A crise econômica chegou! E agora?
A crise econômica chegou à vida cotidiana dos brasileiros, e chegou com força! Todos nós, de uma maneira ou de outra, já fomos afetados por ela. Viver ficou mais caro e isso pode ser percebido em situações cotidianas, nas idas ao supermercado, na hora de abastecer o carro, quando chega a conta de luz. O pior, contudo, é que a as pessoas já começaram a perder seus empregos.
De acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE, a taxa de desemprego, na Região Metropolitana de São Paulo, chegou a 10,7%, em maio, um aumento de 12,6% em relação a maio de 2014. Os mais afetados são os jovens, entre 16 e 24 anos. Nessa faixa etária o desemprego já chega a 25,0%. No mesmo sentido, os dados do CAGED-MTE revelam que o mercado de trabalho formal já fechou 278,3 mil postos de trabalho nos primeiros cinco meses do ano.
Para piorar, as perspectivas são pouco otimistas e é provável que a situação econômica se deteriore ainda mais nos próximos meses, isso porque as medidas do ajuste fiscal adotadas pelo Governo Federal possuem caráter pró-cíclico, ou seja, empurram a economia para baixo. Mantidas as circunstâncias, a deterioração social é inevitável.
Como se diz no popular, “a vida não tá fácil pra ninguém!”. Nos próximos meses os brasileiros precisarão de muita perspicácia e criatividade para garantir o bem estar de suas famílias. Para ajudar, damos início a esta nova série de artigos sobre “Como sobreviver na crise”. Nossa proposta é apresentar semanalmente dicas práticas de finanças pessoais, economia doméstica e maneiras criativas para que o trabalhador seja capaz de proteger a si e ao seu patrimônio e, em tempos difíceis, garantir minimamente o bem estar de sua família. As dicas que nos propomos a apresentar serão simples e de fácil aplicação, mas nem por isso simplórias. Todas as ideias serão embasadas em análise econômica séria, sempre considerando os fatores conjunturais e as perspectivas econômico-políticas do país. Então mãos à obra.
Dica nº 1: Fuja da Caderneta de Poupança!
Nossa primeira dica vai para os trabalhadores que nos últimos anos, a custa de muito suor e luta, conseguiram fazer um “pé de meia”, guardar um dinheirinho e agora correm o risco de ver todo o seu sacrifício ser devorado pela inflação. Indo direto ao ponto: fuja da Caderneta de Poupança!
A Poupança é “xodó” dos pequenos poupadores brasileiros. É a aplicação mais segura do mercado, com garantia total do fundo garantidor de crédito para depósitos de até R$ 250 mil. Seus principais atrativos são o fato de receber pequenos depósitos, não cobrar tarifa de administração e ser isenta de Imposto de Renda. É por isso que em tempos de “vacas gordas” (como foram os últimos 10 anos), o trabalhador costuma utilizá-la para aplicar os recursos que conseguiu economizar. O problema é que a rentabilidade da poupança é muito baixa e num cenário de inflação elevada o negócio não compensa.
Atualmente a regra de remuneração da Poupança depende do comportamento da taxa básica de juros da economia, a SELIC. Se a SELIC for igual ou menor do que 8,5% ao ano, a Poupança renderá 70% da SELIC mais a taxa referencial (TR). Se, contudo, a SELIC for maior que 8,5%, a Poupança rende 0,5% ao mês mais a TR. Hoje a SELIC está em 13,5% ao ano e a Poupança - rendendo 0,5% ao mês mais TR - tem ficado ao redor de 7% ao ano. Como a inflação, medida pelo INPC-IBGE, está em 9,31%, quem guarda dinheiro na poupança está PERDENDO DINHEIRO!
Como assim? Mantidas as condições atuais, se alguém tivesse R$ 1.000,00 na Poupança e, após um ano, decidisse sacar seu dinheiro, se depararia com um saldo de R$ 1.070,00. Entretanto, como os preços sobem, depois de um ano seriam necessários R$ 1.093,10 para comprar o que atualmente se compra com R$ 1.000,00. Como existe inflação, o poder de compra do dinheiro vai caindo ao longo do tempo. Repare então que, em termos de poder de compra, quem deixar R$ 1.000,00 na Poupança por um ano perderá R$ 23,10.
Qual a solução?
Com os números e o exemplo apresentados, espero tê-lo convencido de que você precisa tirar seu dinheiro da Poupança. Mas qual a solução? Onde colocar afinal o seu rico dinheirinho?
Existem diversas opções de aplicação no mercado, muitas das quais remuneram melhor do que a Poupança atualmente, com razoável segurança e liquidez. Dependendo do volume de recursos, pode valer a pena uma conversa com o gerente bancário para decidir a melhor aplicação. Em termos gerais, a melhor solução, no momento, está em colocar os recursos em fundos que paguem o equivalente a taxa SELIC. Só para lembrar, hoje a SELIC está em 13,5% e a Poupança ao redor de 7%. Ou seja, em termos brutos, a SELIC paga quase o dobro. E não para por aí, por motivos de política econômica, é muito provável que a SELIC siga aumentando nos próximos meses. É quase certo que passe de 14% ainda em 2015.
Mas qual é, afinal, a aplicação que paga a SELIC? Pra ser direto, a melhor opção pode ser os títulos públicos, os quais podem ser adquiridos por meio do Tesouro Direto. Ainda faremos um artigo explicando melhor o que é o Tesouro Direto e quais são as opções disponíveis, mas para hoje, a sugestão prática é que você transfira, ao menos em parte, os recursos da Poupança para as Letras Financeiras do Tesouro Nacional – LFT.
As LFTs são títulos públicos do tipo pós-fixado que remuneram o capital aplicado pelo valor corrente da taxa Selic, pagos na data de resgate. Atualmente, quem resgatar uma LFT receberá juros de 13,5% ao ano, o mesmo patamar da SELIC. A LTF é a aplicação de renda fixa ideal para momentos em que existe a perspectiva de elevação dos juros básicos. Esse, como vimos, é exatamente o caso. Se a SELIC subir você pode ganhar ainda mais, se a SELIC baixar não vai baixar tanto e você ainda continuará ganhando mais do que na Poupança. Além disso, os títulos públicos têm duas outras características valorizadas por quem costuma aplicar na Poupança: baixo risco e alta liquidez, caso seja necessário o Tesouro direto compra seus títulos diariamente. Em outras palavras, se você precisar, pode sacar o seu dinheiro a qualquer momento, assim como na Poupança.
Mas nem tudo são flores, diferentemente da Poupança, os títulos públicos estão sujeitos a taxas operacionais (custódia e administração) e a tributação de Imposto de Renda. As taxas operacionais variam em função do Banco ou da Corretora, mas na média o conjunto das taxas situa-se em 0,8% ao ano. Por sua vez, as alíquotas do Imposto de Renda variam em função da permanência da aplicação: i) até seis meses, 22,5% ao ano; ii) entre seis meses e um ano, 20%; iii) entre um ano e 2 anos, 17,5% e iv) acima de dois anos, 15%. Esses “custos financeiros” adicionais reduzem a rentabilidade do título, mas ainda assim continua sendo melhor negócio do que a Poupança.
Para você não ficar com um pé atrás, vamos exemplificar. Suponha que você faça uma aplicação em LFTs, pelo período de dois anos. Em termos atuais, seria necessário arcar com taxas operacionais de 0,8% ao ano e recolher Imposto de Renda de 15% sobre os seus rendimentos. Ainda assim, com a SELIC em 13,5% ao ano, sua rentabilidade efetiva seria de 10,7%. Ou seja, com as LFTs você pode ganhar 52,9% a mais do que com a Poupança.
Outra vantagem do Tesouro Direto, é que assim como na Poupança é possível aplicar pequenos valores. Na data de hoje, uma LTF custa R$ 6.936,90. Esse valor pode assustar, mas não se intimide, para tonar os títulos públicos acessíveis a qualquer brasileiro, o Tesouro Direto permite que você compre “só um pedacinho do título”. O limite mínimo para aplicar é de 1% do valor do título, no caso da LTF o valor mínimo para aplicação seria, portanto, de R$ 69,36.
Uma última coisa que você precisa saber é que assim como a Poupança, para aplicar em títulos públicos você precisa abrir uma conta para poder acessar o Tesouro Direto. Esta conta pode ser aberta num banco ou numa corretora de valores. Em geral as corretoras cobram taxas de administração menores, o que é bom. Pelo link a seguir você pode acessar, na pagina do Tesouro Nacional, a relação completa das instituições financeiras credenciadas para operar o Tesouro Direto:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas
Bem pessoal, por hoje é isso. Espero que estas dicas sejam úteis para vocês!!!
O Banco Central do Brasil pratica a chamada “política de metas de inflação”. De acordo com esta política, o ideal é que inflação feche o ano no centro da meta, atualmente fixado em 4,5%, podendo variar 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A principal ferramenta utilizada pelo Banco Central para tentar colocar a inflação no centro da meta é justamente a taxa básica de juros, a SELIC. Quando aumentam os juros básicos a economia tende a desacelerar, as pessoas compram menos, a demanda cai e em consequência caem também os preços, derrubando a taxa de inflação. Sendo assim, em cenários de inflação crescente a SELIC tenderá a ser crescente. Como a inflação nacional tem se mostrado “resistente”, situando-se atualmente acima do teto da meta, 6,5%, é quase certo que a SELIC continue subindo. Na nossa visão essa interpretação da inflação é totalmente equivocada. A inflação brasileira tem causas estruturais como, por exemplo, a indexação de vários preços públicos e a forte atuação dos oligopólios. Além disso, conjunturalmente, em função da dependência nacional por importações, a inflação é agravada pela alta do Dólar e por fatores climáticos que pressionam os preços os alimentos. Essa, entretanto, não é a visão da atual equipe econômica e, portanto, econômica e politicamente falando, a SELIC tende a continuar crescendo.
Os títulos públicos também são tributados pelo IOF, mas somente em casos de permanência inferior a 30 dias. Se a aplicação durar mais que um mês o IOF não incidirá.