surgimentos dos sintomas) varie de três a seis dias (veja o gráfico e leia mais logo abaixo).


Infectados podem até nem perceber

Município buscará outras pessoas com sintomas de infecção pelo zika vírus tanto no bairro onde a primeira paciente mora quanto onde ela trabalha


Secretário de Saúde em Bauru e médico infectologista, Fernando Monti anuncia que, além do combate às larvas e aos mosquitos Aedes aegypti, os agentes de endemia farão uma busca ativa de pessoas com sintomas do zika vírus na Pousada da Esperança 2 e na região do Higienópolis.

Em cartilha desenvolvida pelo Hospital das Clínicas da USP para esclarecer dúvidas sobre a doença, o professor Geraldo Duarte explica que, em cada 10 infectados, espera-se que apenas dois apresentem os sinais e sintomas clássicos.

Fernando Monti completa que, mesmo nas pessoas em que isso ocorre, o zika vírus pode passar desapercebido.

Jornal da Cidade: Depois da confirmação do primeiro caso, Bauru deve ser alvo de uma epidemia da doença?
Fernando Monti: Não é possível dizer ainda se, atrás deste, surgirão outros casos. Vamos ter que acompanhar e monitorar. Todos os nossos serviços de saúde estão em alerta. Além disso, o município agirá com muita transparência, dando publicidade tempo a tempo sobre eventuais consequências referentes à primeira paciente e, eventualmente, sobre novas infecções.

JC: O risco é maior pelo fato de o primeiro quadro ter sido autóctone?
FM: Aumenta muito a nossa preocupação. Se é um caso importado, em que a pessoa viajou para uma região onde já se tem notícia do vírus, ficamos mais seguros: providencia-se o diagnóstico e toma-se as medidas cabíveis. No nosso caso, tudo indica que haja circulação do vírus por aqui.

JC: Então é uma doença bem menos grave?
FM: Acreditou-se, inicialmente, tratar-se de uma doença muito benigna. E pode ser mesmo se o vírus infectar um adulto. Em alguns casos, nem a febre aparece. O grande problema é essa associação da infeccção com a má formação do feto em casos de gestantes. As consequências não recairão sobre a mulher, mas podem afetar a criança.

JC: É possível, então, que um número grande de pessoas tenha sido infectado, sem registros de caso?
FM: Sim. É possível confundir com uma alergia, por exemplo. Por isso é que vamos recorrer a essa busca ativa de pacientes com os sintomas descritos pela literatura médica nas visitas dos profissionais às residências. Não estamos procurando só grávidas. Estamos procurando qualquer pessoa.

JC: É grande a disponibilidade de exames?
FM: São exames muito complexos, feitos pelo Instituto Adolf Lutz. Não temos como fazer por conta nossa aqui no município. Mas há uma disponibilidade razoável. O que não dá e não será feito é encaminhar para o teste todas as gestantes que estejam receosas. Serão apenas as que apresentarem sintomas.

JC: Durante quanto tempo a pessoa infectada pode ser potencial transmissora do zika vírus?
FM: Ninguém sabe isso ainda. Acredita-se que seja um período semelhante ao identificado na dengue: aproximadamente uma semana. O período de incubação do vírus deve variar de três a seis dias.

JC: O governo cogita distribuir repelentes para grávidas assistidas pelo Bolsa Família. É uma boa medida? O município cogita se adiantar nesse sentido?
FM: Acho que pode se fazer isso, mas é muito difícil imaginar que vá se controlar um fenômeno desse tipo com repelente. Não pensamos em adotar isso em larga escala, mas a evolução dos próximos dias vai nos mostrar se este pode ou não ser um caminho. A crítica que se faz em relação ao repelente é que ele traz a questão da transmissão da doença para o âmbito individual, quando esta é uma questão coletiva. Não adianta uma pessoa se livrar do problema. É importante que a sociedade consiga se livrar.

Mutirão no sábado e ações emergenciais

Diante da confirmação do primeiro caso de zika vírus, o prefeito de Bauru, Rodrigo Agostinho, acionou a Defesa Civil do Estado de São Paulo, que confirmou para o próximo sábado (30), um mutirão de combate ao Aedes aegypti na cidade. A iniciativa contará ainda com o apoio da Polícia Militar e o município pretende, até lá, mobilizar as entidades, igrejas, associações de bairro e também clubes de serviço.

Desde essa terça (26), contudo, 80 agentes de endemias foram alocados para promover ações emergenciais de prevenção na Pousada da Esperança 2 e no Higienópolis, bairros em que a primeira vítima acometida pela doença, respectivamente, mora e trabalha como empregada doméstica.

O diretor da Divisão de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, Daniel Godoy Tarcinalli, explica que, num raio de 500 metros das residências frequentadas pela gestante infectada, todos os imóveis serão nebulizados com um inseticida (com foco nos mosquitos adultos).
Haverá ainda a aplicação de larvicida para eliminar criadouros. “Já fazemos ações desse tipo em áreas onde há casos de dengue, mas sempre trabalhando com o raio de 200 metros”, observa.

A nebulização nas ruas, por outro lado, já foi abolida pela Secretaria de Saúde de Bauru, pois o método de combate ao Aedes, inseto vetor do zika vírus e outras três doenças é considerado ineficaz.

“Esse processo também tem a finalidade de reiterar para a população os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito”, completa o secretário Fernando Monti.

COLABORAÇÃO

Daniel afirma que ainda é comum que moradores impeçam a entrada de agentes de endemia em suas residências e avisa que a recusa pode incorrer na aplicação de multa. “Deixar vistoriar só o quintal não adianta”, completa. Ele diz que os profissionais costumam trabalhar em grupo e são identificados com o crachá da Prefeitura de Bauru.

Ligação com a microcefalia

O último boletim do Ministério da Saúde afirma que já foram registrados 3.893 casos suspeitos de microcefalia causados pelo vírus. Grande parte deles, 3.402, no Nordeste, onde, no início do ano passado, houve uma forte epidemia.

Como a relação do zika com a má formação é recente descoberta brasileira, o secretário de Saúde e médico infectologista, Fernando Monti, explica que não há dados científicos que apontem detalhamentos como, em qual momento da gestação, a infecção da mãe gera mais riscos ao feto. “Ainda há muito a se desvendar. De forma geral, nos três primeiros meses da gravidez, ocorre o processo de formação”.

O secretário frisou ainda que, assim como no caso de infecção pelo vírus já confirmado, nos outros dois suspeitos em Bauru, por enquanto, não há evidências de microcefalia nos bebês das gestantes. “A gravidade maior está em um atributo que chamamos de transcendência. Se você tem uma tuberculose, trata direitinho, estará curado em seis meses. Já a microcefalia, que culmina em retardo mental, é para a vida inteira”, pontua.

Síndrome de Guillain-Barré

O zika vírus pode ser responsável pelo desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré - uma doença imunológica que acomete o cérebro, provocando inúmeros sintomas e sinais. Dentre as várias formas de manifestações clínicas, as principais são a fraqueza dos membros inferiores em graus variados, podendo chegar inclusive à paralisia das pernas. Como são parecidos os sintomas da dengue, da chikungunya e do zika, o médico precisa ser procurado imediatamente à suspeita de qualquer uma dessas infecções.

Serviço

Se qualquer pessoa quiser checar a identidade dos agentes de endemia junto ao órgão competente, pode entrar em contato com Divisão de Vigilância Ambiental pelo telefone (14) 3103-8050. Pelo mesmo número, também é possível denunciar a existência de potenciais criadouros do mosquito Aedes.

 

 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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