Agência ressaltou que não há relatos de dependência relacionada ao uso de canabidiol; substância auxilia no tratamento de diversas enfermidades, como a epilepsia grave
Fonte: www.ig.com.br / Agência Brasil
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta quarta (14), por unanimidade, a reclassificação do canabidiol como medicamento de uso controlado e não mais como substância proibida. A decisão foi tomada durante reunião da diretoria colegiada na sede da agência, em Brasília.
A maior parte dos diretores da agência ressaltou que não há relatos de dependência relacionada ao uso de canabidiol, enquanto há diversos indícios registrados na literatura científica de que a substância auxilia no tratamento de enfermidades como a epilepsia grave.
Os diretores também ressaltaram que a reclassificação abre caminho para que as famílias que fazem uso do canabidiol não continuem a agir na ilegalidade ou por fazer uso de uma substância proibida, além de abrir caminho para mais pesquisas sobre os efeitos medicinais da maconha.
A Anvisa iniciou a discussão sobre a possibilidade da reclassificação da substância em maio de 2014. Na época, não houve decisão terminativa sobre a questão. Desde então, a agência vinha autorizando a liberação de importação do canabidiol em caráter excepcional.
Ilegal
O uso do CDB passou a ser discutido nacionalmente depois que Katiele Fischer foi a justiça pedindo autorização para usar o medicamento na filha Anny, de 6 anos. A história foi inclusive tema do documentário Ilegal, lançado no ano passado. Segundo a mãe, Anny tinha até 80 crises convulsivas por semana, e depois que passou a usar o canabidiol esses eventos pararam de acontecer.
Por conta do crescente debate, no ano passado, a Anvisa já havia simplificado os trâmites necessários para a importação de produtos à base de canabidiol, por pessoa física e para uso próprio. Com a mudança, a documentação entregue pelos interessados passou a ter validade de um ano, sendo necessária a apresentação da receita médica a cada novo pedido de importação.
O Conselho Federal de Medicina autorizou neurocirurgiões e psiquiatras a prescrever remédios à base de canabidiol para crianças e adolescentes com epilepsia, cujos tratamentos convencionais não surtiram efeito.
Estudos científicos
A maconha contém mais de 480 componentes, sendo que 86 são os chamados canabinoides que atuam no cérebro. Os mais estudados são o delta- 9 - tetrahidrocanabinol, que produz efeitos alucinógenos, em doses altas, e o canabidiol que protege o cérebro dos efeitos do THC.
Estudos científicos sobre os efeitos de componentes da maconha como alternativa para remédios têm avançado no último ano. Pesquisa da USP de Ribeirão Preto com pacientes parkinsonianos mostrou que o uso de canabidiol melhorou a qualidade do sono em 70% dos casos. Outro estudo em andamento está testando os efeitos do canabidiol no sono. A expectativa é que, dependendo dos resultados, a substância seja uma alternativa aos medicamentos contra insônia e outros distúrbios do sono.
O estudo dos componentes da maconha abre uma possibilidade para o desenvolvimento de outros medicamentos. Outro exemplo são os efeitos benéficos da maconha para a dor, conhecidos desde o final dos anos 1960. O efeito analgésico serve tanto para a dor neuropática quanto para a miopática. Desde 2010, há no mercado um remédio com os princípios do THC e do Canabidiol, com uso liberado na Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e países da Ásia (exceto Japão, China e Hong Kong) e países do Oriente Médio (exceto Israel e Palestina).