FONTE: JORNAL DA CIDADE - BAURU
Negociação foi retomada pelo Secretaria de Saúde do Estado como alternativa ao déficit de leitos em Bauru e região
Foram reabertas ontem as negociações entre a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e a reitoria da USP para que o anexo do Hospital do Centrinho, conhecido como “predião”, seja utilizado como hospital geral em alternativa ao déficit de leitos em Bauru. A ideia, porém, enfrenta resistências da diretoria da unidade especializada, que é referência internacional na reabilitação de anomalias craniofaciais.
Na tarde desta quarta-feira, David Uip, secretário empossado há dois meses, apresentou a proposta do governo em reunião com o reitor João Grandino Rodas. A assessoria de imprensa da USP, no entanto, não se posicionou sobre o assunto.
Essa não é a primeira vez que a discussão é feita. Em março de 2011, o prédio foi apontado como alternativa à extinção da Associação Hospitalar de Bauru (AHB), que gerenciava o já desmantelado Hospital de Base (HB).
A possibilidade foi descartada em outubro do ano passado, uma semana após o anúncio de que a Fundação para o Desenvolvimento Médico Hospitalar (Famesp) assumiria a unidade em crise.
Já foi cogitado também que o prédio poderia ser utilizado como hospital-escola para que atuassem residentes de possível Faculdade de Medicina, até então negociada com a USP. Atualmente, é mais provável que o curso seja viabilizado em Bauru pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A retomada
Em passagem por Bauru no dia 18 de outubro, o secretário estadual de Saúde, David Uip, anunciou que retomaria o diálogo junto à reitoria da USP por não concordar com a reforma do Hospital de Base, então prometida pelo governo com o objetivo de recuperar o número de leitos oferecidos antes do desmanche da unidade.
Na ocasião, ele informou que discutiria o assunto com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e defendeu a construção de um novo hospital geral na cidade, caso não prosperem as negociações em torno do novo prédio do Centrinho.
Uip autorizou, durante sua visita, a abertura imediata de 16 leitos de UTI e 10 clínicos no Hospital Estadual e outros 20 clínicos no Base.
O número, porém, não recupera a operacionalidade do HB antes da crise. Na unidade, já funcionaram 200 leitos. Atualmente, são apenas 120, embora este número já tenha chegado a 70 ao final de 2012.
Ampla discussão
Defensor da proposta de transformar o novo prédio do Centrinho em hospital geral na primeira vez em que o Estado apresentou a ideia a USP, o deputado estadual Pedro Tobias (PSDB) acredita que o plano é bom, mas argumenta que os planos que a unidade especializada possuem para o local precisam ser considerados.
“É difícil falar por cima. Precisamos de uma ampla discussão. Se estiver sobrando espaço, acho uma boa que parte dele seja cedida para os atendimentos gerais. Mas o Centrinho pode já ter uma destinação certa para aquela estrutura”, pondera.
Ocupação
Desde novembro de 2012, funciona no primeiro andar do “predião” o setor de implante coclear, com exceção do procedimento cirúrgico. Neste ano, o almoxarifado e o laboratório de citogenética também passaram a funcionar no local.
Para o final deste mês, está prevista a transferência para a nova unidade da estrutura de atendimentos ambulatoriais de casos novos e de internação da área de anomalias craniofaciais. Esses serviços devem ocupar o segundo pavimento do prédio.
Após a execução das obras e a aquisição de equipamentos, os terceiro, quarto e quinto andares devem abrigar enfermarias de internação, com oito salas em cada pavimento.
No sexto andar, serão 28 apartamentos, sendo dois de isolamento, para internações individuais.
De acordo com o plano do Centrinho, o sétimo andar será voltado para os laboratórios de genética, citogenética, análises clínicas e pós-graduação.
No oitavo, ficarão as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com 32 leitos. E, no nono, centro cirúrgico, com oito salas cirúrgicas, 14 leitos pré-anestésicos e 24 pós-anestésicos. O décimo andar será dedicado à esterilização.
Diretora é contra
A construção do “predião” do Centrinho teve início em 1990 e até agora o primeiro e o segundo dos 11 pavimentos do local já estão ocupados. Apesar disso, a superintendente do hospital, Regina Amantini, diz ser contrária à proposta de que leitos da unidade recebem pacientes de casos gerais, como propõe o governo do Estado.
Segundo ela, o prédio, que fica próximo ao parque Vitória Régia, foi concebido como um anexo do Centrinho. “Lá não existem áreas de apoio que são essenciais a um hospital, como salas para o setor administrativo e financeiro. Temos um plano de ocupação que teve início no fim do ano passado e temos recebido o apoio da USP para darmos continuidade a isso”, argumenta.
Regina admite, porém, que para a ocupação completa o prédio depende de investimentos em adequações, como as reformas dos banheiros e a construção dos itens que garantam acessibilidade. A unidade também não dispõe de cozinha.
A partir do terceiro andar, o local também precisa do cabeamento para computadores, telefonia e refrigeração central. A superintendente estima que a ocupação do prédio será viabilizada em 2014. Para isso, a USP disponibilizou R$ 5 milhões para novas obras e R$ 27 milhões para equipamentos. A construção do prédio custou R$ 26,5 milhões, R$ 16 milhões custeados pela USP e R$ 10,5 milhões pelo Estado.