Há alguns meses atrás o tomate foi elevado à categoria de vilão nacional. Isso ocorreu por conta do aumento exorbitante do preço da hortaliça, num momento em que por razões climáticas houve choque de oferta e o preço de vários alimentos disparou gerando pressão sazonal sobre a inflação. Como a certa altura o tomate foi o item que mais encareceu, tornou-se o garoto propaganda de uma forte campanha midiática sobre o eminente retorno do descontrole inflacionário anterior ao Plano Real.
Em meio ao “terrorismo do tomate”, houve um comentarista de economia (não me recordo do nome para dar os créditos) que disparou uma análise certeira – “Tem gente plantando tomate para colher juros”. Na época considerei o comentário muito perspicaz, mas ingenuamente não imaginei que essa campanha pudesse ser tão eficaz.
O fato é que o “terrorismo do tomate” cumpriu bem o seu papel. Devido ao passado inflacionário do país, o noticiário conseguiu incutir na população o medo do retorno do “dragão inflacionário” e a confiança dos agentes econômicos na solidez da economia nacional foi seriamente comprometida. Acuado, entre o receio popular e a deterioração das expectativas do empresariado, o Banco Central decidiu agir, apelando para varinha mágica dos juros elevados. Desde abril, já foram quatro elevações da taxa básica de juros. A chamada taxa SELIC saltou de 7,25%, em janeiro, para os atuais 9,00%, com indicações de mais elevações nas declarações do Banco Central.
O mais interessante é que os juros subiram para apagar o fogo de uma inflação que não saiu do controle. De acordo com os dados do IBGE, a inflação mensal medida pelo IPCA foi de 0,86% em janeiro e, a partir daí foi caindo, fechando agosto em 0,24%. Se considerarmos a inflação acumulada em 12 meses, verifica-se que em março (época do terrorismo do tomate) a taxa estava em 6,59%, mas em agosto fechou em 6,09%. Ou seja, a inflação está caindo e existe a tendência de cair ainda mais até o final do ano. Onde está então o descontrole?
É possível que o leitor argumente que a inflação só baixou por conta do aumento da taxa de juros, afinal foi pra isso que o Banco Central subiu a SELIC, certo? O problema é que o conjunto de preços que estão baixando, e fazendo o IPCA cair, não é afetado diretamente pela variação da taxa de juros. Um exemplo disso são os alimentos, cujos preços têm caído bastante.
Vamos entender isso melhor. Quando o Banco Central eleva os juros, o “custo do dinheiro” fica mais caro. Uma das consequências mais diretas disso é que fica mais caro comprar a prazo, pegar dinheiro emprestado ou, como é comum no Brasil, comprar parcelado. Por conta disso, as pessoas acabam comprando menos, a procura pelos produtos cai, sobram produtos no mercado e o preço acaba caindo. No caso dos alimentos, contudo, isso não acontece, afinal, as pessoas não comem menos porque os juros subiram e também não costumam comprar alimentos no crediário parcelado. Os preços dos alimentos caíram porque foi superado o choque de oferta climático do início do ano e, também por conta da política de exoneração da cesta básica encampada pelo governo federal, o que não tem absolutamente nada a ver com juros mais altos.
A conclusão, bastante óbvia, é que não era necessário aumentar os juros. Devido à sua natureza sazonal a inflação tenderia a baixar, como de fato baixou, e juros mais altos não trariam qualquer benefício. Aliás, como quem não ajuda acaba atrapalhando, o juro mais alto está contribuindo para empacar ainda mais a economia brasileira, cujo crescimento não deve ser superior a 2,5% em 2013.
O que talvez não seja tão óbvio é quem plantou o “tomate”, ou, para ser mais explicito, a quem interessa os juros elevados. Certamente os beneficiados não são os trabalhadores que só tem a perder com uma economia que segue se arrastando e perdendo seu potencial de geração de empregos. Juros altos só interessam à uma pequena parcela da população brasileira que concentra a maior parte da riqueza nacional. Interessam a um pequeno número de famílias que vive da renda paga pelos juros da dívida pública. Interessam ao capitalismo financeiro dos banqueiros que esterilizam o capital que poderia correr nas veias da economia, gerando riqueza e empregos. São estes senhores que, no Brasil agrário exportador descobriram um novo cultivo, quem planta tomate, colhe juros.