Reeleita por pequena margem,
presidente deve desanuviar o
ambiente político e atender a
expectativas de mudança.
Numa disputa milimétrica, que
galvanizou a atenção --e as
emoções-- da maioria dos
brasileiros durante o início da
noite de ontem (26), Dilma
Rousseff (PT) foi reeleita
presidente da República.
O resultado apertado não se
reproduziu, contudo, em todas as
unidades da Federação. Nos
Estados do Sul e em São Paulo,
Aécio Neves (PSDB) levou larga
vantagem, enquanto a petista
teve amplo apoio no Norte e no
Nordeste.
As diferenças
regionais e sociais entre os
apoiadores de um e outro
candidato não têm como abolir,
de qualquer modo, um fato
essencial: à presidente da
República cabe governar o
conjunto do país.
Não
serão pequenos os desafios
políticos e administrativos que
estão à frente. Nada pior do que
imaginar, dada a estreita margem
a garantir a vitória petista,
que se tenha concedido uma carta
branca ao comportamento e à
gestão de Dilma Rousseff até
aqui.
Ao mesmo tempo em
que as urnas expressam o desejo
de continuidade dos programas
sociais, uma profunda
expectativa de mudança de rumos
não pode ser descartada da
equação de poder.
A
economia necessita de ajustes, e
a necessidade de uma equipe
nova, capaz de reconfigurar o
diálogo entre o Planalto e os
setores produtivos, impõe-se com
clareza.
A reforma
política passou, desde os
últimos momentos da campanha, a
ser admitida como prioridade
pela presidente --ao que tudo
indica para efeito retórico.
Externamente, as relações
com o Congresso e com os poderes
regionais se tornam mais
delicadas do que nunca; mas, ao
mesmo tempo, uma composição
partidária esfacelada no
Legislativo e um quadro em que o
PSDB sai vencedor em Estados
importantes aumentam os
anteparos ao poder federal.
No curtíssimo prazo, cumpre
dissipar o clima de confronto e
sectarismo que marcou as últimas
semanas da vida política
brasileira.
Sinal
inequívoco do clima de
radicalização deste final de
campanha, o ataque realizado por
uma minoria de militantes contra
a sede da revista "Veja", em São
Paulo, suscita firme repúdio e
fundamentadas preocupações.
Não foi este o único
arranhão que se infligiu à
liberdade de imprensa. Numa
decisão monocrática e
questionável --ainda mais porque
partiu de um ex-advogado da
campanha de Dilma em 2010--, o
ministro Admar Gonzaga impôs,
sobre a mesma revista semanal, a
obrigação de conceder direito de
resposta à coligação do PT por
noticiar fatos desfavoráveis aos
interesses da candidatura.
Proibiu, ademais, a
divulgação de publicidade da
revista, na interpretação de que
constituiria uma forma de
propaganda eleitoral disfarçada,
numa decisão sem dúvida
inconstitucional.
Se,
nesses casos, o calor eleitoral
predominou sobre a
institucionalidade democrática,
abre-se agora uma fase de
reconciliação e, sobretudo, de
reconstrução administrativa,
política e econômica.
Que
a presidente Dilma Rousseff,
eleita para governar por mais
quatro anos, tenha sorte,
talento e humildade para levá-la
adiante.
Fonte:
Folha de S.Paulo