FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO
Porcentual da população que se declarou tabagista em estudo passou de 19,3%, em 2006, para 15,6%, em 2012; já na classe A, houve aumento
O índice de fumantes no País caiu 20% entre os anos 2006 e 2012, mostram dados do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas sobre o Uso do Tabaco, realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgados ontem.
Segundo a pesquisa, o porcentual da população brasileira que se declarou fumante caiu de 19,3%, no primeiro levantamento, para 15,6%, no ano passado. A estimativa é de que o País tenha hoje cerca de 194 milhões de tabagistas e outros 70 milhões de fumantes passivos.
Entre os adolescentes, a queda no consumo do tabaco foi ainda maior. No período analisado, o porcentual de menores que fumam passou de 6,2% para 3,4%, redução de 45%.
"Podemos apontar as leis que inibiram o consumo do cigarro como uma das razoes para essa queda. Mas há também uma tendência mundial de declínio no uso do tabaco e maior informação entre as novas gerações sobre a dependência que o cigarro causa", afirma a psiquiatra Ana Cecília Marques, uma das responsáveis pelo estudo.
No período entre os dois levantamentos, muitos Estados e cidades aprovaram leis que proibiram o cigarro em ambientes públicos fechados. "A lei me ajudou muito. Trabalho com bandas, à noite, e deixava de fumar porque era complicado sair do local toda hora", afirma o auxiliar técnico em eletrônica e música Rafael Almeida de Sousa, de 27 anos, que abandonou o cigarro no início deste ano, após 13 anos de vício.
"Parei porque não conseguia fazer mais nada, tudo me deixava cansado", diz. Assim como Sousa, 79,8% dos ex-fumantes entrevistados pelos pesquisadores da Unifesp declararam ter parado de fumar para melhorar a saúde.
Dependência severa. Embora o consumo do tabaco tenha caído no País, os indicadores da dependência de quem continua fumando se agravaram. O número médio de cigarros consumidos diariamente passou de 12,9 para 14,1 entre 2006 e 2012. Já o porcentual de usuários que fumam o primeiro cigarro até cinco minutos após acordar passou de 17,9% para 25,3%.
"O que a gente imagina que aconteceu com o perfil do usuário é que quem conseguia parar de fumar no Brasil, parou. O que restou são os fumantes mais severos, que têm muito mais dificuldade de parar", afirma a psicóloga Clarice Madruga, coordenadora da pesquisa.
Também houve piora no consumo do tabaco entre a classe A. Em 2006, 5,2% desse grupo se declarava fumante. No ano passado, esse número dobrou: foi para 10,9%. Em todas as outras classes sociais houve redução do consumo, mas a classe E continua a ter o maior porcentual de fumantes: 22,9%.
Tratamento. O levantamento mostra ainda que 90% dos fumantes gostariam de largar o vício, porcentual maior do que o registrado em 2006, quando 81% manifestavam esse desejo. No entanto, apenas 17% dos que querem parar de fumar têm planos nesse sentido.
Segundo o estudo, apenas uma pequena minoria dos fumantes (7,3%) já buscou ajuda para largar o cigarro.
O Ministério da Saúde diz que, desde 2005, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento multidisciplinar aos fumantes, que "inclui apoio psicológico, medicamentos, atendimentos educativos e terapêuticos", para vários níveis de dependência. Segundo a pasta, mais de 300 mil já largaram o vício desde o início do programa.