Sindicalista precisa também conhecer as angústias dos trabalhadores que ele representa para colocar na mesa de negociação cláusulas além do aspecto financeiro
Mobilização e pressão. Estas são as duas principais recomendações saídas do painel "Negociação sindical em tempos de crise", realizado na tarde do terceiro dia do 17º Encontro Paulista da Saúde em Praia Grande. O advogado José Roberto Sodero Victório e o economista Luis Fernando Rosa, técnico do Dieese, seção Federação, foram categóricos em afirmar que o ano de 2016 vai ser marcado por negociações salariais complicadas. Culpa da crise, da inflação e do afastamento dos trabalhadores da entidade que os representa.
O painel foi aberto pelo palestrante José Roberto Sodero Victório, advogado, pós-doutor em Bioética, Saúde, Direitos Humanos e Meio Ambiente. Ele lembrou que o cenário atual nas negociações salariais é o mais diferente das duas últimas décadas, uma vez que a inflação está em alta e supera a casa dos dois dígitos pela primeira vez desde o Plano Real. Ou seja, os sindicalistas precisam sair da "zona de conforto" e, ao mesmo tempo, tirar o trabalhador da zona de conforto que ele se encontra.
"Qualquer negociação tem de ter uma análise de conjuntura, hoje marcada pela crise econômica e política", diz José Roberto, explicando que os sindicatos precisam conhecer o cenário atual e conhecer a situação dos hospitais que vão negociar, bem como as estratégias do negociador.
"Em época de crise, a gente não pode errar na negociação", sentencia. "Qualquer erro traz prejuízo danado para a classe trabalhadora." O primeiro passo para ter poder na hora de negociar melhorias para os profissionais da saúde, segundo o advogado, é a "mobilização" da base, única forma de dar a força necessária na mesa de negociação.
Com a vasta experiência de ter conduzido negociações para muitos sindicatos, o advogado José Roberto avisa que o sindicalista precisa ter outra arma ao se sentar para negociar com o patronal: pressão. "Se você não tiver pressão, você não consegue negociar." Em suma: sem mobilização e sem pressão, o sindicato fica fragilizado na hora de defender a categoria.
Além dessas duas questões, o sindicalista prevista conhecer as angústias dos trabalhadores que ele representa, quais as doenças que os afligem, se sofrem assédio moral e outros problemas. Assim, ele se municia para colocar na mesa de negociação cláusulas que vão além do aspecto financeiro. "Em tempos de crise precisamos restabelecer a coletividade", afirma o especialista.
A própria sociedade precisa ser chamada para prestigiar a causa dos trabalhadores da saúde, afinal, é para ela que a categoria trabalha e oferece atendimento. A dica é colocar na pauta de reivindicações melhores condições de atendimento para a sociedade para ter o apoio desse cidadão.
José Roberto Sodero Victório enumerou algumas ideias de negociação que os sindicalistas precisam levar em conta para ter êxito. A principal delas é a "preparação". Não adianta, segundo ele, ir para uma mesa sem conhecer a categoria, o hospital e sem argumentos para justificar pedidos de reajuste e de eventuais ganhos reais nos salários.
A lista de ideias inclui ainda Habilidade de Relacionamento, Saber se Comunicar, Tecnologia da Negociação, Flexibilidade (saber recuar e ter margem de manobra, Repertório (estar preparado para as situações imprevistas), Criatividade, Atitudes Mentais Positivas e Capacidade de Lidar com o estresse.
Números da Economia - Após o especialista em negociações se apresentar, quem assumiu a palestra foi o economista e técnico do Dieese na Subseção da Federação dos Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo. Luis Fernando Rosa mostrou por meio de números que está embasado para o cenário difícil que se apresenta nas negociações coletivas de 2016.
Ele ressalta que o País vive uma crise complicada, mas que um elemento novo torna a situação ainda pior: a crise moral que afeta as instituições e respinga nos sindicatos. "Diante da sociedade ficamos queimados", avaliou. Para ele, antes de partir para qualquer negociação é preciso "negociar entre nós", isto é, ver quais bandeiras e quais as prioridades da categoria. Ele também recomenda o envolvimento da sociedade como forma de valorizar a campanha salarial.
Em seguida, o economista citou números do desemprego em alta (14,8% em São Paulo), apontou a inflação galopante (10,33% em 12 meses), a queda do rendimento médio do trabalhador, a queda nos ganhos reais nas negociações salariais, entre outros números que apontam um cenário assustador no mercado de trabalho.
"Estamos caminhando a passos largos para uma crise social", apontou Luis Fernando. Portanto, o ano de 2016, segundo ele, exige uma postura profissional dos sindicatos dos trabalhadores para enfrentar o negociador patronal e conseguir atender aos anseios da categoria.