Movimento sindical encara novos desafios para manter retomada
O período positivo da economia brasileira de 2004 a 2008 criou um cenário favorável ao movimento sindical, que recuperou conquistas para os trabalhadores e ganhou representatividade maior no País. A avaliação é da economista Eliana Elias, supervisora técnica do Dieese (SP). Ela foi uma das palestrantes do dia 25 no XIV Encontro de Dirigentes Sindicais e Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo, realizado em Praia Grande.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) disse que o Brasil teve ganhos advindos da economia aquecida, como redução do desemprego, renda maior para os trabalhadores e baixa inflação. “Tivemos um cenário inédito. A questão é saber se vai ter continuidade?”, questiona, tendo em vista a crise internacional iniciada em 2008 e os solavancos vividos pelo País desde então.
O Brasil ainda resistiu bem à crise em 2009 e 2010, com economia favorável e democracia convivendo juntas, um caso raro em mais de 30 anos de movimento sindical. Agora, Eliana diz que é chegada a hora de o movimento sindical repensar uma nova agenda, num momento em que o setor de serviços ganha espaço. Quais as perspectivas para o sindicalismo?
“Desde 2004, a gente vê uma ampliação do setor de serviços, inclusive com geração de empregos na saúde”, diz a economista do Dieese. O sindicalismo, segundo ela, aproveitou-se do momento e conseguiu ganhos reais para as categorias. Pesquisa do Dieese mostra que em 2011, 86% das categorias profissionais conquistaram aumento salarial acima da inflação – no setor de saúde 72% das negociações tiveram ganhos reais nos últimos três anos.
Bandeira de luta -Ela lembra que a bandeira de luta dos sindicatos a partir dos anos 70 sempre focou no combate à carestia e pela liberdade política. Esse ciclo, diz, chegou ao fim com o fim da inflação e a chegada de um sindicalista à Presidência. Agora, um novo ciclo se inicia?
Qual será a atuação do movimento sindical a partir de agora? A economista lembra que é difícil buscar um consenso, tendo em vista a heterogeneidade dos sindicatos, mas mostra alguns caminhos: combater a desigualdade social, que ainda persiste; lutar contra a transformação do mercado (terceirização e precarização das relações de trabalho), defender a melhora dos serviços públicos (saúde, educação...).
Rotatividade - O sindicalista Pedro Tolentino, de Marília, que representa a Federação dos Trabalhadores da Saúde no Dieese (é diretor sindical regional), compôs a mesa de debate e chamou atenção para a questão da rotatividade de mão de obra no setor de saúde. Apresentou números apontando que 70% dos desligamentos em hospitais são de trabalhadores com menos de um ano de registro em carteira.
Tolentino diz que uma das lutas do sindicalismo é contra essa rotatividade absurda. “É uma forma perversa de baixar salários e não permitir a qualificação do trabalhador”, lamenta. Ele também lembrou que a Federação da Saúde encampa movimento para que o setor também tenha participação nos lucros e resultados (PLR), da mesma forma que o que ocorre em indústrias.
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