FONTE COMÉRCIO DO JAHU
Os sete ortopedistas que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Santa Casa de Jaú ameaçam interromper o serviço prestado a pacientes da região a partir de outubro. A intenção é manter a recepção apenas de pessoas que residam na cidade.
Os ortopedistas entregaram à direção clínica da entidade, no dia 6 de setembro, pedido coletivo de descredenciamento do SUS. Os profissionais alegam excesso de demanda causado por falta de atendimento nos hospitais das cidades próximas a Jaú.
A informação foi divulgada em reunião realizada na manhã de ontem na Santa Casa, com representantes das prefeituras da região (leia texto). O diretor clínico do hospital, Luiz Alfredo Teixeira Junior, disse que a situação não tem qualquer relação com pagamentos, mas com o volume de casos.
Até 25% dos pacientes de ortopedia atendidos diariamente na Santa Casa de Jaú chegam de cidades da região, informa o diretor. A procura constante seria motivada pela possível falta dessa especialidade nos municípios vizinhos.
Ele diz que obrigatoriamente as prefeituras têm de oferecer os serviços de baixa e média complexidade em todas as áreas. À Santa Casa, centro de referência regional em saúde, caberia receber somente os casos de alta complexidade, mas não é o que se verifica, pelo menos nos últimos dois anos.
“As prefeituras de algumas cidades praticamente não oferecem nenhum atendimento de ortopedia. O problema se agrava ainda mais nos fins de semana. Estamos recebendo todos os casos e não apenas os de alta complexidade”, comenta.
O caso foi repassado pela Santa Casa ao Departamento Regional de Saúde (DRS) de Bauru, órgão da Secretaria de Estado da Saúde. De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, o DRS agendou reunião com a diretoria do hospital para discutir o atendimento em ortopedia e negociará a continuidade de oferta do serviço.
A assessoria de comunicação do Ministério da Saúde, principal gestor das verbas do SUS, informa que até a tarde de ontem não havia recebido nenhum comunicado de possível descredenciamento dos médicos da Santa Casa de Jaú e nenhuma denúncia de problema com o atendimento prestado. O ministério só se manifestará depois de ser notificado a respeito.
Reincidência
Em novembro de 2012 os ortopedistas da Santa Casa se manifestaram pela primeira vez por causa das condições inadequadas de trabalho. Alegaram naquele momento que o problema era causado pelo excesso de pacientes, praticamente a mesma justificativa apresentada na sexta-feira.
No ano passado divulgaram manifesto em que se recusavam a continuar a receber pacientes nos plantões do pronto-socorro da entidade, mas mantiveram o trabalho. Na época a DRS divulgou que manteria contato com a Santa Casa, mas que a situação deveria ser solucionada entre o hospital e seus profissionais. (Paulo Roberto Cruz)
Hospital apresenta números durante reunião
Reunião com representantes de prefeituras da região foi realizada na manhã de ontem no Espaço Cultural da Santa Casa de Jaú. O encontro foi feito para que a entidade apresentasse números de atendimento (veja quadro) e pedisse colaboração dos municípios para custeio de suas despesas.
Não compareceram representantes de Dois Córregos, Bariri, Brotas e Torrinha. Somente os prefeitos de Bocaina, José Carlos Soave (PSB), e de Mineiros do Tietê, José Carlos Vendramini (PSDB), estiveram presentes (leia texto). Barra Bonita, Itapuí, Boraceia, Igaraçu do Tietê, Itaju e Jaú enviaram secretários e diretores para acompanhar a reunião.
Os principais assuntos tratados foram o serviço prestado à região e a baixa colaboração financeira das prefeituras. O provedor em exercício, Laércio Peroni, afirmou que a continuidade do trabalho depende de parceria constante.
Ele convocou os representantes das prefeituras a conseguir mais recursos à Santa Casa, seja com verbas próprias, seja por meio de contatos com deputados estaduais e federais.
Neste ano a Santa Casa de Jaú recebeu R$ 3,9 milhões em recursos do Estado e da União. Alguns dos pedidos de verbas remontam a 2008. Outros R$ 4,3 milhões constam em solicitações feitas nos últimos dois anos, mas sem previsão de quando serão repassados, comenta Antonio Luiz Cremasco, da mesa administrativa da entidade.
Apesar do aporte de recursos, os deficits mensais com o atendimento pelo Sistema Único de Saúde não são cobertos, comenta o diretor da unidade de urgência e emergência da Santa Casa, José Segura Ruiz. “Por dia temos prejuízo de até R$ 6 mil com o pronto-socorro.”
Ficou definido no encontro que será formada comissão de representantes das cidades da região para atuar na obtenção de recursos para a Santa Casa. Também foi decidido que nova reunião para tratar do assunto será em Bocaina, ainda sem data marcada. (PRC)
Prefeitos falam de projetos existentes
Os únicos prefeitos presentes no evento realizado pela Santa Casa de Jaú, de Mineiros do Tietê, José Carlos Vendramini (PSDB), e de Bocaina, José Carlos Soave (PSB), apresentaram projetos para reduzir o encaminhamento de pacientes das cidades para a entidade jauense.
Vendramini disse que está ampliando o Programa Saúde da Família (PSF) e que vai informatizar o sistema de atendimento de Mineiros. Dessa forma, saberá quantas pessoas necessitam de recepção constante na rede, quais as especialidades em que há maior demanda e quanto cada usuário consome dos serviços oferecidos.
O prefeito de Mineiros reclamou da falta de conscientização de algumas pessoas, que usam a rede básica e a Santa Casa sem necessidade. Ele citou como exemplo o fato de sua cidade ter em média 12 mil atendimentos mensais nas unidades de saúde locais, praticamente o mesmo número de habitantes do município.
Soave afirmou que investe nos serviços básicos, que chamou de “bê-á-bá” ou medicina preventiva. Disse que se esforça para que Bocaina dependa cada vez menos de Jaú, mas que por falta de recursos e de demanda precisa contar com a Santa Casa.
O prefeito de Bocaina comentou que prefeituras e entidades filantrópicas devem se unir em torno de cobrança aos governos do Estado e federal, para que melhorem as condições da saúde. “Na verdade, a saúde pública não é prioridade.” Ele citou como exemplo, para justificar sua afirmação, planos de saúde privados no Brasil que têm orçamentos maiores que a maioria dos países da América Latina. (PRC)