O Sindsaúde de Jaú reproduz abaixo reportagem publicada na Revista Saúde, da Federação, sobre a participação do médico Gilson Carvalho no Encontro Estadual dos Dirigentes Sindicais de agosto de 2013. Gilson morreu no dia 3 de julho. A reportagem está nas páginas 26 e 27
Investimento em pessoas garante eficiência
“Para ter eficiência tem de investir em pessoas. Não tem eficiência que não passa pelos recursos humanos. Temos de colocar dinheiro para as pessoas melhorarem”. A frase é do médico pediatra Gilson de Carvalho, doutor em saúde e especialista em saúde pública, ao avaliar como está a situação dos hospitais filantrópicos.
Ele foi um dos debatedores no 15º Encontro de Dirigentes Sindicais e Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo, realizado pela Federação dos Trabalhadores da Saúde. E foi enfático ao dizer que os profissionais da saúde são mal remunerados, principalmente no setor filantrópico.
“Nós investimos pouco em gente, e a única forma para transformar a saúde é o povo da saúde. Se não invisto no povo da saúde como posso pensar em profissionalização?”, diz Gilson de Carvalho, lembrando que o trabalhador da saúde é a força motora do sistema. E essa força precisa ser aperfeiçoada de forma permanente.
Atraso - Para o especialista, a saúde é um dos setores mais atrasados no Brasil, tanto por problemas de gestão como de recursos insuficientes. E lembra que o gasto público por habitante/dia na saúde é de R$ 2,47 – o equivalente ao valor de um refrigerante ou cafezinho. “É muito pouco. A gente vê que países que têm sistemas universais investem o dobro do que o Brasil investe.”
Em 2012, explica Carvalho, o investimento per capta dos governos foi de R$ 902,00, bem abaixo do que os planos de saúde investiram, ou seja, de quase R$ 2 mil por ano.
De onde tirar mais dinheiro? Para Gilson Carvalho, o governo federal deveria colocar mais recursos, direcionando dos próprios recursos que tem. “Ele paga um juro altíssimo de serviço da dívida. Ele poderia tirar da arrecadação. O governo faz renúncia fiscal e isenção de recolhimento de quem tem dinheiro no setor produtivo, como as montadoras, por exemplo.”
“A base da crise é o financiamento. Temos de mudar isso se queremos a sobrevivência das filantrópicas. Se não vai ser a morte de uma ideia que há muitos anos alimenta esse pais, o trabalho filantrópico em saúde”.
Solução para isso, segundo Gilson de Carvalho, existe: basta o governo pagar um preço justo. “Só que a voz das filantrópicas é ruim. Se perguntar pra filantrópica hoje quanto se gasta no parto ninguém sabe. Porque, porque somos mal em gestão. Ninguém aguenta sobreviver se não souber o custo”, finaliza.
Esferas de governo - O especialista em saúde pública diz que “os municípios não têm mais de onde tirar recurso”, uma vez que aplicam em média 21,5% de seus orçamentos, bem acima dos 15% previstos e lei. “Mas tem município que já aplica 32%”. O governo estadual poderia colocar mais dinheiro na saúde do que colocam atualmente, cuja média é de 12% do orçamento.
Gilson de Carvalho diz que a parceria que o governo faz com os hospitais privados, especialmente o que não visam lucro, está de mal a pior. O governo compra serviços desses hospitais e paga muito mal por isso. Impõe o preço a ser pago e coloca por terra o equilíbrio econômico financeiro.
“Quem mais sai perdendo sempre são as Santas Casas pequenas. A maior parte das Santas Casas está em municípios de até 50 mil habitantes, que só tem a Santa Casa”, diz. Por outro lado, ele questiona os grandes hospitais ditos filantrópicos, que não devolvem em serviços de saúde os benefícios que recebem. “Tinha de ser o mínimo de 60% de serviços do SUS, mas não fazem, fazem apenas alguma coisa de alta complexidade para ter o benefício.”
SUS x Particular – O médico conhecedor do serviço público de saúde reconhece que uma melhora no serviço do SUS poderia provocar uma migração dos usuários dos planos particulares. Em que pese o SUS ser um plano gigantesco, com 4 bilhões de ações de atendimento em 2012, ou 11 milhões por dia. Isso sem falar nos 900 milhões de exames médicos.
“Grande parte das pessoas que paga planos não paga por livre e espontânea vontade. Paga pressionada pela necessidade, pelo risco da necessidade. AS pessoas se apertam para poder pagar um plano de saúde. Então, se o SUS fosse melhor tenho certeza que migraria gente para cá. Agora não vamos desfazer do SUS, o SUS tem serviço de excelência em alta complexidade.”